sábado, 23 de janeiro de 2021

LIÇÕES DA DEBACLE TRUMPIANA – 1

dalton rosado
A MÁSCARA DE CARÁTER DO TRUMP
"Quero mandar enforcar toda a gente; e se não encontrar o meu dinheiro, enforco-me eu a 
seguir" (desespero de Harpagão ao tomar conhecimento de haver sido
roubado, na peça O avarento, de Molière)
O ex-presidente Destrumpelhado é o burguês típico que, não satisfeito com o seu megalomaníaco poderio econômico, resolveu somá-lo ao poder político. 

Aí residiu o seu erro estratégico da pretensão a dono do mundo, porque os bilionários, na democracia burguesa, se dão melhor ficando nas sombras e elegendo os seus representantes políticos via influência do dinheiro nas eleições.

Ele não é o político típico, que se ajusta ao processo dialético das transformações sociais no sentido conservador; do político que está sempre disposto a ceder os anéis para salvar os dedos (ou, dito de outra forma, empenhado em conservar o poder opressor em benefício próprio, como se fosse algo benéfico para os governados). 

Trump é mesmo destrumpelhado;
— um elefante em loja de louças;
— um mulherengo, conquistador barato (apesar de pagar caro);
— um imigrante burguês com a ilusão de ser um nobre fidalgo feudal, chegando ao cúmulo de perseguir outros imigrantes. 

Enfim, um ser patético.

No entanto, ele era perigoso! Como todos os tiranos despóticos, ele não aceitava ser apeado do poder. 

Vaidoso, acostumara-se a ser obedecido pelos outros e a manipulá-los. Queria viver como se detivesse as rédeas da vida num
reality show e, quando a realidade pôs abaixo as suas pretensões fetichistas, inventou para si mesmo uma mentira delirante como a de fraude eleitoral.

O mais grave é que seus súditos similares acreditaram na lorota. Afinal, quando se adota um ser humano como mito, mesmo que tenha todas as falibilidades próprias à sua real condição, a mitologia serve como escudo contra a aceitação de realidades inconvenientes. 

Trump é a formatação mais bem acabada da negatividade intrínseca ao processo da modernidade que elege a fundamentação da vida a partir da mercadoria e do dinheiro apreendidos como sua razão de viver, sem os quais toda sua existência parece perder sentido. 

Ganhar dinheiro, a síntese do poder, é só o que lhe importa, e todas as virtudes humanas que não conduzam a tal objetivo são, para o burguês típico como Trump, devaneios ilusórios de perdedores. 

Quando o patético topetudo elogiava o próprio governo, ele dizia invariavelmente ter feito um bom trabalho. Na linguagem burguesa, trabalho representa dinheiro expresso em dados macroeconômicos, como se bem-estar social fosse sempre uma resultante natural e única desse processo. 

Como consequência, ao invés de sensibilizar-se com a separação de crianças dos pais na fronteira dos Estados Unidos com o México, punha-se a fazer um desfocado discurso de despedida, elogiando a construção de um muro separatista, sem considerar o significado humano de tal proposição. Muros separam e as pontes unem, lembrou o poeta Paulo César Pinheiro na canção Pesadelo (abaixo).
E o pior é que se vangloriava sem pejo de estar mentindo, afinal apenas parte do grande muro que queria construir foi efetivamente erguido e, assim mesmo, em substituição às cercas intransponíveis que ali já existiam.

Mas, para um burguês dominador que se acha suficientemente esperto para ludibriar a todos, o que é a uma mentira a mais senão um meio pragmático para atingir seus objetivos messiânicos, os objetivos de quem se acha onipotente e ungido por um Deus ariano e supremacista branco?!

O que lhe importava a morte de mais de quase 400 mil cidadãos dos Estados Unidos (número cinco vezes maior que a proporção mundial de mortes por habitantes) diante do perigo da paralisia da roda da vida mercantil e correspondente despertar para um novo modo de produção e solidariedade pela vida, condição que poderia advir da derrocada da atual forma de poder econômico e político institucional sistêmico???

A pandemia do covid-9 tornou explícito o caráter genocida do capitalismo, daí o ridículo negacionismo trumpista, para quem a economia mercantil prepondera sobre o humano. Não há como isentá-lo de culpa pelo genocídio que sua presidência ensejou.

O capital é nazista, mesmo quando opera sob condições aparentemente democráticas. O nazismo e o fascismo (com suas sutis e macabras diferenças político-conceituais) nada mais são do que a síntese mais bem acabada do nacionalismo burguês xenófobo, racista e genocida recalcitrante, incitado pelo capital.

O capitalismo, mesmo quando gerido politicamente pela social democracia, termina sempre por mostrar a sua carantonha, de vez que apenas pertence e se submete à categoria esquizoide do comando externo do fetichismo da mercadoria. (por Dalton Rosado)
(continua neste post)

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