segunda-feira, 16 de novembro de 2020

ENQUANTO O GENOCIDA E A ONDA ULTRADIREITISTA VÃO PARA O RALO, UMA NOVA ESQUERDA ROUBA A CENA – 1

mathias alencastro
A REVOLUÇÃO BOULOS
A campanha de Guilherme Boulos em São Paulo articula-se em torno de três grandes orientações:
— a construção da única candidatura de contestação nacional na principal capital do país;
 a introdução de novos desafios sociais no debate público, a começar pela luta dos trabalhadores precários; e
— a superação da fratura entre centro e periferia, inutilmente alimentada pelos petistas.

Para construir esse projeto, Boulos recorreu a instrumentos e conceitos inovadores. Antes de se aventurar na política eleitoral, ele circulou pela Europa para tentar entender melhor formações como a França Insubmissa, o espanhol Podemos e o português Bloco de Esquerda.

Inspirada nessa nova esquerda europeia, acostumada ao confronto direto com a extrema-direita, sua campanha é responsável pela primeira tentativa concreta dos progressistas de confrontar o domínio das redes pelos conservadores. 

Boulos chegou a investir em redutos obscuros e completamente desconhecidos dos políticos tradicionais, como os fóruns frequentados por jovens na internet, um criadouro de militantes bolsonaristas.
Com 20% dos votos deste domingo (15) e uma reserva de eleitores nas candidaturas de Márcio França e Jilmar Tatto, Boulos tem chances de vitória, mas deve-se constatar que o seu principal objetivo já foi atingido: impor-se como o líder incontestável de todo o campo progressista na cidade de São Paulo.

Um objetivo facilitado pela calamitosa campanha de Jilmar Tatto, prontamente enterrada por Lula no dia do pleito. O 2º turno contra Bruno Covas, que será tentado pela sua base aliada a flertar com o extremismo para resgatar o eleitor bolsonarista, tem tudo para ajudar a consolidar o novo estatuto de Boulos.

A importância desse fato político na formação dos projetos nacionais de 2022 não deve ser subestimada.

Em editorial recente, a Folha de S. Paulo sugeriu que a vitória de Joseph Biden nas presidenciais dos Estados Unidos tem, como principal consequência, o despertar de um senso de urgência acerca da necessidade de algum tipo de união contra Bolsonaro e a esquerda. Esta afirmação sugere uma interpretação inexata da campanha estadunidense.

O talento de Biden, um centrista nato, está na sua capacidade de incorporar as agendas da esquerda no seu projeto político para derrotar a extrema-direita.

O Partido Democrata deve à sua ala esquerda as grandes manifestações realizadas contra Donald Trump, a popularização de alternativas programáticas na agenda ambiental e, sobretudo, a mobilização de jovens eleitores durante a campanha.

Para citar apenas um exemplo, sem a atuação de Stacey Abrams, o democrata nunca teria chegado perto de vencer a Geórgia.

Quem quiser tentar repetir a vitoriosa operação centrista de Biden no Brasil terá de combinar primeiro com Boulos. (por Mathias Alencastro, doutor em ciência política pela Universidade de Oxford e pesquisador do Cebrap)

2 comentários:

Anônimo disse...

é impressão minha ou só tem mulher na plateia??

celsolungaretti disse...

Ora, há vários, bem visíveis. E o que você tem contra as mulheres?

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