sábado, 2 de outubro de 2021

É PRECISO DESBOLSONARIZAR O BRASIL

V
ivemos um pesadelo. 

É difícil encontrar uma resposta para dar conta do que estamos vivendo. A cada dia somos surpreendidos por uma ação que imaginávamos superadas. Ou seja, acreditávamos que os mais de 30 anos de vida plenamente democrática teriam edificado uma sólida cultura democrática. Ledo engano. 

A atividade cotidiana dos nazifascistas bolsonaristas, a defesa enfática de crimes contra a humanidade cometidos pelo governo federal, a indiferença frente ao morticínio de 600 mil brasileiros e os ataques ao Estado Democrático de Direito apresentam o Brasil real, muito diferente daquele que se supunha existir após tantos anos de luta pelas liberdades democráticas. 

A aparência democrática escondia uma essência reacionária, que aguardava o momento adequado para emergir depois de anos de espera. 

Se é possível encontrar algo de positivo na tragédia que estamos vivendo, é justamente a necessidade de transformar a construção da democracia numa tarefa permanente. Será fundamental desbolsonarizar o Brasil. E o caminho passa: 
— pela escola –na qual a Constituição deveria ser ensinada e discutida;
— pela reforma democrática do aparelho de Estado;
— pela redefinição na concessão pública de rádio e televisão;
— pelas Forças Armadas alterando os currículos, o rito das promoções e o seu papel na defesa nacional; e
— pelo crescimento econômico sustentável que dê esperanças de uma vida melhor.

O futuro não pode ser apresentado como uma versão piorada do presente. 

Quando assistimos à CPI da Pandemia, vemos que o Brasil real é o Brasil do horror. Chama a atenção a tranquilidade tanto de senadores, como de depoentes, na defesa do genocídio. 

Não é possível imputar apenas ao interesse político, em obter benesses governamentais ou porque estão pensando nas eleições do ano que vem. Não. Há uma real identificação com o negacionismo nazifascista bolsonarista. 

A bancada da Beócia na CPI é medíocre. Até aí não seria um problema. Mas eles são muito mais que medíocres: coonestam o genocídio entusiasticamente e com o apoio dos seus eleitores. 
O cinismo de uma fração da elite é patente. É difícil ter uma única explicação. Se for para o campo exclusivamente econômico é possível encontrar a resposta na intensificação do processo de concentração de renda durante a pandemia. Por mais estranho que pareça, em pleno morticínio, cresceu o número de milionários brasileiros. 

Mas não só dela. As classes médias, sempre temerosas de perder o status, não observaram que a crise poderia ser um momento de redefinir seu papel na sociedade, principalmente num país que perdeu a capacidade de crescer e gerar amplas possibilidades de mobilidade social. Porém, assistiu passivamente a tragédia, inerte, sem capacidade de reação política. 

O Brasil da terceira década do século 21 é um desconhecido. As consagradas interpretações produzidas nos anos 1930-1970 por Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Raymundo Faoro e Florestan Fernandes já não dão conta da complexidade da sociedade. 

As grandes regiões metropolitanas com seus milhões de habitantes sobrevivendo em precárias condições, sem perspectiva de um futuro melhor, em meio à violência cotidiana, distantes do mercado formal de trabalho, sem a qualificação necessária para se adaptar aos novos processos da nova revolução tecnológica, com famílias desestruturadas, são os párias da contemporaneidade. 

O bolsonarismo é produto de um país que perdeu o rumo. Se entre os anos 1930-1980 o Brasil foi o país que mais cresceu no mundo ocidental, as quatro últimas décadas foram perdidas 
ou mal aproveitadas, mesmo quando a conjuntura econômica internacional foi favorável, como nos primeiros anos do século 21. A sucessão de fracassos abriu o caminho político para o extremismo tomar o poder. 

Num momento de crescimento econômico, de mobilidade social e de funcionamento adequado das instituições, o extremismo bolsonarista seria ridicularizado e não transformado em alternativa de poder. 

Desbolsonarizar o Brasil é indispensável. Não é um processo fácil, mas tem de ter um ponto de partida. 

O processo eleitoral de 2022 poderá ser o momento de repensar o Brasil. Mas com Bolsonaro na Presidência e, pior, como candidato à reeleição, isso não vai ocorrer. (por Marco Antônio Villa)

2 comentários:

Anônimo disse...

Melhor dizendo, 'Vivemos O pesadelo!'
A meu ver pior que a ditadura. Agora é o povo torturado e o mundo vê on-line
https://www.theguardian.com/international Manchetes

https://www.theguardian.com/world/2021/oct/03/outcry-in-brazil-over-photos-of-people-scavenging-through-animal-carcasses

https://www.theguardian.com/world/2021/oct/02/mass-protests-in-brazil-call-for-bolsonaros-impeachment

Anônimo disse...

La Stampa, em geral, cobra assinatura. Para esta matéria não

Brasiliani in cerca cibo fra le carcasse di animali, le foto choc diventano simbolo dell’estrema povertà creata dal Covid
https://www.lastampa.it/esteri/2021/10/03/news/brasiliani-in-cerca-cibo-fra-le-carcasse-di-animali-le-foto-choc-diventano-simbolo-dell-estrema-poverta-creata-dal-covid-1.40769399

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