Debates eleitorais pela TV costumam ser extremamente tediosos, um mero entrechocar de imagens forjadas pelos marqueteiros cujos cordéis movimentam os fantoches em cena.
São exceções irrisórias as situações pitorescas que às vezes destoam da pasmaceira habitual. Eis algumas:
— quando Richard Nixon, ainda sem aquilatar a importância da imagem, foi ao confronto decisivo contra John Kennedy com a aparência desleixada de sempre (ruim a ponto de os democratas terem feito um cartaz de campanha com a frase você compraria um carro usado deste homem?). Mais do que os argumentos, o eleitorado dos EUA comparou o garboso Kennedy ao mal-encarado Nixon, com os resultados conhecidos;
— quando o obeso deputado Gastone Righi queria entregar alguns papéis a Jânio Quadros no ar e foi se arrastando grotescamente por baixo do ângulo captado pelas câmeras... sem imaginar que, maldosamente, elas se voltariam na sua direção, expondo a todos os telespectadores seu puxa-saquismo explícito;
— quando Franco Montoro esperou sua tréplica a Jânio Quadros, no encerramento do debate, para acusá-lo de torpeza (havia sido vítima da ditadura e estava mancomunado com os antigos perseguidores), de forma que suas tentativas raivosas de dar resposta teriam de ser (e foram) rechaçadas pelo mediador, fazendo-o parecer destrambelhado e patético;
— quando Boris Casoy perguntou a Fernando Henrique Cardoso se ele acreditava em Deus e FHC se queixou de que haviam combinado não tocar nesse assunto, dando ao adversário Jânio Quadros um trunfo talvez decisivo para vencer uma eleição parelha;
— quando Brizola e Maluf perderam as estribeiras e ficaram se xingando no ar. Filhote da ditadura!, repetiu várias vezes o gaúcho, enquanto o outro respondia: Desequilibrado! Desequilibrado! Passou 15 anos no estrangeiro e não aprendeu nada!;
— quando Lula teve um apagão no debate decisivo com Collor e reagiu com apatia aos ataques do inimigo, não contestando sequer a afirmação de que seu aparelho de som era mais caro que o do ricaço das Alagoas;
— quando o mesmo Collor, tentando voltar à tona depois de escorraçado do poder pelos caras-pintadas, foi escalado para formular uma questão ao folclórico Enéas Carneiro e, depois de pensar um pouco, desistiu: Fala qualquer coisa aí. Enéas gastou seu tempo criticando o próprio Collor, que esnobou de novo o adversário ao ter a chance da réplica: Continua falando.
Lembrei-me de sete momentos interessantes num sem-número de debates a que assisti ou dos quais tomei conhecimento. Posso ter esquecido um ou outro mais. O certo é que a mesmice e a chatice predominam de forma avassaladora, de forma que neles só me interessavam as situações bizarras e a análise das estratégias por eles adotadas (e da capacidade que tinham para cumpri-las direitinho como os marqueteiros as haviam formulado).
O que diziam e prometiam, desde muito jovem eu percebi que não passavam de palavras ao vento. Como aquele compromisso solene da Dilma, de ser a salvação para os eleitores que temiam as reformas austericidas; se votassem nela, prometia, não seriam vítimas dos rigores neoliberais.
Tão logo iniciou o 2º mandato, empossou o neoliberal Joaquim Levy como o mandachuva da economia. Só faltou ela dizer, parafraseando as crianças de antigamente, enganei uns bobos na casca dos ovos...
O debate desta 6º feira (27) será o primeiro que verei desde os dois da campanha presidencial de 2018 ocorridos antes de o Bolsonaro amarelar (foi levado às cordas pelo Guilherme Boulos no primeiro e mandado à lona pela Marina Silva no segundo).
Aí, depois daqueles dos quais fugiu graças ao atentado mais fajuto de que tomei conhecimento desde o assassinato do John Kennedy (oficialmente atribuído a um único atirador embora houvesse dúzias de evidências de que ele fora alvo de um fogo cruzado), não perdi mais tempo. Afinal, a chance de deter o palhaço sinistro praticamente deixara de existir.
E o de hoje me interessa pelo poderoso impulso que uma vitória de Boulos dará à afirmação de uma nova esquerda, mais combativa e, espero, determinada a ir à raiz de nossos problemas: a agonia do capitalismo, que, enquanto sobreviver, vai se tornar cada vez mais nocivo à humanidade, a ponto de levá-la à destruição se continuarmos assistindo, abúlicos, à marcha da insensatez.
Afinal, seja quem for o prefeito, governador ou presidente, não terá como solucionar o insolúvel, embora um governante sem condições intelectuais, morais e mentais para o exercício do cargo possa causar enorme estrago.
Mas, ter alguém do nosso campo como prefeito da principal cidade do país em termos de expressão política e econômica sempre cumprirá um papel destacado no processo de acumulação de forças que temos pela frente, inclusive porque estamos premidos pela necessidade imperativa de contarmos o quanto antes com um presidente minimamente à altura dos desafios colocados pela pandemia e pela depressão econômica iminente. (por Celso Lungaretti)
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