rui martins QUANDO MALAFAIA DEDURA DEPUTADOS EVANGÉLICOS |
No catolicismo, o delator Judas sempre foi visto como vilão. Com os evangélicos será diferente? |
Segundo ele, essa prisão é uma ilegalidade, um ato inconstitucional cometido pelo Supremo Tribunal Federal. E o voto de certos deputados evangélicos teria demonstrado falta de espírito de justiça, de amor e de misericórdia. Para meia centena desses deputados, pouco havia adiantado um tweet que Salafaia lhes enviara, nos seguintes termos despóticos:
"Alerta à Frente Parlamentar Evangélica! Deputado evangélico que votar em favor dessa aberração jurídica de manter um deputado preso por suas falas, vou denunciar aos evangélicos, para nunca mais ser votado por nós".
Bonhoeffer: "grande cristão" |
Um ato de denúncia, como ele mesmo explicitou no seu tweet, para o qual se pode usar um sinônimo mais conhecido: deduragem. Tanto a ameaça como a denúncia não seriam os procedimentos mais indicados para um líder evangélico, porém não ocorre pela primeira vez.
Aqui mesmo, neste espaço, contei a comovente história de um grande cristão alemão na época do nazismo, cujo nome foi dado a escolas e instituições públicas depois da derrota do III Reich. Trata-se do pastor alemão Dietrich Bonhoeffer, denunciado pela Igreja Luterana da época por não aceitar o alinhamento com o nazismo. Foi preso e morreu na forca, pouco antes da derrota alemã.
E como o tema versa sobre pastores evangélicos denunciados, não poderia esquecer do presbítero presbiteriano Paulo Stuart Wright, denunciado em Curitiba, preso, torturado e assassinado durante a ditadura militar (que tantos desejam agora restabelecer sonhando com um novo golpe).
Sua história está contada no livro Brasil: Nunca Mais (projeto coletivo que teve seu irmão, o pastor presbiteriano Jaime Wright, como um dos coordenadores), provando o que nem sempre a igreja é um lugar seguro para os autênticos seguidores de Cristo.
Outro livro importante é Jaime Wright: o pastor dos torturados, de Derval Dasílio, mostrando como funcionava a repressão naquela época.
Dietrich Bonhoeffer e Paulo Stuart Wright são casos isolados, mas, ainda na história dos evangélicos em nosso país, podem-se citar casos de denúncias coletivas.
Logo depois do golpe militar de 1964, a Igreja Presbiteriana do Brasil, na qual havia um forte movimento de preocupação social, passou a ser dirigida pelo importante pastor conservador Boanerges Ribeiro, que provocou intervenções repressivas nos seminários e dentro das igrejas.
As denúncias corriam soltas e foram demitidos professores de seminário, acusados de esquerdistas e modernistas; pastores e, até mesmo presbíteros, diáconos e membros de igrejas, alguns com denúncias ao aparelho militar repressivo da época, como aconteceu com o irmão de Jaime Wright.
Muitos desses relatos estão noutro livro importante sobre os evangélicos em nosso país: Inquisição sem Fogueiras, 20 anos de história da Igreja Presbiteriana do Brasil – 1954 a 1974. Nele se contam as consequências funestas da adesão da direção da Igreja Presbiteriana ao golpe militar.
Denunciar e perseguir pastores e leigos evangélicos por suas ideias políticas não é novidade no Brasil. (por Rui Martins, no Observatório da Imprensa)
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