rui martins
ANTES A MORTE DO QUE A VACINA
Recebi pelo WhatsApp um vídeo do YouTube, falado em espanhol, alertando contra as próximas vacinas, enviado por um de meus primos.
Ele é um dos milhões infectados pela crença em complôs e conspirações, agora centrados na criação e utilização das próximas vacinas por sociedades secretas e farmacológicas interessadas em dominar o mundo e transformar os homens em seres controlados e teleguiados. Sua decisão já foi tomada: não vai se vacinar!
Tudo começou há alguns anos com as mensagens anônimas ligadas ao Pizzagate, segundo as quais os principais dirigentes democratas da campanha de Hillary Clinton seriam pedófilos.
Logo depois da vitória de Donald Trump, a primeira mensagem, há três anos, com a simples assinatura de Q, tratava de um possível extradição de Hillary Clinton.
A seguir, outra mensagem secreta de Q, supostamente um alto funcionário do governo estadunidense, revelava ser um robô, instalado pela CIA, o presidente da Coréia do Norte. Em pouco tempo, Q e seus anônimos seguidores, QAnon, assumiram a divulgação de teorias conspiratórias, alimentadas por adeptos do presidente Trump.
Agora, com a derrota de Trump e o controle do mundo pelo coronavírus, os conspiradores deixam de lado os complôs políticos e militares, passando a disseminar boatos e falsas informações médicas e sanitárias relacionados com os próximos programas de vacinação.
E agora isto se daria por meio da vacinação em massa de quase todos os habitantes do planeta, com a trama sendo consumada no ato da vacina, quando também se inocularia um chip eletrônico nas pessoas.
A ideia é absurda e grotesca, porém muitos nela acreditam e outros tantos ficam em dúvida sobre se aceitarão ser vacinados.
Para quem não está imunizado contra as fake news e toda forma moderna de propagação de mentiras, o caos aumentou, há alguns dias, com a divulgação por Internet de um filme de quase três horas postado no YouTube, Hold Up (Assalto). Difícil agora de ser aberto, mas já foi visto por milhões de pessoas
.
Seu produtor, o francês Christophe Cossé, considera o coronavírus uma doença igual às outras, porém inflada e contra a qual se construiu uma ideologia sanitária autoritária, para se levar a um tipo de sociedade vigiada e submissa.
A humanidade estaria sendo submetida a campos de concentração, dos quais não se pode sair, como os de Hitler. Estaria havendo uma inimaginável manipulação de todo mundo. Dessa manipulação participariam os cientistas franceses, mancomunados com os laboratórios farmacêuticos.
Guardadas as proporções, o quadro dos resistentes às vacinas não difere muito do que circulava na boca do povo, quando o médico inglês Edward Jenner descobriu em 1796, quase por acaso, a primeira vacina: foi contra a varíola, partindo de observações com a varíola bovina.
A mentira tem sua força de atração? É mais fácil acreditar-se numa teoria misteriosa do que aceitar a versão realista da ciência (do confinamento no caso do coronavírus, que, por sua elevada transmissibilidade, seria capaz até de repetir a tragédia da gripe espanhola)?
O impacto do filme Hold Up poderia ser comparado com o falso documentário Operation Lune, querendo demonstrar que a equipe de Neil Armstrong não haveria chegado à Lua (as imagens mostradas teriam sido filmadas num deserto).
Mentira por mentira, uma grande parcela da população estadunidense ainda acredita na narrativa de fraude nas eleições, propagada por Trump, apesar das provas em contrário.
No Brasil, é ainda grande o número de pessoas considerando correta a política do presidente Bolsonaro contra o coronavírus. A gripezinha e a cloroquina não foram totalmente desmistificadas. Mente que eu gosto! (por Rui Martins)
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