Segundo noticia a agência Ansa, o escritor e perseguido político Cesare Battisti iniciou uma greve de fome na cadeia para protestar contra o regime de isolamento diurno ao qual está submetido desde o início de 2019.
Condenado por quatro homicídios que foi coagido a admitir sob ameaça de receber tratamento extremamente desumano como o que se constata na foto abaixo, de uma cela de prisão de segurança máxima italiana, ele inclusive assumiu a autoria de um assassinato no qual havia impossibilidade material de estar presente na cena do crime!
E foi enganado, pois não vem recebendo os direitos que negociou com os promotores italianos.
E foi enganado, pois não vem recebendo os direitos que negociou com os promotores italianos.
"Exauridos todos os meios para fazer valerem os meus direitos, me encontro obrigado a recorrer à greve de fome total e à rejeição de tratamentos", afirma o escritor, que continua sendo retaliado até hoje por episódios ocorridos em 1978/1979 e, acima de tudo, por ter adquirido fama como escritor, o que fez dele um troféu cobiçado pela propaganda neofascista, quando Silvio Berlusconi era o premiê.
Em qualquer país minimamente democrático, uma anistia já teria sepultado esse passado doloroso, no qual os maiores atentados, de longe, foram os cometidos pela extrema-direita (o massacre de Bolonha, que deixou 85 mortos e mais de 200 feridos; e o atentado da Piazza Fontana, no qual morreram 17 e foram feridos 88).
Cela de prisão de segurança máxima italiana |
Numa carta divulgada por seu advogado, Davide Steccanella, Battisti alega que o isolamento diurno estava previsto para durar apenas de seis meses.
Desde que voltou à cadeia depois de cerca de 40 anos de fuga, ele já entrou na Justiça para tentar diminuir sua pena, pediu prisão domiciliar por causa da pandemia do novo coronavírus e reclamou da comida no cárcere, inadequada para um idoso com 65 anos.
Todas as suas solicitações foram sempre, constata ele, "obstinadamente negadas". E denuncia:
"A Cesare Battisti, não é sequer permitido se surpreender se, no seu caso, algumas leis forem suspensas. É o que me foi passado, sem meios-termos, por diferentes autoridades".
Além do isolamento forçado, o escritor também reclama de atendimento médico insuficiente e da "retenção arbitrária de textos literários".
Battisti cobra sua transferência para um centro de detenção que "facilite suas relações com a família" e as "conexões profissionais voltadas à sua reinserção" na sociedade. E conclui:
"Peço também que seja revista minha classificação no regime de alta segurança para terroristas, já que não existem mais as condições de risco que a justifiquem".
Já o advogado Steccanella afirma, num pedido enviado recentemente às autoridades penitenciárias, que os "mínimos direitos humanos do detento" devem ser garantidos "até para Cesare Battisti", para que a "legítima execução de uma pena não assuma os contornos de um vingativo sepultamento tardio de um indivíduo 40 anos após os fatos cometidos".
Finalmente, a defesa queixa-se de que as condições carcerárias que estão sendo impostas a Battisti impedem os contatos por meios eletrônicos com seu filho brasileiro de quase seis anos de idade. (por Celso Lungaretti)
4 comentários:
Maldito índio boliviano, dito de esquerda (pausa para gargalhar). Em razão de fisiológicos como esse índio safado, o teatro do absurdo se consumou com a prisão de Battisti quase 40 anos depois do fim dos anni di piombo. (Alex de Paula Xavier Pereira)
O que sempre estranhei no Cesare era uma certa ingenuidade, que eu não tinha quando levava essa vida aos 18/19 anos, nem os companheiros da VPR, mesmo os mais inexperientes, tinham. Indagava-me se o pessoal da luta armada na Itália era todo assim ou só ele em particular.
