Expliquei-lhes que o nacionalismo militarista, patriótico, nada mais é do que a convicção dos militares crédulos (mesmo os bem intencionados) de que a defesa da pátria e dos interesses nacionais implicam o controle militar honesto da vida social e, principalmente, da economia e da gerência de empresas estatais por eles controladas.
Os militares desonestos (como aquele que levava cocaína em viagem do avião presidencial aos EUA) querem apenas o poder para se locupletarem; afinal, em todo grupamento humano, nas ações gerenciais de governo capitalista existem os inocentes eventualmente inúteis e os espertalhões invariavelmente inúteis. Não seria diferente com os militares.
Ainda no curso da minha explanação à parentela, expliquei que o
liberalismo clássico defendido por Milton Friedman e pela Escola de Chicago,
da qual o Paulo Guedes era adepto ortodoxo,
representava o oposto do pensamento tradicional militarista, que quer,
equivocada e ingenuamente, exercer o poder político com soberania perante
o poder econômico (o verdadeiro poder no capitalismo!).
O liberalismo clássico, simbolizado pelo laissez faire de Adam Smith (deixar fazer, deixar passar, que o mundo vai por si mesmo), propõe a não-intervenção estatal no mercado, o qual supostamente corrigiria as distorções da produção pela livre concorrência (a mão invisível de que também falava Smith).
Ou seja, pregava a redução do Estado às suas funções mínimas de guardião da regulamentação capitalista da livre concorrência e da aplicação coercitiva das leis burguesas, o que, claro, não combinava com as bravatas verde-amarelas de então.
Assim, concluindo minha exposição, avisei que, mais cedo ou mais tarde, tais contradições haveriam de materializar-se e o povo acabaria pagando o pato (tanto o da expressão popular quanto o da Fiesp).
Fui retrucado veementemente em todas as
minhas deduções. Disseram que, como o presidente eleito não entendia de
economia, quem iria dar as cartas nesse setor seria o Paulo Guedes. Parei por
aí, porque o pior cego é o que não quer ver.
Agora o posto Ipiranga faliu. Todos os seus indicados, que deveriam promover as privatizações, saíram do governo; nenhuma privatização importante foi realizada; os dirigentes de estatais importantes como Banco do Brasil e Petrobrás foram demitidos; e a sua política econômica liberal, deixada de lado.
E quem agora dá as cartas no preço dos combustíveis por lá é o nacionalismo populista eleitoreiro, e que se dane o liberalismo econômico, afinal o poder é bom para quem o exerce fisiologicamente e para se eleger é preciso conquistar a simpatia dos eleitores incautos, uma vez que o autogolpe (fechamento das instituições burguesas, parlamento e Supremo Tribunal Federal) não deu certo.
Mesmo falido, o posto Ipiranga continua aberto, até porque os financiadores do sistema de crédito financeiro brasileiro e mundial precisam ter alguém de sua confiança que neutralize, pelo menos em parte, os arroubos nacionalistas e eleitoreiros do mico. Lembram-se do debate ficcional e hipotético que travei com Paulo Guedes neste blog?
Só não sabia que o Paulo Guedes era fisiológico tal qual o centrão (que está sempre ao lado do governo, desde que sejam satisfeitos os seus interesses fisiológicos e macroeconômicos).
É o comportamento dos bolsomicos que tenho observado nas redes sociais. Quando não se quer fazer autocrítica por motivos inconfessáveis, o melhor (ou pior?) é transferir a responsabilidade pelos próprios erros e idiossincrasias para quais quaisquer outros, e que engula a lorota quem quiser...
A verdade é que o capitalismo –seja ele exercido politicamente pelos socialistas; nacionalistas militares; liberais ortodoxos; sociais-democratas; ditadores populistas, nazistas e fascistas; marxistas-leninistas-stalinistas ou maoístas, e tudo que é istas que conservem suas contraditórias categorias e as mantenham intactas– termina sempre em fracasso.
Tal como o leite, as frutas e o açúcar
que as adoça, substâncias que juntas e batidas num liquidificador
transformam-se numa massa homogênea de outra natureza, o capitalismo, mesmo que
sob orientações políticas as mais diversas, transforma-se, sempre, numa
massa homogênea de resultados catastróficos para o povo, além de agora acarretar também a destruição ecológica do Planeta Terra.
Na primeira reunião familiar que fizermos pós-pandemia, eu contarei a continuação das conversas. (por Dalton Rosado)
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