domingo, 24 de janeiro de 2021

LIÇÕES DA DEBACLE TRUMPIANA – 2

(continuação deste post)
O
comando político sob o capital, com suas diferenciações mais ou menos trágicas, termina sempre no eclodir de uma forma de relação social negativa que embute no seu DNA todas as concepções segregacionistas e desumanas que lhe são própria, tal qual uma pequena semente já traz em si toda a concepção da futura árvore. 

Infelizmente, ao invés de impulsionar a solução da dita no sentido de procedimentos humanistas futuros desconhecidos mas cuja contribuição para o bem de todos se pode desde já antever, a crise do capital  leva, ao mesmo tempo, à formação de cancros de procedimentos tresloucados e surrealistas como aqueles dos fanatizados seguidores de Trump na invasão do Capitólio, o parlamento dos Estados Unidos.

Ali vimos retrógrados seguidores trompistas que iam desde ridículos personagens fantasiados de vikings, com chifres e a empunhar lanças, até patriotas embandeirados e pintados; cowboys valentões; civis semifardados empunhando armas como se estivessem numa guerra contra os ganhos civilizatórios considerados por eles como retrocessos da humanidade, etc. 

Mas, esses tipos eram, sobretudo, representados por um covarde, sem terem a exata dimensão disso. 

Diante do malogro de suas primárias intenções golpistas, próprias aos energúmenos ditadores de repúblicas bananeiras, eis que o presidente destrumpelhado negou suas intenções em discurso que fez logo em seguida, absolutamente contraditório com aquele que havia pronunciado momentos antes da invasão do Capitólio, incitando seus seguidores.

Descobriu-se, portanto, um novo e desabonador predicado nele: a pusilanimidade!

A revolução francesa, que em muito se espelhou na Constituição dos EUA no século 18, tinha como pressuposto básico a descentralização do poder absolutista monárquico. 

Naquela altura não se poderia perceber claramente que um poder despótico ainda mais perigoso substituiria o esgotado modelo feudal e escravista direto: o capitalismo. 

Escravista indireto e segregacionista por meio de uma lógica matemática de exploração impessoal, 
o capitalismo é tão tirânico quanto seu antecessor, como se constata ao vê-lo personificado no bilionário Donald Trump. 

O capital dá ordens ao capitalista, transformando-o em seu súdito privilegiado a cumprir determinações esquizofrênicas que podem ser ainda mais cruéis do que as adotadas pelos tiranos de todos os tempos. 

O holocausto é um exemplo histórico do que é capaz o ser humano submetido às ordens capitalistas num momento de depressão econômica como o então existente na Alemanha, que propiciou a ascensão ao poder dos truculentos supremacistas arianos. 

O nazismo nada mais é, portanto, do que a serpente tornada ativa quando parida do ventre capitalista num momento de sua inviabilidade, notadamente quando tal forma de relação social atingiu o seu limite histórico de sobrevivência. Agora não há novo Plano Marshall e Green New Deal que o sustente.

Hoje vivemos um momento mais grave, qual seja o do atingimento deste limite existencial; as consequências que podem daí advir requererão providências e sabedorias imunes ao fetichismo que caracteriza aqueles comportamentos em sentido inverso à solução dos problemas que se apresentarão. 

O entrechoque de comportamentos retrógrados que caracterizam a máscara de caráter burguês é facilmente identificado em personalidades como Donald Trump e Joe Biden: 
— de um lado, negacionistas que querem se manter no poder a qualquer custo, numa desesperada fuga para a frente que se traduz em genocídio e barbárie;
— do outro lado, as posturas políticas institucionais mais civilizadas e suasórias da democracia burguesa, que buscam a salvação de um sistema exaurido a partir de medidas imanentes ao dito cujo.

Entretanto, sem debelarmos o mal na sua raiz causal –ou seja, sem a substituição do modo de produção mercantil burguês e seu correspondente sistema institucional, ambos esgotados–, viveremos sob um movimento pendular entre direita ultraconservadora e socialdemocracia sem resultados satisfatórios e com o acirramento dos problemas sociais e ecológicos.

Devemos estar atentos à causa original do mal social, pois somente conhecendo a sua natureza mais profunda e desumana poderemos caminhar na direção de comportamentos fora da imanência da forma-valor (dinheiro e mercadorias) e da superação definitiva do escravismo que caracteriza a história da humanidade nos últimos milênios. 

Quanto a Donald Trump, no seu turbulento e destrambelhado ocaso, ele deixou evidenciada como nunca a sua máscara de caráter fetichista burguês. (por Dalton Rosado)

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