quarta-feira, 31 de março de 2021

AINDA SOBRE A (DES)ORDEM-DO-DIA QUE MANDOU CELEBRAREM A INFÂMIA

reinaldo azevedo
NOTA SOBRE 1964 PROVA QUE BOLSONARO É
INCAPAZ TAMBÉM COMO GOLPISTA. QUE BOM!
A
evidência de que Jair Bolsonaro quebrou a cara também como golpista da democracia –não me refiro a outros estelionatos– está na nota alusiva a 31 de março de 1964, assinada, desta feita, apenas pelo ministro da defesa, general Braga Netto. 

Em 2019 e 2020, a celebração do golpe trazia também as assinaturas dos respectivos comandantes das três Forças. Ocorre que, nesta terça (30), Edson Leal Pujol (Exército), Ilques Barbosa (Marinha) e Antônio Carlos Bermudes (Aeronáutica) estavam na condição de demissionários. 

É claro que é uma indignidade em si celebrar um movimento que rasgou a Constituição e instituiu uma ditadura no país sob o pretexto de preservar a democracia. Como costumo dizer, não se viu até agora tirania que se tenha imposto revelando seus reais propósitos. Todas elas apelam a valores elevados, escondendo suas mãos sujas de sangue. 

Não custa lembrar que, em seu preâmbulo, o AI-5 exalta um sistema jurídico e político que busca assegurar a autêntica ordem democrática, baseada na liberdade, no respeito à dignidade da pessoa humana". Sob a sua sombra, a canalha torturou e matou.

Sim, eu estava um tanto apreensivo com o que poderia sair da pena de Braga Netto, que resolveu se comportar como uma espécie de interventor de Jair Bolsonaro no alto-comando das três Forças. 

Acreditem: o que os próprios militares pensam a respeito de seu papel não é melhor do que pensa este articulista, que não é militar. E olhem que não pertenço a nenhuma corporação que tem a hierarquia como pilar. Mas volto à nota. 

Sim, é verdade, o texto de Braga Netto carrega a indecência inata de celebrar um golpe, chamado de movimento, mas é menos pretensioso e até mais manso do que aqueles que vieram à luz em 2019 e 2020... 

Mas que se note: não se vivia, então, uma efervescência golpista, e o presidente era mais discreto ao se comportar como as vivandeiras alvoroçadas que vão aos bivaques bulir com os granadeiros e provocar extravagâncias do Poder Militar, para lembrar a frase com que Castello Branco premiou o golpismo renitente no país. 

Desta feita, sim. Ainda nesta terça, em uma de suas extravagâncias, Bolsonaro apelou ao deputado Victor Hugo, líder do PSL na Câmara, para tentar emplacar o estado de mobilização, previsto no Inciso XIX do Artigo 84 da Constituição para a hipótese de haver uma declaração de guerra em caso de agressão estrangeira. 

A tese está à altura da estupidez bolsonariana: como o país está em guerra contra o vírus, então haveria a licença constitucional. 

Parece piada, mas é verdade. (por Reinaldo Azevedo)

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