dalton rosado
UMA DÍVIDA IMPAGÁVEL
"O Brasil não pagará a dívida externa nem com a recessão,
nem com o desemprego, nem com a fome. Ao pagar a
conta com estes altos custos sociais e econômicos,
teríamos em seguida de abdicar da liberdade,
porque um débito pago com a miséria é
conta paga com a democracia"
(presidente José Sarney ao
discursar na ONU em 1985)
De tão grave, a questão da dívida pública e dos seus altos juros é escondida da população, que sequer sabe o custo individual e social da dita cuja.
O presidente Sarney, apesar do tom eloquente de seu discurso acima citado, teve de ceder à lógica do capital internacional opressor e rolou a dívida com juros exorbitantes.
É necessário coragem e desapego ao poder político para denunciar tais amarras e se sublevar contra a infâmia do capital. Os políticos não podem renunciar àquilo de que eles mesmos dependem: o jogo político.
Manda quem pode, obedece quem não tem juízo. Após a 1ª Guerra Mundial, as nações aliadas impuseram à derrotada Alemanha um termo draconiano de armistício, que levou o povo alemão à penúria nos anos seguintes.
Só em 1923 a inflação da moeda alemã atingiu 29.500%; um pão que custava 250 marcos em janeiro, passou a custar 800 milhões em novembro daquele ano. Todos sabemos que inflação representa confisco brutal de salários de trabalhadores e miséria social.
Hiperinflação alemã: dinheiro sem valor deixou os cidadãos sem qualquer visão de futuro |
Foi com base no ódio social, em grande parte causado pelos sofrimentos da dívida pública anterior a Hitler, que se desencadeou seu antissemitismo, anticomunismo e a injustificada eclosão da 2ª Guerra Mundial.
Hitler afirmava que os generais do kaiser Guilherme haviam traído o seu povo ao aceitarem a rendição anterior; queria mostrar que com ele seria tudo diferente; vendia o resgate da honra germânica pretensamente manchada, bem como o resgate das áreas anexadas pelos países aliados (EUA, Inglaterra e França), em muitos casos retomando as que os alemães haviam obtido também por anexação ao vencerem a guerra franco-prussiana em 1871.
Foi o ódio puro, alicerçado sob uma real tirania usurária que havia sido imposta pelos vencedores à orgulhosa Alemanha do tirânico kaiser que forjou o falso salvador da pátria nazista.
A tirania econômica mundial capitalista foi a causa das duas guerras mundiais, tendo provocado o maior genocídio da história da humanidade; não podemos repetir tal abominação com novos e tirânicos pretensos salvadores da pátria.
Eram mentiras que apenas encobriam um desejo belicista militar de hegemonia econômica por parte de governantes que queriam sentir-se donos do mundo graças ao domínio científico das transformações tecnológicas dos inventos que passavam a influir na produção social mundial de mercadorias, reconfigurando a relação capitalista de produção de valor.
Vivíamos a era da segunda revolução industrial capitalista.
Tal reconfiguração das relações capitalistas foi possibilitada pelo surgimento:
— da energia elétrica;
— do motor a combustão fóssil;
— da telefonia avançada;
— das vacinas;
— dos automóveis e da aviação;
— do incremento de potentes instrumentos da morte, aí incluídas as abomináveis armas químicas;
— e de tantos outros ganhos científicos.
E açulou a tentativa de dominação nacionalista mundial, pari passu ao surgimento dos primeiros sintomas de desemprego estrutural.
Agora temos um cenário que em muito se parece (piorado) com aquele de cem anos atrás, mas piorado pelo agravamento das contradições da dinâmica do capital como modo de relação social.
E existem também duas diferenças marcantes:
— a capacidade bélica monstruosamente destrutiva, somada à penúria mundial derivada da incapacidade de geração de massa de valor capaz de recompor o universo de dívidas públicas e privadas, originárias de uma economia em franco processo de colapso; e
— uma pandemia que é tão devastadora quanto uma guerra convencional, ou mais ainda , porque não há prédios, estradas e pontes a serem reconstruídas pelo capital.
A crise da dívida pública e privada é endógena, porque sistêmica; e exógena, porque agravada por um inimigo silencioso e letal, o coronavírus, que expõe a visão utilitária e desumana do capital.
Tudo conspira contra o capitalismo, que se vê impotente diante do agravamento do desemprego estrutural por seus próprios fundamentos existenciais e consequente incapacidade de produção de valor sadio no nível exigido pela sua necessidade de contínua expansão, ou seja, de valor advindo da produção de mercadorias.
O mundo capitalista se sustenta na emissão de moedas podres que causam inflação e que apostam da retomada do desenvolvimento num futuro cuja realidade é a impossibilidade de equilíbrio das contas públicas e privadas.
Vivemos o auge das contradições vaticinadas por Karl Marx em sua crítica da economia política.(por Dalton Rosado – continua neste post)
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DALTON ROSADO CONTA TUDO NO
PROGRAMA QUESTÃO DE ORDEM
Nosso colaborador Dalton Rosado voltou à TV Assembleia/CE para falar não só sobre seu último lançamento literário (Era uma vez o Brasil... 1928/1968), mas também sobre toda sua trajetória política e musical – pois ele é também compositor, e dos bons!
Foi no último dia 16, com apresentação de Renato Abreu, no programa Questão de Ordem.. Assistam à entrevista, que vale muito a pena. E se quiserem saber mais sobre o livro, inclusive sobre como adquiri-lo no papel ou em e-Book, está tudo aqui.
2 comentários:
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,ministro-da-defesa-faz-ameaca-e-condiciona-eleicoes-de-2022-ao-voto-impresso,70003785916
https://www.theguardian.com/world/2021/jul/22/youtube-pulls-jair-bolsonaro-videos-for-covid-19-misinformation
https://brasil.elpais.com/cultura/2021-07-17/o-novo-fascismo-eterno.html
https://brasil.elpais.com/opiniao/2021-07-19/a-pena-de-morte-politica-para-bolsonaro.html
https://brasil.elpais.com/brasil/2021-07-13/uma-colisao-em-camera-lenta.html
https://brasil.elpais.com/brasil/2021-07-18/o-metodo-bolsonaro-um-assalto-a-democracia-em-camera-lenta.html
https://brasil.elpais.com/brasil/2021-07-21/guerra-politica-na-igreja-da-paz-a-perseguicao-ao-padre-lino-por-criticar-bolsonaro-em-missa.html
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