ricardo kotscho
NADA VAI MUDAR, NÃO VAI TER GOLPE:
MILITARES ENQUADRARAM O CAPITÃO
Resumo da ópera: sem conseguir enfrentar o avanço da pandemia, o capitão tentou arrastar as Forças Armadas para uma aventura golpista, mas ficou pendurado na broxa, ao inventar do nada uma crise militar para mudar de assunto.
Era só o que faltava na tragédia brasileira. Em poucas horas, os militares se reuniram e desmontaram a bomba-relógio armada por Bolsonaro ao demitir o ministro da Defesa. Desembarcaram do governo e enquadraram o presidente nos limites constitucionais.
Nada vai mudar com a troca dos comandantes. Não vai ter golpe nenhum. O tiro saiu pela culatra, garantiu-me ontem (31/03) à noite um respeitado general da reserva, contemporâneo dos novos chefes militares e dos 17 integrantes do Alto Comando do Exército.
A maior prova de que Bolsonaro não conseguiu levar adiante o plano de subordinar as Forças Armadas aos interesses do governo foi engolir a nomeação do general Paulo Sérgio Nogueira para o comando do Exército.
[Foi, aliás, o que ele voltou a fazer também ontem, num discurso sem pé nem cabeça em que parecia visivelmente alterado e abatido.]
Paulo Sergio é da mesma linha legalista do ex-comandante Edson Pujol, que o presidente queria demitir há tempos; contrariado por não ter sua vontade atendida, resolveu se livrar do ministro da Defesa para montar um esquema militar fiel à sua imagem e semelhança para implantar um regime de exceção no país.
Aconteceu exatamente o contrário: os militares das três Armas se uniram em torno dos seus chefes para garantir a independência das Forças Armadas na relação com o governo.
Prevaleceu nas nomeações o critério da antiguidade, imposto ao novo ministro da Defesa, Braga Netto, chamado de interventor de Bolsonaro, o que esvaziou a crise armada no horizonte.
Se Bolsonaro tentar uma nova investida, vai obter o mesmo resultado. Se pensar que vai ter os comandantes a seus pés, vai quebrar a cara. Além disso, a pressão da reserva é grande, disse-me o general.
Até agora, quatro dias após a eclosão da maior crise militar desde 1977, o capitão está tão perdido que ainda não se dignou a falar ao país sobre o que o levou a demitir o ministro da Defesa e os comandantes militares, que já tinham decidido renunciar a seus postos.
Isolado no bunker do Planalto, agora protegido apenas pelo Centrão, ao qual entregou as chaves do cofre para salvar os anéis e evitar o impeachment, um Bolsonaro menor e mais enfraquecido vai tentar arrastar a procissão pelos longos 650 dias que ainda tem de mandato, sem forças para chamar o meu Exército em caso de necessidade.
Mais do que dedicar todo seu tempo à campanha pela reeleição e à defesa dos filhos e dos acólitos, o presidente terá que começar a governar para não cair, algo quase impossível para quem nunca trabalhou na vida com carteira assinada e cartão de ponto, e está cercado de ministros medíocres.
Para quem passou toda a campanha eleitoral fugindo de debates, sem apresentar qualquer programa de governo, só fazendo ameaças e apontando arminha com os dedos, chegou a hora da verdade.
Tem cada vez mais gente morrendo sem assistência, não cabe mais ninguém nos cemitérios, e o capitão finge que não é com ele.
Esse pesadelo uma hora tem que acabar. Tudo que ter um limite, até a boçalidade. Chega!
Vida que segue. (por Ricardo Kotscho)
Nenhum comentário:
Postar um comentário