(continuação deste post)
"vítimas do próprio veneno que destilavam" |
Afinal, não se podem esperar atos de renúncia altruísta das pessoas dominadas pelo fetichismo da mercadoria.
Somente a sociedade civil, movida por um processo de conscientização social disseminado de fora pra dentro da estrutura de poder, negando-o, é o que pode mudar a rota de colisão com o desastre ecológico anunciado.
Outro exemplo flagrante é a recusa de uma percentagem da população que se nega a tomar as vacinas contra a covid-19, prevenção profilática comprovadamente eficaz, fruto do sábio e heroico proceder dos cientistas que lutam silenciosamente contra a obtusidade irracional de negacionistas como os que compõem o governo trágico, genocida e terminal do Boçalnaro, o ignaro e com seus gurus de triste memória, alguns dos quais terminaram vítimas do próprio veneno que destilavam.
A variante ômicron do coronavirus, embora tenha uma capacidade de propagação maior que as anteriores, a ponto de lotar unidades hospitalares e postos de saúde, não tem o grau de letalidade anterior; isto se deve ao fato de que as vacinas, comprovadamente, abrandam a sua capacidade de levar os contaminados aos óbitos.
Somente se pode atribuir a insanidade desses segmentos à existência de um torpor irracional coletivamente localizado, regidos diretamente ou com subterfúgios e sinais contrários pela cúpula governamental dirigente, que promove a propagação de ideias falaciosas e deduções equivocadas contra as vacinas, aos invés de apoiá-las como políticas públicas de urgência.
Mas não é apenas no segmento militar belicista, ecológico ou medico-científico que se pode observar a existência de um certo torpor irracional coletivo, pois a irracionalidade também se evidencia no campo financeiro.
"irracionalismo que evidenciar-se-á como inconsistente" |
A primeira delas é a de aceitar-se inquestionavelmente como válido o valor das moedas fiduciárias como representação fidedigna do dito cujo.
A moeda, ou padrão monetário, é (ou deve ser) a representação numérica da abstração valor, o qual, por sua vez é a corporificação do tempo-valor na produção de mercadorias.
A mercadoria dinheiro fora da representação do valor, ou do tempo-valor (valor médio de hora de trabalho abstrato na produção de mercadorias decorrente da massa global de valor produzido), é fake news.
Donde se depreende que a emissão de moeda sem lastro no tempo-valor, como ora ocorre com as moedas mais fortes em circulação no mundo (o dólar dos EUA, o euro da União Europeia e o yuan chinês), representa um artificialismo fiduciário que, num determinado momento histórico evidenciar-se-á como inconsistente.
Será o momento da grande ruptura com o modo de mediação milenar que vem se desenvolvendo e se estruturando sob a forma-valor desde o seu embrião ungido pelo escambo, a troca quantificada pelo tempo médio de trabalho hipostasiado (incorporado) na forma-mercadoria.
Um saco de trigo vai continuar sendo um saco de trigo até o final dos tempos, e terá preservado o seu valor como algo capaz de suprir necessidade humana e animal de consumo graças à sua natureza de alimento; mas não como valor monetário.
Mas, um saco de trigo tende a desaparecer como mercadoria, como algo capaz de ser trocado pelo critério do valor monetário (a compra e venda), simplesmente porque já não mais existirá mercado, mercadoria e padrão monetário num futuro determinado.
Ora, se as moedas oficiais se constituem, atualmente, em fake news, o que dizer das criptomoedas?
Afinal, elas nada mais são do que uma cesta destas moedas oficiais, unificadas num fundo numericamente preestabelecido e definido no mercado de compra e venda pelo valor na moeda universal (o dólar ou qualquer outra) que se autovaloriza pela lei da oferta e da procura dela mesma, sem produzir riqueza abstrata representada por novas mercadorias produzidas, mas que tão-somente, e temporariamente, se tornam capazes de comprar as mercadorias do sistema que as produz?
Tal validade somente continuará produzindo efeitos até o momento em que se evidenciar a sua inconsistência do tempo-valor de trabalho abstrato nelas inexistente. Neste momento, que há de ocorrer mais dia, menos dia, todo o edifício erigido em torno das criptomoedas ruirá como um castelo de cartas.