Quando a França decidiu concordar com o pedido de extradição italiano, o próprio Serviço Secreto francês o ajudou a fugir. Foi para Espanha, Portugal, ilha da Madeira, ilhas Canárias e, finalmente, Fortaleza. Dá a impressão de ter sido monitorado o tempo todo pelos inimigos.
No Brasil, quando resolveram prendê-lo na década passada, o fizeram com a maior facilidade. O Cesare mesmo me disse que eles provavelmente sabiam onde ele estava. Deveria ter vazado antes, o Brasil é enorme, em algum lugar ele conseguiria ficar seguro.
No Governo Temer, ele percebeu que a coisa ia ficar ruim para si e fez aquela tentativa juvenil de atravessar a fronteira pela Bolívia. A polícia o parou no meio do trajeto, revistou o carro e deixou seguir. Nem quando eu tinha 18 anos deixaria de perceber que havia uma cilada esperando adiante. Ele e os companheiros que estavam juntos não desconfiaram de nada e caíram na cilada.
Por último, confiar no Morales. Embora não goste do Maduro, numa circunstância dessas, eu confiaria mil vezes mais nele do que no Morales. Porque o Maduro é do tipo do Getúlio, só o tirariam do poder morto. Já para o Morales (como para a Dilma), bastou um pé na bunda e ambos saíram docilmente.
E por que ele foi passear pelas ruas da cidade, onde poderia ser surpreendido, ao invés de ficar trancado no seu abrigo? Para um perseguido, é sempre preferível estar numa situação que permita decidir se quer trocar tiros com o inimigo ou render-se. Na rua, mesmo querendo resistir, isto pode ser impossível.
Foi algo que me incomodou durante todo o meu tempo de prisão. Por confiar num companheiro com quem havia estado 8 horas antes, cheguei no "ponto" (uma padaria) sem nenhuma preocupação e, de repente, uns cinco policiais me agarraram de tudo que é lado. Tinha um .38 na cintura mas não pude usar, a primeira providência deles era segurarem firmemente nossos braços.
Quando saí da prisão, jurei a mim mesmo que nunca mais seria surpreendido daquela forma. E não fui.
O que me chocou por volta do início da década passada foi a ingenuidade de Battisti em conceder à Folha de São Paulo, no litoral sul onde estava incógnito.
O jornal reacionário em inúmeros editorias vinha defendendo sua extradição. Pior ainda; é induzido a ir até um bar onde é fotografado com uma cerveja na mão.
Sem dúvida, um bom homem que confiou na promessa do repórter de não ser publicada a foto o que foi uma canalhice profissional sem tamanho para agradar o patrão Frias. Por onde anda esse brilhante jornalista?
Dificilmente Battisti ganhará a liberdade da masmorra da Itália onde está preso. No entanto a atitude de três pessoas , supostos esquerdistas, terão essa nódoa nas biografias deles: Lula, por detratá-lo, dizendo recentemente que foi enganado por Battisti , isto é convalidando as acusações dos fascistas italianos.
Mino Carta, pela sistemática campanha pela extradição em sua revista e o pusilânime, covarde político, Evo Morales.
Luiz Carlos Barbosa
Barbosa, aquele copo na mão, com o qual militante revolucionário nenhum deve deixar-se fotografar, foi ingenuidade do Battisti, mas, principalmente, má fé do repórter.
O sujeito chegou ao Cesare graças a ser parente do Magno de Carvalho, o sindicalista da USP que era amigão dele e, inclusive, foi quem o instalou em Cananeia, para poder prestar-lhe uma assistência constante.
Se bem me lembro, o repórter era sobrinho do Magno, daí o Cesare feito o possível para agradá-lo, por gratidão àquele companheiro que tanto o ajudava.
Quando a foto foi publicada, o Magno lançou um documento denunciando a forma como o Cesare fora levado a posar para ela. E eu protestei à redação da Folha e ao (ou à) ombudsman de então por desrespeito às boas práticas jornalísticas, em vão.
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