O EXEMPLO BRASILEIRO DE INGOVERNABILIDADE – O capitão Boçalnaro, o ignaro foi eleito sob a bandeira do combate à corrupção, como se os males sociais derivassem, todos, desse fenômeno comum a todos os governos de antes, de agora e do futuro. O conservadorismo pseudo-moralista ultrapassado, mas conservado por muitos, também ajudou.
Ora, com seu notório primarismo de deputado do baixo clero (ainda que se fizesse passar por um outsider, malgrado ter acumulado três décadas de parasitários mandatos como vereador e deputado federal) e sua contraditória bandeira política (ao mesmo tempo que empunhava a bandeira do nacionalismo patriótico-militar, se declarava submisso na economia ao liberalismo mais ortodoxo do Chicago Boy Paulo Guedes), tinha tudo para naufragar no mar revolto da depressão econômica mundial capitalista.
Em dois anos de desgoverno que se completará no final de dezembro deste fatídico 2020, o balanço que se pode fazer dos aspectos econômicos (sem adentrarmos para as questões de cunho étnico, dos costumes, dos direitos humanos, da dissociação de gênero, ecológicos, diplomáticos, etc., igualmente desastrosos) é o seguinte:
1. fuga de investimentos no país - O relatório do Banco Central divulgado no último dia 25 mostra que, na comparação entre os meses de outubro/2020 e outubro/2019, os investimentos internacionais diretos na produção despencaram de US$ 8,221 bilhões para US$ 1,793 bilhão: queda de 79%.
Assim, virou letra morta a promessa tão trombeteada na campanha eleitoral, de que os ventos liberais para cá atrairiam capitais em profusão. O que atrapalhou:
— as incertezas políticas (o golpismo inicial, com hostilização anticonstitucional ao Congresso Nacional e ao STF, seguida de súbito recuo por temor de impeachment e rendição ao fisiologismo explícito do centrão);
— não implementação da política de privatizações de estatais desejada pelo capital internacional, mas que esbarrou no nacionalismo-estatizante militarista tradicional e no fisiologismo dos aloprados que integram o núcleo duro do poder boçalnarista;
— alinhamento diplomático subserviente e até suicida ao governo do igualmente maluco presidente destrumpelhado dos Estados Unidos;
— incentivo à predação ecológica da Amazônia, que colocou água no chope do acordo Mercosul/União Europeia;
— agressão gratuita ao nosso maior parceiro comercial, a China, que agora já começa a ameaçar retaliação em face das inconsequentes declarações públicas do deputado federal Eduardo Bolsonaro, presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara Federal (trata-se daquele mesmo filho do presidente que queria ser presenteado com a embaixada do Brasil nos EUA, ridicularia que somente não vingou graças ao clamor generalizado contra tal nepotismo explícito);
— maior desvalorização mundial do real frente ao dólar estadunidense, tornando desvantajosos os investimentos no país transformados na nossa desvalorizada moeda, que aqui deveria produzir lucros improváveis.
2. estagnação econômica – no ano de 2019, primeiro do desgoverno Boçalnaro, quando o candidato eleito ainda detinha o apoio de todos os puxa-sacos e lideranças institucionais, o desempenho econômico foi dos mais pífios, com um aumento do Produto Interno Bruto de apenas 1,1%, repetindo o percentual do último ano do presidente Temerário.
Ainda não havia covid-19 e o que se observou foi um surpreendente desentendimento entre personagens que demonstravam acentuada identidade com o pensamento (?) boçalnariano, como Joice Hasselmann e Gustavo Bebianno (fato que talvez tenha contribuído para a sua morte prematura), sem falar nos generais demitidos precocemente.
As intrigas palacianas dos filhos do presidente, que as defende, promove ou acoberta a partir do chamado gabinete do ódio, levou figuras proeminentes como Sérgio Moro a se tornarem inimigos do governo. É sempre assim: um castelo construído sob alicerces frágeis e de última hora sempre acaba desmoronando.
Veio o ano de 2020 e a crise sanitária impôs um isolamento social que, apesar de sua extrema necessidade, foi desesperadamente combatido pelo presidente, como se tentasse uma fuga para a frente. Só piorou o quadro: a questão econômica, que já era crítica, agravou-se ainda mais, de forma que terminaremos o ano com a perspectiva de o PIB despencar em 2020, ficando entre -4,5% e -5,%, o que representa um buraco aberto no fundo do poço que se imaginava ter sido atingido. (por Dalton Rosado)
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