É impossível não considerarmos como um torpor irracional coletivo a eleição em 2018 de um candidato:
— que, como parlamentar, somente defendeu interesses salariais corporativos, sem considerar o todo da população que representava;
— que exaltou torturadores e assassinos de presos políticos que estavam sob sua guarda; — que fez propaganda das armas como símbolo de campanha, jamais questionando as causas primárias da violência urbana;
— que afirmou querer matar presidentes (FHC e Dilma);
— que tramou a explosão da represa do Guandu, cujo resultado seria a morte de milhares de pessoas e o desabastecimento da população, sendo por isto obrigado a pedir baixa do Exército, opção que lhe ofereceram como alternativa a punições mais desonrosas;
— que ofendia as mulheres parlamentares e os parlamentares gays;
— que jamais apresentou projeto de lei em benefício da população, etc.
Dalton Rosado |
Vale ainda lembrarmos a irracionalidade do trânsito nas grandes metrópoles, já abordada neste outro artigo, como mais um exemplo do torpor irracional coletivo; e o fazemos como um esforço de conscientização de que devemos ter muito cuidado com o que a sociedade admite como necessário, bom ou permanente, aí incluída a bestialidade da guerra.
Assim, a crença de que há democracia por intermédio das eleições burguesas é apenas mais um sintoma de que o torpor da irracionalidade coletiva grassa e se alastra tal como fogo nos desmatamentos da Amazônia.
Um comentário:
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A verve da sua produção textual entusiasma.
Como não concordar com suas ideias?
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Ocorre que nós caboclos sempre examinamos detidamente ideias, atitudes, propostas, soluções, regras et alli.
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É o "seguro morreu de velho, desconfiado ainda vive"... presente nos genes de nordestinos, tropeiros e sobreviventes a tudo, durante milhares de anos.
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Examinemos, pois.
"Somente a sociedade civil (...)é o que pode mudar a rota de colisão com o desastre ecológico anunciado".(3º parágrafo do seu texto)
Não sei o que me faz desconfiar de afirmações peremptórias em um discurso contendo ameaça... quer dizer, sei, mas não direi.
Sakarov disse e acabou na Sibéria.
...
Ah! O negacionismo contra o protocolo blockchain.
Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System" (Bitcoin: um sistema de
dinheiro eletrônico peer-to-peer) - publicado em 31 de outubro de 2008 -
descreveu um protocolo peer-to-peer (ponto a ponto) descentralizado e à prova
de adulteração que poderia rastrear e verificar transações digitais, impedir
gastos duplos e gerar um registro transparente para qualquer um inspecionar
quase em tempo real.(...)
Esse sistema continha a possibilidade de tornar desnecessária a utilização de
intermediários, como bancos e instituições financeiras, para facilitar e
auditar transações - uma grande disrupção em um campo monopolizado e isolado de
poder financeiro centralizado.(Huillet, Marie - in cointelegraph,com.br)
ou este mais bombástico...
Um espectro está assombrando o mundo moderno, o espectro da anarquia
criptográfica.(May, Timothy C, O Manifesto Criptoanarquista, 1988)
A tecnologia para esta revolução - e certamente será uma revolução social e
econômica - existe em teoria na última década. Os métodos são baseados em
criptografia de chave pública, sistemas de prova interativa de conhecimento
zero e vários protocolos de software para interação, autenticação e
verificação.
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É falácia comum afirmar que o btc valorizou-se em relação ao dólar.
O que ocorreu foi a desvalorização do dóla, e da burocracia do estado nação emissor desta moeda, em relação a esta cripto moeda, que cumpre (mesmo) o papel de abstração de valor para mediar as transações econômicas.
Coisa que nunca foi feita pelas moedas fiduciárias, ou sequer pelo padrão ouro.
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Está claro que não se trata de comprar bitcoin, ou quaisquer outras criptos, com moeda fiduciária.
Esse agonizante modo de tapeação dos mercados de opções binárias (forex) não tem futuro e é um bolha óbvia.
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Cumpre entender que a mediação social se dará através do protocolo blockchain (e seus bitcoins) na rede de computadores mundiais.
Simples assim.
A batida do bumbo mudou.
A dança é outra e as burocracias político-militares estão dançando fora do compasso e reclamando.
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Por fim, cumpre reconhecer que o projeto de classe da burguesia foi vencedor na sua época (Debord, Guy - A Sociedade do Espetáculo) e desenvolveu-se como cripto anarquismo.
Ou seja, Marx errou feio ao apostar no projeto de classe do proletariado, cujo desenvolvimento só foi até a ditadura da nomenklatura.
Mas acertou como filósofo da história.
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