"A Polícia Federal deflagrou na manhã desta 4ª feira (9) operação para investigar um suposto esquema de tráfico de influência no STJ e no TCU com desvio de recursos públicos do Sistema S.
Entre os alvos de mandados de busca e apreensão estão os advogados do ex-presidente Lula, Cristiano Zanin e Roberto Teixeira, acusados de liderar o esquema. Os dois já se tornaram réus pelo caso.
O advogado Frederick Wassef, ex-defensor da família do presidente Jair Bolsonaro, também é alvo de busca e apreensão".
Como amiúde acontece com as advertências que lanço e são ignoradas de imediato pela esquerda brasileira, o desenrolar dos acontecimentos encarregou-se de mostrar quão certo eu estava em 1997.
Foi quando alertei, em artigo publicado no Jornal da Tarde (SP), que ao não expulsar Teixeira como maçã podre, mas expulsando o militante honesto que denunciou suas falcatruas, o PT sinalizava um liberou geral! para as práticas viciadas da política convencional alastrarem-se por suas fileiras, o que acabaria por destruí-lo em médio ou longo prazo.
Quem então me criticou deveria ter a dignidade de desculpar-se agora comigo: a corrupção realmente se tornou frequente nas administrações petistas, isto realmente acabou destruindo o partido e Teixeira realmente responde na Justiça por mais uma maracutaia.
Depois daquele episódio de 1997/8, o nome de Teixeira reapareceria no noticiário político-policial em 2006, quando era advogado da Brasil Telecom e foi convocado para depor na CPI dos Bingos (ele admitiu conhecer Daniel Dantas, mas se disse impedido de dar mais detalhes por haver cláusula de confidencialidade); e em 2017, quando se tornou réu da Operação Lava jato, após ser citado nas delações premiadas da Odebrecht, conforme Josias de Souza informou no seu blog:
No topo, o tal Teixeira; aqui, o companheiro PT Venceslau. |
"Surgiu entre os delatores o engenheiro escalado pela Odebrecht para realizar a reforma do sítio de Atibaia: Emyr Costa. Ele conta como tocou a obra, fala do dinheiro vivo que teve que manusear e dá nomes aos bois.
Como se fosse pouco, informa que, sob orientação de Roberto Teixeira, advogado e compadre de Lula, elaborou um contrato falso para apagar da obra as digitais da Odebrecht e da família Lula".Este é o compadre do Lula, para cuja salvação ele chegou inclusive a ameaçar desligar-se o PT.
Vale a pena relembrarmos o episódio.
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PT EXPULSA PT
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Foi a insistência de Lula em manter o Roberto Teixeira dentro do PT que determinou uma das decisões mais infames tomada pelo partido no século passado: a expulsão de Paulo de Tarso Venceslau, veterano do movimento universitário e da resistência à ditadura (foi da ALN), militante dos mais honestos e dignos, tão identificado com o partido que era chamado carinhosamente de PT Venceslau.Tal economista foi a única voz no partido a protestar contra o primeiro grande esquema de desvio de recursos públicos para financiamento partidário, por meio de uma firma chamada CPEM (Consultoria para Empresas e Municípios).
Tendo sido secretário das finanças de duas prefeituras do PT no interior paulista, em ambas ele resistira às pressões para contratar a CPEM ou para pagar-lhe valores exorbitantes por serviços não prestados, acabando por ser exonerado da última delas, a de São José dos Campos.
Depois de dois anos de denúncias infrutíferas aos dirigentes máximos do partido, Venceslau tornou público o favorecimento escuso à CPEM em entrevista ao Jornal da Tarde (SP).
Como resposta ao escândalo, o PT submeteu o assunto a uma Comissão Especial de Investigação presidida por Hélio Bicudo, cuja salomônica decisão foi a de que Venceslau errara ao vazar um assunto interno para a imprensa burguesa; e o Roberto Teixeira, titular da CPEM, deveria ser julgado por corrupção.
