domingo, 11 de outubro de 2020

A COVID-19 REPRESENTA A MAIOR TRAGÉDIA HUMANITÁRIA DO PÓS-GUERRA

"A responsabilidade é de todos, especialmente a liderança política é chave" (Tedros Adhanom
Ghebreyesus, da Organização Mundial da
Saúde, numa alusão velada ao
negacionismo de Jair
Bolsonaro)
Uma cena por mim presenciada demonstra bem o estágio de degradação humana atual sob o capitalismo no seu estágio de limite interno de expansão e que, por isso mesmo, inviabiliza-se e prenuncia o próprio colapso, como modo de relação social segregacionista e, agora, minimamente viável. Não há mal que dure para sempre. 

Numa fila de banco na região metropolitana de Fortaleza, um grupo de beneficiários do auxílio emergencial, mesmo sob a ameaça de contaminação virótica, gritava eufórico Viva o corona!, ao que outros respondiam Viva!, com sorrisos irônicos nos lábios.  

Perguntei à pessoa que me acompanhava, pertencente àquela comunidade, a razão de ser de tal entusiasmo. E ela então me indagou, com seu português de quem só estudou numa escola primária pública (e por pouco tempo): 
"O sinhô num sabe não? Esse povo 'tá feliz porque agora, com o auxílio do governo, eles 'tão pudendo comer alguma coisa; esse povo aí 'tava desempregado e passando fome antes do corona, e agora junta home e mulher numa mesma casa e a vida melhorou! Eles querem é que o corona dure mais um tempo!"

Os que não usam black tie ignoram, claro, que a distribuição de dinheiro sem valor tem os dias contados, por mais que no Palácio do Planalto se busquem fórmulas mágicas para mantê-la granjeando popularidade para um governo que não fez por merecê-la.  

E que tal prática, além de inflacionar os alimentos por eles consumidos (como maior faixa de gastos no orçamento familiar), caso persista, acabará sacrificando outras rubricas do orçamento fiscal relativas ao atendimento das demandas sociais (escolas, saúde, segurança pública, saneamento básico, iluminação pública, manutenção da malha viária, etc.).

Este é um instantâneo da vida como ela é, outrora tão bem retratada, com toda a sua crueldade, por Nelson Rodrigues. 

Segundo a OMS, as mortes pelo coronavírus hoje estão ao redor de 1.050.000 no mundo e são pouco mais de 150.000 no Brasil. Portanto, com menos de 3% da população planetária, respondemos por quase 15% dos óbitos. 

Registramos uma média de mortes cerca de seis vezes maior do que a média mundial, nisto competindo à altura com os Estados Unidos, cujo desempenho na crise sanitária é igualmente catastrófico. De tanto querer ombrear-se ao destrumpelhado governante estadunidense, Boçalnaro, o ignaro conseguiu... da pior maneira possível!
TENEBROSA COMPETIÇÃO – Ambos deveriam ser submetidos a um tribunal mundial do genocídio, por sua irresponsabilidade ao minimizarem a periculosidade da pandemia, bem como pelo incitamento à normalização das relações de produção e consumo, como se nada estivesse ocorrendo.

Os números mundiais da covid-19 já representam a maior tragédia humanitária do pós-guerra!!! Mais de 1 milhão de mortes em sete meses significa, numa comparação macabra, como se:

—  a cada dia, e em todo dia, caíssem no mundo 25 aviões com 200 pessoas a bordo, sem sobreviventes; 

— a cada mês, nesses sete meses, uma bomba atômica com maior poder de destruição que as de Hiroshima e Nagasaki devastasse uma cidade de 150 mil habitantes, também sem deixar sobreviventes; 

 vivêssemos os sete meses mais cruéis da Europa na 2ª Guerra Mundial;

 os governantes estivessem (e realmente estão, submissos que são ao fetichismo da mercadoria) tão cegos à periculosidade virótica como se encontravam seus congêneres do século 13 face à peste bubônica. 

Não nos faltam informações; falta-nos humanidade diante de uma forma de relação social que coloca a vida humana abaixo dos interesses do lucro empresarial mercadológico, estabelecendo uma falsa dicotomia entre a produção dos meios de subsistência de consumo e o enfrentamento do processo de infecção virótica assombrosamente propagador e causador de mortes entre 3% e 4% dos contaminados. 

A contradição capitalista entre a manutenção da vida humana e o uso utilitário da dita cuja foi explicitada de forma insofismável pela pandemia!!!
A produção de mercadoria não visa à satisfação de consumo, mas ao uso meramente utilitário da necessidade de consumo para escravizar os consumidores e produtores assalariados ao seu fetichismo. Afastada a possibilidade desse uso, resta afastado, também, o interesse de produzir.

Este é o primeiro ensinamento (e maior descoberta, juntamente com a compreensão do que seja extração de mais-valia, omitida pelos economistas burgueses clássicos) contido nas obras de Karl Marx e, mais acentuadamente, em seu livro O Capital

Agora, 160 anos depois de sua publicação, eis que uma emergência sanitária comprova, empiricamente, aquilo que foi anatomicamente dissecado pelo cientista do processo dialético histórico social, Karl Marx, tão combatido pelo ideólogos burgueses, mas jamais contraditado cientificamente ou superado quanto à sua crítica da economia política.  

