E SE JOE BIDEN VENCER?
O que pretende o presidente Jair Bolsonaro ao abrir, na próxima 3ª feira (22), por videoconferência, a Assembleia-Geral da ONU:
— defender os interesses nacionais ou fazer o jogo dos Estados Unidos?
— seguir a regra internacional de não ingerência em assuntos políticos de outros países ou reforçar, nas entrelinhas, a campanha à reeleição de Donald Trump?
— badalar o Brasil e seu enorme potencial ou o seu governo e ele próprio?
Essas perguntas podem parecer sem sentido, pois os presidentes de todas as democracias usam os palcos internacionais para defender os interesses dos seus países. Mas tudo é peculiar com Bolsonaro, inclusive na política externa.
Para piorar as coisas – e as expectativas – Trump falará logo depois do amigo brasileiro. Ora, ora, se não vai pintar uma dobradinha entre os dois, a um mês e meio da eleição americana...
O tema da assembleia-geral deste ano é multilateralismo, o que ajuda o pas-de-deux, com Trump e Bolsonaro metendo o sarrafo em organizações internacionais fundamentais para reduzir a desigualdade, ainda mais aguda na pandemia, entre regiões, entre países e nos próprios países. Ambos tendem a criticar a Organização Mundial da Saúde, a Organização Mundial do Comércio e, por que não?, a própria ONU e seus organismos de direitos humanos e meio ambiente.
Se é para apostar, o presidente também vai entrar em questões internas, para dizer ao mundo, via ONU, que o Brasil é um sucesso no combate à pandemia, no controle das queimadas e na recuperação econômica.
O mundo poderá, assim, assistir ao vivo e em cores a aliança entre Bolsonaro e Trump, inclusive contra a realidade.
O último lance foi o Planalto ceder à Casa Branca e manter por mais três meses a isenção de tarifas para o etanol americano, prejudicando os produtores brasileiros, mas ajudando o apoio dos americanos a Trump em 3 de novembro. Indiretamente, sem saber ou querer, o setor de etanol do Brasil está pagando um preço para reeleger o republicano.
E a lista de favores de Bolsonaro a Trump, contra o Brasil, não para aí. Essa decisão, contrária aos interesses nacionais e ao Ministério da Agricultura, não foi pragmática, foi ideológica, e não é nova nem única. O Brasil já tinha aceitado também uma cota de 750 mil toneladas de trigo americano sem Tarifa Externa Comum do Mercosul.
Mais: o ministro Paulo Guedes havia lançado o brasileiro Rodrigo Xavier para disputar a presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento, mas foi surpreendido duplamente:
— quando Trump anunciou candidato próprio, seu assessor Mauricio Claver-Carone; e
— quando o Planalto e o Itamaraty passaram a trabalhar pela candidatura americana e contra o adiamento da decisão para depois da eleição à Casa Branca.
Além de ser mais uma derrota de Guedes, o que é só detalhe, essa manobra tem potencial explosivo: rompe a tradição de que os EUA não entram no rodízio para a vaga, promove um assessor de Trump sem saber se ele fica ou não na Casa Branca.
E o grande temor é de que os EUA, com ajuda do Brasil, usem o BID como instrumento de pressão para jogar os países da América Latina contra a China.
E o que dizer de Bolsonaro seguindo Trump, passo a passo, na pandemia? É uma gripezinha, não precisa máscara, não ao isolamento social, está no fim (quando nem tinha chegado à metade), a culpa é dos governadores e a cloroquina é a salvação da lavoura.
Tudo errado, tudo copiado, e deixa não uma interrogação, mas um grito no ar: e se Joe Biden vencer? (por Eliane Cantanhêde)
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