segunda-feira, 12 de abril de 2021

O CAPITAL É UM ASSASSINO IMPLACÁVEL

Quem matou quase 3 milhões de pessoas num espaço de um ano: o coronavírus ou o capitalismo? Inegavelmente, foi a conjunção dos dois fatores! 

É claro que uma pandemia, em qualquer modo de relação social, provoca muitos óbitos; mas, sob o capitalismo, as mortes se potencializam.

Calcula-se que uns 3,4 bilhões de pessoas, correspondendo a cerca de 45% da população mundial, já viviam com menos de US$ 5,5 (R$ 30) por dia antes da pandemia, escancarando o nível de pobreza dos excluídos do sistema. 

Como a pandemia acresceu cerca de meio bilhão de pessoas a tal estatística, agora são 52% da população mundial que vivem em estado de pobreza; e, tratando-se de um cálculo médio, estão dentre eles, portanto, os que vivem estado de miséria absoluta. 

Este último contingente deixou de ser interessante para o capitalismo simplesmente porque não produz valor, mas consome valor sem produzi-lo; representam um custo social para o Estado, cidadela armada por leis e armas do capitalismo.

Podemos então concluir que as milhões de mortes da crise sanitária têm, também, um sentido de assassinato premeditado de contingentes populacionais considerados descartáveis pela lógica insana e assassina do capital.

O vírus, não sendo seletivo, elimina igualmente membros da elite beneficiária de sua lógica social segregacionista, mesmo que estes tenham mais recursos e morram em menor percentagem, afinal nem tudo é perfeito...
Fica comprovado o acerto da avaliação de Robert Kurz, em
Dinheiro Sem Valor:
"Os sanguinários sacerdotes dos astecas eram inofensivos o amigáveis em comparação com os burocratas do sacrifício ao fetiche do capital global no [ao atingir] seu limite histórico".  
A falência do Estado já ocorre por conta da necessidade de cumprimento de suas obrigações teleológicas fundamentais. quais sejam:
 manutenção da cara estrutura institucional dos poderes da república (basta compararmos o salário de um magistrado brasileiro e o salário-mínimo de um trabalhador empregado) e das Forças Armadas;
 e gastos com infraestrutura de indução ao desenvolvimento econômico (estradas, pontes, energia, abastecimento de água, etc.) e financiamento e socorro empresarial estratégico em situações de crise financeira aguda (como na do subprime em 2008/2009 e, agora, na da pandemia com Joe Biden tirando trilhões de dólares da cartola mágica do Federal Reserve, o Banco Central deles).

As demandas sociais básicas atendidas (educação e saúde) representam, para o capital, as despesas secundárias que servem para dourar a pílula do discurso sobre a essencialidade do Estado; algo assim como os gastos com a funcionária que varre as dependências de uma indústria ou serve cafezinho, sem contribuir diretamente para a extração de mais-valia na produção de mercadorias. 

Para o capital, tais demandas sociais não passam de um mal necessário ou, dito de outra forma, são custos secundários que servem para a manutenção de um me-engana-que-eu-gosto que faz com que a população cada vez mais clame pela existência institucional, juntamente com o capital, daquilo que também a oprime: o Estado.  

A falência estatal generalizada decorre do descompasso entre a necessidade de cumprimento de suas funções acima elencadas, precipuamente capitalistas, e a depressão econômica causada pela dessubstancialização do valor decorrente da deterioração da massa global de acumulação real do capital
válido, advindo da produção de mercadorias, em face da obsolescência de sua substância vital: o trabalho abstrato.

A propriedade, medida monetariamente, é um acúmulo de horas de trabalho abstrato nela coagulado; e sem tal mensuração, como tudo tende a acontecer na atualidade, a propriedade nada mais é do que a representação moderna do absolutismo escravista antigo, sem escrúpulos de consciência. 

Ora, se o Estado depende da economia, de onde retira (sob a forma de impostos) recursos para o seu equilíbrio financeiro, e se essa economia roda em falso por força das contradições dos seus próprios fundamentos, o desequilíbrio, obviamente, se torna inevitável. Esta é a razão da falência estatal generalizada; não se trata de uma questão de boa ou má gestão financeira (a esquerda precisa compreender isto em seu afã de administrar politicamente o Estado). 

Como consequência desta realidade social na qual um modelo atingiu o estágio de falência, clamando pela sua superação, estamos num momento épico de embate entre o pensamento conservador capitalista (que quer se manter vivo a qualquer custo) e sua inviabilidade demonstrada pelo processo dialético social em constante movimento.

É exatamente neste embate que o capital se torna assassino.

Quando um governante insensível ao drama humano afirma vai morrer muita gente, e daí?, e propõe a imunização de rebanho como forma de superação da crise sanitária, mesmo sabendo que isto representaria a morte por contaminação de cerca de 3% da população mundial, ele está convergindo, mesmo que sua crassa ignorância o impeça de  saber isto, com a ideia da eliminação daquela parte da população que não produz valor, mas o consome. 

Mas o capital é uma lógica de relação social que apenas usa as pessoas e as mercadorias numa relação social reificada, o que reduz os seres humanos a agentes inconscientes e cegos em relação ao comando abstrato da forma-valor à qual obedecem, funcionando como carrascos executores de suas ordens insanas e assassinas. 

O coronavírus não foi previsto pelos que anunciavam um período de recessão mundial para 2020 (e que já havia ocorrido em 2019, quando o PIB mundial cresceu apenas 2,4%, o seu pior desempenho desde 2008); e veio de tal forma avassaladora que completou o quadro de uma crise conjuntural e estrutural impossível de ser resolvida sob os mesmos critérios anteriores (como o Plano Marshall, de socorro ás nações mais combalidas no pós-2ª Guerra Mundial).

Não será a injeção de dinheiro sem valor na economia, como está sendo proposto e efetivado por Joe Biden, que há de sanar o problema. Não se cura a doença com a causa de sua existência. 

O capital fictício a ser injetado na economia como forma de reavivá-la não ataca os fundamentos da debacle da própria economia. Não representa, portanto,  solução efetiva e duradoura, somente podendo ser implementada com sucesso temporário num país emissor da moeda internacional. 

Somente os critérios de uma produção e apropriação social dos bens e serviços produzidos socialmente, racionalmente distribuídos, aliados aos ganhos da ciência na profilaxia da pandemia, poderá reduzir a devastação do genocídio em curso, seja pelo aspecto do empobrecimento causado pelo limite interno de expansão capitalista, seja pela avanço surpreendente das infecções viróticas, inclusive com o surgimento de novas cepas cujos alcances vacinais ainda não são conhecidos.  

O capital é um assassino implacável. 

É por isto que eu escrevo este libelo acusatório do genocídio por ele patrocinado: evidentemente, vejo os defensores do capital como coautores dessa tragédia humanitária, sejam eles cidadãos civis ou políticos, juristas ou militares, trabalhadores incautos ou empresários de grande ou de pequeno porte.

Mesmo nos seus silêncios sepulcrais, as vítimas do coronavírus clamam contra o capital!

O capital é um assassino implacável e seus defensores estão no banco dos réus como coautores, independentemente da existência física desse júri que a consciência cívica nos impõe.
(por Dalton Rosado)

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