segunda-feira, 27 de setembro de 2021

POR QUE ALGUNS OPRIMIDOS REPETEM AS TESES DESUMANAS DO ENERGÚMENO QUE VIROU MICO E SUA TRUPE DE FARSANTES?/1

dalton rosado
DIÁLOGO SOBRE CONCEITOS EQUIVOCADOS
P
eguei um Uber e logo fui instado a conversar com o falante e provocador condutor do veículo, que desde o início deu vazão à sua vontade de expor seu pensamento sobre questões sociais sob o prisma conservador.

A partir de situações particulares e pontuais, fazendo generalizações inadequadas e (a meu ver) equivocadas, passou a explanar sobre seus conceitos. 

Como a viagem era longa, deu tempo para trocarmos ideias, até porque gosto de ouvir o que parte do senso popular admite como verdade.

De pronto começou a criticar os Conselhos Tutelares por punir os pais que deixam os seus filhos menores de idade trabalharem, argumentando que o trabalho de menores é edificante e instrutivo, na linha do que dissera algum tempo atrás o presidente Boçalnaro, o ignaro.

Note-se que, por ser um trabalhador de Uber (não cheguei a perguntar se era o dono do veículo ou trabalhava para o proprietário), ficou evidente que se tratava de mais uma situação na qual o oprimido defende as teses do opressor.  

Acostumei-me a contraditar tais argumentos respeitando as opiniões alheias, até para que as minhas sejam também respeitadas. Isto não significa aceitar o errado como certo, mesmo admitindo que não sou o dono da verdade, podendo estar errado, mesmo porque toda verdade é relativa.

Argumentei que, diante do desemprego estrutural que estamos vivendo, com o capital demitindo trabalhadores e forçando os ainda empregados a aceitarem que não sejam compensadas as perdas salariais decorrentes do crescente processo inflacionário, bem como a supressão de direitos trabalhistas, seria muito conveniente usar a mão-de-obra infantil ou pré-adolescente, objetivando a maximização dos lucros. 

Ele contra-argumentou que o certo seria trabalhar por meio período e estudar no tempo restante, pois assim aprenderia um ofício, disciplina e responsabilidade com o dinheiro. 

A conversa se prolongou e eu, como sempre nesses casos, evitei ofender o interlocutor no campo pessoal, não especulando sobre os motivos de suas preferências, pois entendo que o oprimido é educado para introjetar na sua mente como correta a opressão que sobre ele é exercida, devendo, portanto, apenas ser alertado (para o caso de querer aprender). 

Nem sequer cheguei a arguir a tese de que o próprio trabalho dos adultos é fonte da opressão social que também o vitima, porque isto tomaria tempo e era de uma complexidade imprópria para o momento. 
Pensando em terminar a conversa, argumentei que toda criança merece e deve ter direito a:
— tempo livre para lazer;
— uma boa educação familiar e escolar (em sentido diferente de muitos conceitos expressos na atual grade curricular); e
— condições de vida dignas (habitação, alimentação, saúde, segurança, etc.), algo que, sob o regime da exploração do homem pelo homem, não é oferecido à grande maioria da população. 

Para minha surpresa, o motorista sacou outro argumento conservador, reafirmando em mim a certeza de sua incapacidade de pensar coletivamente e de tomar consciência da realidade social opressora, aferrando-se, então, a conceitos particularizados e equivocados.

Reafirmando a crença na prosperidade pelo trabalho, ele disse que era contra o seu próprio pai (membro do MST que vive num assentamento), pois não era justo tomar a propriedade de quem passara anos trabalhando para ter aquele patrimônio e depois o via dividido com quem não fizera esforço algum para ter a terra. 

Mais uma vez me esforcei para manter um bom nível de cordialidade argumentativa, apesar do meu espanto com a postura de aceitação por parte dele de raciocínios opressores do seu próprio pai, que justificam a injustiça em nome de uma pretensa justiça que é, por essência, excludente. 

Perguntei de quanto era a área na qual estava assentado o seu pai, e ele me respondeu: cerca de 20.000 m², ou dois hectares.

Informei que só um grande latifundiário rural que eu conhecia (e não são poucos os iguais a ele, neste país de vastidões territoriais férteis mas improdutivas) não só possuía muitas propriedades, como somente uma delas totalizava uns 2.700 hectares; mesmo assim e apesar de por ela passar um rio perene, estava inativa, pois se destinava à especulação fundiária. 

Acrescentei, sem mais perguntas, ser injusto, num país com mais de 14 milhões de desempregados (afora tantos outros que já saíram das estatísticas), não existirem terras para serem exploradas por quem nelas quisesse trabalhar; e que imaginava a dificuldade que seu pai enfrentava para tirar o sustento familiar de uma pequena propriedade. (por Dalton Rosado)
(continua neste post)
Gomes Brasil interpreta a canção composta por Dalton Rosado 
para homenagear Rosa Parks, ativista dos direitos civis
que foi símbolo da luta contra o racismo nos EUA

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