sábado, 29 de janeiro de 2022

A REAL ALTERNATIVA AO RACISMO É A HUMANIDADE COMPARTILHADA

Wyatt Tee Walker, uma das mais destacadas vozes no combate ao racismo durante 6 décadas 
demétrio magnoli
IR MAIS FUNDO QUE A RAÇA
"Hoje, incontáveis remédios [como a Teoria Crítica da Raça, a abordagem pós-marxista e pós-moderna da moda que analisa a sociedade como estruturas de poder institucional de grupos] nos conduzem à direção errada: a separação até de crianças da escola elementar em categorias raciais explícitas, enfatizando diferenças ao invés de similaridades.

A resposta é ir mais fundo que a raça, que a renda, que a identidade étnica ou de gênero. Ensinar a nós mesmos a compreender cada pessoa não como símbolo de um grupo, mas como um indivíduo singular, especial, no contexto de uma humanidade compartilhada."

Calminha, sacerdotes iracundos da Igreja do Racialismo dos Últimos Dias. Esperem um instante antes de caluniar o autor do texto acima, rotulando-o como supremacista. 
Luther King e Tee Walker "fizeram 
os EUA andar para a frente"

Contenham-se, ativistas da
IRUD nas redes sociais. Não utilizem brankkko, o termo infame que aprenderam com seus sacerdotes a empregar, para associá-lo à Ku Klux Klan (e, quando descobrirem a cor da sua pele, abstenham-se da rotina de qualificá-lo como capataz da Casa-Grande). 

Aguardem, integrantes do grupo Jornalistas Pela Censura Virtuosa: evitem escrever um manifesto identificando suas palavras à negação do Holocausto.

O autor principal do trecho entre aspas é Wyatt Tee Walker, braço direito de Martin Luther King nos movimentos pelos direitos civis, organizador da campanha anti-segregacionista de Birmingham (1963), uma das mais destacadas vozes no combate ao racismo durante seis décadas. 

Quando Walker morreu, em 2018, aos 88 anos, Al Sharpton deu a notícia da seguinte forma: "Uma árvore imensa caiu". 

Sugiro que a IRUD e o Jornalistas pela Censura Virtuosa respeitem-no o suficiente para, ao menos, suportar a publicação de suas ideias.

As sentenças entre aspas estão no artigo A Light Shines in Harlem, de 2015, que celebrava os 16 anos da Escola Sisulu do Harlem, instituição público-privada voltada para alunos de baixa renda. Nele, Walker declarava sua rejeição às políticas identitárias racialistas.

Walker nunca abandonou a luta antirracista. 1999, ano da fundação de sua escola, começou com o assassinato do imigrante da Guiné Amadou Diallo pela polícia de Nova York. Então, o septuagenário Walker perfilou-se ao lado de Sharpton em manifestações de protesto em Wall Street e na ponte do Brooklyn. 

Ele abominava a ideia de classificar jovens estudantes segundo o critério da raça exatamente porque sabia identificar o inimigo.

Um relatório de 1964 da comissão legislativa do Alabama que investigava militantes dos direitos civis descreveu Walker como o verdadeiro líder do movimento negro. O líder intelectual era, claro, King:
"Eu tenho um sonho de que um dia, no Alabama, meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com meninos brancos e meninas brancas, como irmãs e irmãos"
Na linha deles, opino que:
1. O racismo, chaga comparável ao ódio étnico, à intolerância religiosa e à xenofobia, não se combate pela inscrição da raça na lei, pela separação das pessoas segundo a cor da pele, pela introdução de cotas raciais;
2. Combate-se o racismo indo mais fundo que a raça –isto é, afirmando nossa humanidade compartilhada. Por meio da aplicação das leis antirracistas, pela reforma da educação pública, pela reorganização radical da polícia, pela descriminalização das drogas leves, por legislações destinadas a reduzir a segregação espacial urbana.

King, Walker e Sharpton triunfaram falando em igualdade e união. Fizeram os EUA andar para a frente, conquistando as leis dos Direitos Civis e dos Direitos de VotoMais: empurraram o mundo adiante, enraizando o antirracismo nas consciências. 

IRUD, ao contrário, segmenta e separa. Breca o mundo ao dividir os antirracistas, conduzir operações de policiamento cultural e regar, entre brancos e negros, as sementes do racismo popular. (por Demétrio Magnoli)
TOQUE DO EDITOR – Até certo ponto concordo com o Magnoli: todos os movimentos que dividem as vítimas do capitalismo ao invés de uni-los contra a causa maior de suas agruras acabam ajudando a perpetuar a exploração do homem pelo homem.

Erram, p. ex., as feministas ao buscarem um empoderamento contra os homens, pois o verdadeiro inimigo das mulheres é uma forma de organização social que a todos infelicita e impede de se realizarem plenamente.

O mesmo raciocínio se aplica ao movimento negro, aos que lutam contra preconceitos sexuais e a uma infinidade de outros: avancem quanto avançarem, jamais conduzirão seus adeptos a uma existência à altura da dignidade humana.

O grande objetivo é a humanidade compartilhada de que fala o artigo do Magnoli, ou a fraternidade dos homens cantada por John Lennon. Que eu definiria como uma organização social cuja prioridade máxima seja a concretização do bem comum e da igualdade/solidariedade  entre todos os seres humanos do planeta.

E, para tanto, teremos de
ir mais fundo que Magnoli e Tee Walker: talvez a principal lição a extrairmos dos últimos séculos seja a de que o novo modelo de sociedade do qual carecemos desesperadamente (até mesmo para assegurarmos nossa sobrevivência enquanto espécie!) jamais será construído sob o primado da ganância e do privilégio de uns em detrimento dos outros.

Ou nos unimos para superar o capitalismo ou não haverá século 22. É simples assim
.
(CL) 

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