Desrespeito à sua investigação começou a afastar Bicudo do PT |
"...parece provável que ROBERTO TEIXEIRA possa ter se valido, de forma pouco ética, da amizade com LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA, para não só se omitir face ao dever de informar e acautelar em relação à CPEM como também para desqualificar denúncias contra a mesma.
No caso presente, parece ser difícil descartar a hipótese de que ROBERTO TEIXEIRA tenha cometido ‘abuso de confiança’ com ‘aproveitamento das relações de amizade’ que mantém com LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA. Entre a defesa da empresa que gerou renda para seu irmão e presumivelmente para si e o interesse público e partidário, ROBERTO TEIXEIRA optou pela primeira. No âmbito desta opção deve ser, portanto, avaliado em sua conduta.
Assim sendo, a presente Comissão de Investigação não pode deixar de concluir que a presumível conduta de ROBERTO TEIXEIRA, na conformidade do que acima se relatou, não se coadunaria com os rígidos padrões éticos que devem orientar as condutas dos militantes do PARTIDO DOS TRABALHADORES. Se em outras agremiações partidárias comportamentos de tal natureza costumam ser aceitos como normais ou não qualificados como dignos de repreensão, no PT comportamentos dessa natureza se colocam como descabidos e inaceitáveis.
É, portanto, dentro desta dimensão que esta Comissão sugerirá ao final deste Relatório à Executiva Nacional do PT a abertura de processo ético-disciplinar contra o militante ROBERTO TEIXEIRA pela prática de grave conduta a ser avaliada e julgada, após regular direito ao contraditório e ampla defesa, pelo órgão partidário competente".
A direção partidária optou, então, por desconsiderar o parecer da Comissão, expulsando Venceslau e aliviando para Teixeira. Foi o instante em que se assumiu como um partido igual aos outros, capaz até de sacrificar um militante exemplar e (revolucionário) para preservar uma maçã podre.
Segundo Venceslau, o tal Teixeira teria sido, inclusive, "torturador do delegado Fleury".
Tudo que de ruim aconteceria depois foi consequência dessa terrível decisão. Orgulho-me de haver me solidarizado a Venceslau, antecipando que o partido tendia ao desvirtuamento, no artigo PT expulsa PT – que o Jornal da Tarde então publicou com destaque na sua página de Opinião, ao lado de uma crítica que João Paulo Cunha (depois condenado no julgamento do mensalão) fazia ao correto trabalho jornalístico de Luiz Maklouf Carvalho.
Vale reproduzir dois trechos do artigo em questão, um desagravando o companheiro injustiçado (ele mereceu isto e muito mais!) e outro antevendo o futuro que se desenhava para o PT a partir do péssimo precedente que fora aberto:
Vale reproduzir dois trechos do artigo em questão, um desagravando o companheiro injustiçado (ele mereceu isto e muito mais!) e outro antevendo o futuro que se desenhava para o PT a partir do péssimo precedente que fora aberto:
"Poucos no Brasil levam suas convicções às últimas consequências, como Paulo de Tarso. Ele correu todos os riscos em nome de princípios que acreditava serem compartilhados por seus companheiros. Terão eles a coragem de manter-se fiéis a esses princípios? Cada um, ao definir sua atitude em relação a Paulo de Tarso, estará definindo quem é e o quanto vale".
"O episódio em questão evidencia que a ideologia dominante do PT passou a ser mesmo a da banda podre do funcionalismo. Os cofres públicos existem para ser saqueados. Nada há de errado em desviar recursos públicos das administrações municipais para campanhas políticas. O único pecado é violar a lei de silêncio da máfia estatal".
Felizmente sou longevo: precisei chegar vivo à idade atual para, na iminência de tornar-me septuagenário, ver o Teixeira na condição que ele merece (a de réu). E, se alguns petistas me devem desculpas, é o próprio partido quem deveria desculpar-se com Paulo de Tarso Venceslau, hoje com 76 anos, e anular aquela expulsão injusta e infame. (por Celso Lungaretti)
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