sexta-feira, 5 de novembro de 2021

PEC DOS PRECATÓRIOS: SE DER CARA, O BOZO PERDE; SE DER COROA, PERDE O BOZO

A
espetacularização do noticiário político se constitui numa das pragas da imprensa atual, pois qualquer factoide é apresentado como uma shakespeariana tempestade de som e fúria, de forma a manter os otários comprando/assinando os produtos da indústria cultural e acreditando que os três Poderes tenham o peso decisório que há muito perderam, satelizados que foram pelo poder econômico.

A novela do calote nos precatórios é uma dessas tempestades – e bem no estilo daquela fala sempre lembrada da peça Macbeth, pois significa nada.

O Bozo quer obter uma licença para dar pedalada fiscal bem pior do que a utilizada como justificativa legal para o impeachment da Dilma. 

Com isto, pretende lançar um auxílio Brasil escrachadamente eleitoreiro, porque tem desde já data marcada para o fim do seu pagamento: 31 de dezembro de 2022. Acredita o palhaço sinistro que, assim, poderá comprar o voto dos eleitores  para se reeleger.

Se tal rombo no teto dos gastos for consentido, não passará de uma mágica besta para os propósitos do pária internacional, já que a insegurança econômica vai fazer disparar a inflação e investidores se dirigirem para outra freguesia, temerosos de sofrerem confiscos. 

Ou seja, o Bozo perde se não receber sinal verde (outra derrota para a coleção!) e perde se o receber, pois a debacle econômica fará seu prestígio despencar para profundezas abissais. Quem tem algo a ganhar são os políticos que, apoiando tal PEC, receberão os estímulos de sempre, além de muita grana para torrar na campanha eleitoral. 

Não tivesse o histrião sido, durante a covid, o grande responsável pela maior matança de brasileiros em todos os tempos (algo entre três e quatro centenas de milhares de óbitos evitáveis), poderíamos ter até pena de alguém tão idiota a ponto de não perceber a direção dos ventos após quase 33 anos parasitando o Legislativo e o Executivo.

Passa batido pelo que até as emas palacianas já perceberam: a chance de reeleição dele hoje é exatamente zero; e a chance de salvar-se com um golpe de estado só pode ser mensurada em números negativos.

Zumbi que se arrasta pelo Brasil e pelo mundo com uma faixa presidencial fedendo a podridão –Que vergonha! Que nojo!–, ele ainda não percebeu que seu lugar é mesmo jogando conversa fora  com os garçons enquanto os presidentes de verdade tratam de assuntos sérios.

Certifico e dou fé que, caso ele não seja afastado antes da presidência por alguma das centenas de razões existentes e suficientes (insanidade mental é a mais óbvia de todas!), ele estará, no 2º turno de 2022... assistindo pela TV à disputa entre Lula e Sérgio Moro e, se tiver um rompante de lucidez, fazendo as malas para embarcar rumo a algum país que não extradite criminosos contra a humanidade ou genocidas. Na dúvida sobre a qual categoria ele pertence, crave ambas as opções...

Pois a tal disputa pelo direito de enfrentar Lula (se, repito, não houver alguma surpresa até a eleição) também já acabou: as altas cúpulas militares já decidiram, logo os donos do PIB engrossarão o bloco, vão apostar suas fichas em Sérgio Moro, um direitista que andou contornando a Constituição para encarcerar o Lula, mas sabe usar os talheres corretos e não cometeria suicídio político sabotando vacinação em plena pandemia. 

Já perceberam que ultradireitistas fanáticos e delirantes não lhes servem porque se desconstroem sozinhos. Então, desta vez recorrerão a um personagem ladino que, faça o que fizer, sempre o fará racionalmente, para atingir os objetivos que almeja com os recursos de que dispõe. 

E quanto a nós, que evidentemente não queremos o Moro e sabemos que, no frigir dos ovos, o colossal poder de manipulação da indústria cultural prevalecerá novamente, como em 1989?

Só nos resta procurarmos um candidato que realmente personifique uma alternativa ao sistema dominante, não servindo apenas para dourar a pílula da exploração do homem pelo homem.

Ainda dá tempo. Os poderosos deixaram o Lula ir até onde está agora porque lhes convinha tornar evidente que o Bozo no 2º turno pavimentaria o caminho para a eleição do ex-metalúrgico, invertendo a equação de 2018.

Tal objetivo já foi plenamente alcançado, tendo o bufão derretido em definitivo. Tão logo o Moro seja sacramentado como candidato, a segunda fase começará: desconstruir outra vez o Lula, o que é bem mais fácil, dado o seu alto índice de rejeição.

É hora de pensarmos num candidato de esquerda que não tenha tal âncora o arrastando para o fundo do poço e possa sensibilizar um eleitorado cansado de estar sempre escolhendo entre as duas faces da moeda capitalista. (por Celso Lungaretti)   

2 comentários:

SF disse...

Celso de Deus!
Você tem noção do valor de uma análise dessas?!
E por essa e outras que leio o Náufrago.

celsolungaretti disse...

Não faria sentido eu, aos 71 anos, continuar escrevendo apenas para receber aplauso fácil. Persevero porque acredito que haja coisas importantes a serem ditas e que a grande maioria dos comentaristas políticos prefere manter-se no terreno seguro do "mais do mesmo".

E o pior é que os leitores estão também viciados nos enfoques com profundidade de poça d'água, então eu noto que não sou uma unanimidade nem mesmo cá no blog. Eu diria que sou antes uma "curiosidade", porque percorro caminhos diferentes dos habituais.

É gratificante constatar que algumas sementes plantadas por este blog frutificam. Nos dá ânimo para perseverarmos.

Um forte abraço, companheiro!


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