Caso vivêssemos numa sociedade livre do fetichismo da mercadoria e de toda a sua entourage político-institucional, a crise virótica teria outro tratamento social. Vejamos alguns tópicos dessa mudança comportamental numa sociedade emancipada da forma-valor:
1
. poderíamos utilizar a imensa força produtiva de mãos e músculos humanos, hoje relegadas ao desemprego estrutural, para, sob critérios de produção social que visassem exclusivamente (e em interação com as máquinas) à satisfação do consumo, no sentido de prover-se o sustento cômodo da população (a natureza está longe de ter esgotados os seus recursos materiais para tal);
2. poderíamos realizar todo o processo produtivo com energia limpa, sem poluição do ar (os combustíveis fósseis seriam dispensados como força motriz das máquinas);
3. poderíamos adotar na produção e no consumo apenas critérios sustentáveis, renováveis, com o uso de todo saber tecnológico disponível, sem a predatória contaminação por parte dos interesses especulativos próprios à produção de mercadorias; e
4. em razão da eliminação da frenética movimentação comercial que aglutina pessoas (daí todos os governantes, em maior ou menor grau, impelirem à abertura das relações mercantis mesmo sob risco de genocídio, temerosos do colapso da economia e da própria arrecadação fiscal, da qual são todos dependentes), poderíamos fazer planejamento de distribuição de bens e serviços de modo racional, evitando a contaminação nos níveis atuais.

Caso vivêssemos sob a égide de uma relação social emancipada, não sofreríamos, portanto, o estresse causado pela falsa dicotomia entre produzir e consumir sem contaminação virótica, e assim, eliminaríamos (ou pelo menos diminuiríamos) o processo de contaminação isolando, durante o tempo necessário e com abastecimento eficaz, os focos de contaminação, de forma a eliminar o vírus circunscrito ao seu nascedouro. Onde isto foi feito, obtiveram-se resultados satisfatórios. 

O capitalismo é genocida, causador de conflitos mundiais e de guerras localizadas sem fim, além de matar no mundo inteiro pessoas socialmente segregadas, e a crise econômica-sanitária do coronavirus expôs de modo empírico e claramente elucidativo a condição genocida dessa forma de relação social e o caráter genocida dos governantes dela dependentes, servilmente avassalados ao seu tacão mortífero.  (por Dalton Rosado)

3 comentários:

Anônimo disse...

Os comunistas chineses deflagram a guerra bacteriológica (uma praga diferente todo ano) para destruir a economia ocidental e a culpa é do Bolsonaro... a lógica da esquerda é realmente um negocio inqualificável. Surrealismo nem chega perto

celsolungaretti disse...

Parabéns! Você tem meu apoio para concorrer ao Prêmio Guinness de recorde de asneiras condensadas em apenas 36 palavras. Vou até dizer quais:

1) Os chineses deixaram de ser comunistas há várias décadas.

2) Nunca houve prova nenhuma de que estivessem desenvolvendo guerra bactereológica nenhuma, isso não passa de uma ridícula fake news.

3) Eles não precisam mover uma palha para destruírem a economia ocidental, pois ela está se destruindo sozinha, por força de suas contradições insolúveis.

4) Sendo o Bolsonaro quem é, qualquer pessoa que o aponte como culpado de alguma coisa tem 99,99% de chances de acertar.

5) A descaracterizada esquerda majoritária atual ficará lisonjeada se souber que ainda existe quem creia que ela segue alguma espécie de lógica (a menos que oportunismo agora tenha tal status).

6) Surrealista é países do século 21, como EUA e Brasil, terem como presidentes dois insanos que até na Idade Média causariam má impressão.

Chega ou quer mais?

Em tempo: peço desculpas ao bom Dalton Rosado por ter-me antecipado à resposta educada que ele provavelmente dará a tal comentarista anônimo. Mas, quis mostrar ao dito cujo que aqui não é lugar para postar o besteirol bolsonarista. Os que fazemos este blog temos todos QI positivo, não negativo...

celsolungaretti disse...

Caro leitor,

a única ligação que a China tem, hoje, com a teoria de Karl Marx, é o fato de que ela está comprovando empiricamente que a lógica capitalista, a qual aderiu desde 1976, com Deng Xiao Ping, tem uma tendência à redução da valor da força de trabalho.

Ali, o capitalismo selvagem, pode ser comprovado pelas centenas de milhões de operários reduzidos à condição de escravos do valor, com vida insuportável e poluição atmosférica braba, e produzir alguns milhares de super milionários. Mas a casa já está caindo.

A China, por ter oferta abundante de força de trabalho, está destruindo a lógica capitalista mundial (e não apenas ocidental), a partir dos seus próprios fundamentos e, assim, se autodestruindo num prazo histórico cada vez menor, e até que o processo dialético histórico imponha uma nova revolução e relação social.

Quanto ao mais, o Celso já disse o bastante. (por Dalton Rosado)

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