sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

NO DIA MAIS MORTÍFERO DA PANDEMIA ATÉ AGORA, O BOZO PÔS EM DÚVIDA A EFICÁCIA DAS MÁSCARAS E CRITICOU O ISOLAMENTO

leonardo sakamoto
COM 1.582 MORTES POR COVID EM 24 HORAS, BOLSONARO BATE SEU RECORDE E QUER MAIS
O Brasil bateu, nesta 5ª feira  (25), o recorde de mortes registradas num único dia por covid-19: 1.582. 

Isso equivale a quase oito acidentes com aviões da TAM, como aquele de julho de 2007, ou quase seis rompimentos de barragens da Vale, como a de Brumadinho, em janeiro de 2019. O principal responsável por tudo isso, contudo, parece insatisfeito. Pelo jeito, quer mais. 

Prova disso é que, enquanto o país ultrapassava a marca de 250 mil óbitos, na 4ª, Jair Bolsonaro promovia um evento-aglomeração com cerca de 400 pessoas no Palácio do Planalto. Entre elas, dezenas de prefeitos que, se contaminados, voltarão às suas cidades espalhando vírus pelo caminho. 

Já é difícil, depois de um ano de pandemia, garantir que todos nós mantenhamos distância uns dos outros e evitemos festas. Fica uma tarefa ainda mais ingrata com um sabotador da República promovendo aglomerações, como aquelas que ele causou no Carnaval, em praias de Santa Catarina. 

O pior, considerando que o vírus é altamente contagioso e não afeta todos do mesmo jeito, talvez nem sejam os participantes das aglomerações que vão sofrer, mas sim pais, mães, avôs e avós. Ou empregadas domésticas, porteiros, vigias, seguranças, cozinheiras, babás, motoristas. 

Para piorar, o recorde de mortes vem junto com a falta de dinheiro. Com a pandemia na sua pior fase, escassearam oportunidades de serviço. 

Milhões tiveram que ir à luta por falta de opções, lotando ônibus e trens, não pelo desejo suicida de se aglomerarem, mas por necessidade. 
Outros milhões não conseguiram nada e estão passando dificuldade, até porque o governo Bolsonaro não quis renovar o auxílio emergencial no final do ano passado. 

Desses, muitos foram dormir com fome ontem, porque o ministro da Economia Paulo Guedes quis enfiar uma minirreforma econômica como condicionante para aprovar a extensão do auxílio. Tentou aproveitar a corda no pescoço dos paupérrimos para tirar recursos da educação e da saúde, que beneficiam veja só, pobres e paupérrimos. 

À medida que a pandemia avançou, líderes que desprezavam a doença mudaram de estratégia, ao perceberem que o negacionismo de longo prazo poderia levar a um prejuízo, não apenas político pelo grande número de mortos, mas também pelo impacto negativo de uma economia deprimida. 

Como sua natureza beligerante e egoísta o torna incapaz de articular com adversários eleitorais em prol de um objetivo comum, Bolsonaro não preparou o país para a mais importante guerra de sua história. Abraçou o vírus, defendendo que a melhor forma de acabar com a pandemia é deixando que ela vença e infecte rapidamente o povo para criar imunidade. 

Acha que a população vai esquecer os 250 mil quando ele começar a pagar parcelas de R$ 250.

Bolsonaro vem apostando na estratégia da seleção natural, com os mais fortes sobrevivendo – o que, de certa forma, é coerente com quem ele sempre foi. 

Sobre os mortos? Eis o que ele vem dizendo desde o início da pandemia:
— "Alguns vão morrer? Vão, ué, lamento. Essa é a vida" (27 de março); 
— "Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre" (28 de abril);
— "Eu lamento todos os mortos, mas é o destino de todo mundo" (2 de junho); 
— "Não adianta fugir disso, fugir da realidade. Tem que deixar de ser um país de maricas" (10 de novembro.
 
Nesta 5ª, como era de esperar-se, celebrou o recorde de mortes com mais frases. Questionou a eficácia das máscaras, falando de supostos efeitos colaterais das ditas cujas, e criticou o isolamento, dizendo que a população quer voltar a trabalhar, mas governadores e prefeitos não deixam.

Bolsonaro é o arquiteto dessa tragédia, contudo não a construiu sozinho. Há uma parcela da população que, ao final de tudo isso, não poderá dizer que estava apenas seguindo o exemplo do presidente. 
Esse naco tem consciência plena de seu comportamento irresponsável, mas simplesmente deu de ombros por ser mais jovem (e não fazer parte do grupo de risco) ou rico (e ter acesso aos melhores tratamentos). 

A História nos ensina muitas coisas. Uma delas é que ninguém comete um crime contra a humanidade sem apoiadores. 

O bolsonarismo, vale lembrar, vai continuar por aqui muito tempo depois que Bolsonaro se for. (por Leonardo Sakamoto)

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