leonardo sakamoto
TAXAR SUPER-RICO PARA BANCAR RENDA BRASIL RESOLVERIA PROBLEMA DE BOLSONARO
Tirar dos ricos para dar aos pobres... |
Para respeitar o teto de gastos, o dinheiro viria do abono salarial, do salário-família, do seguro defeso, do Farmácia Popular. O presidente disse que isso seria tirar do pobre para dar ao paupérrimo, o que venho afirmando desde que a ideia sem pé nem cabeça veio a público.
Para ser mais exato, é tungar do pobre CLT para remediar o pobre da informalidade.
Ele, contudo, ignorou um elemento da equação social: os multimilionários e bilionários. Outras democracias vêm discutindo aprofundar a cobrança de impostos sobre os abastados para bancar os mais pobres na crise e depois dela.
No Brasil, há uma série de iniciativas nesse sentido tramitando no Congresso. Ele já se mostrou contra a ideia no passado. Mas, até aí, ele também já havia xingado o Bolsa Família e hoje o abraça como se fosse fã desde pequeno.
Com o aumento em sua aprovação segundo o Datafolha, principalmente entre quem ganha até três salários mínimos, Bolsonaro já entendeu os efeitos terapêuticos da transferência de renda entre uma população historicamente deixada para trás nas prioridades do poder público.
Percebe que não pode simplesmente acabar com o auxílio emergencial de R$ 600/R$ 1200 (aliás, ele deveria tratar deputados e senadores, os verdadeiros pais e mães disso, a pão de ló por esse presente) se quer se reeleger. E decidiu anabolizar o Bolsa, em valor e beneficiários. Só está com um problema para saber de onde sairia o dinheiro.
Tributar os super-ricos pode arrecadar cerca de R$ 292 bilhões anuais para serem usados contra a crise. É o que defendem a Federação Nacional do Fisco, a Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal, os Auditores Fiscais pela Democracia e o Instituto Justiça Fiscal, entre outras instituições.
...contraria a lógica e o espírito do capitalismo... |
Eles apresentaram 11 propostas legislativas que estão em consonância com o plano de Reforma Tributária defendido pelos partidos de oposição. "A maior parte dessas medidas podem tramitar por projeto de lei. Precisam ser aprovadas ainda em 2020 para passarem a valer em 2021", afirma Eduardo Fagnani, professor do Instituto de Economia da Unicamp, que participou da elaboração da proposta.
A tributação sobre patrimônio é criticada entre determinados economistas, que juram que os bilionários brasileiros iriam tirar o dinheiro do país. Contudo, apenas o Imposto sobre Grandes Fortunas arrecadaria R$ 40 bilhões nos cálculos desse grupo de entidades.
O resto viria de uma maior progressividade do Imposto de Renda de Pessoa Física (R$ 160 bilhões, incluindo a taxação de dividendos), do aumento temporário da alíquota da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido de setores econômicos com alta rentabilidade (R$ 30 bilhões) e da criação da Contribuição Social Sobre Altas Rendas (R$ 25 bilhões), entre outros.
O Imposto sobre Grandes Fortunas taxaria patrimônios superiores a R$ 10 milhões, abraçando 60 mil pessoas. E o Imposto de Renda aumentaria paulatinamente para quem ganha mais de R$ 23,8 mil por mês – que, segundo eles, perfazem 1,1 milhão de pessoas, 3,6% dos contribuintes. A alíquota mais elevada (45%) incidiria sobre 211 mil contribuintes (0,1% da população) que ganham mais de R$ 60 mil por mês.
...daí não passar do sonho de uma noite de verão... |
O então deputado Jair Bolsonaro disse, em entrevista ao documentarista Carlos Juliano Barros, em 2015, que quem recebe o Bolsa Família não faz nada da vida, só produz filhos para o Estado custear:
"Uma política de planejamento familiar, acho que só eu falo aqui nessa casa [Câmara dos Deputados]. O cara tem três, quatro, cinco, dez filhos e é problema do Estado, cara. Ele já vai viver de Bolsa Família, não vai fazer nada. Não produz bem, nem serviço. Não produz nada. Não colabora com o PIB, não faz nada. Fez oito filhos, aqueles oito filhos vão ter que creche, escola, depois cota lá na frente. Para ser o que na sociedade? Para não ser nada".
Em 17 de outubro de 2018, entre o primeiro e o segundo turnos da eleição presidencial, ele criticou a taxação dos mais mais ricos em entrevista ao SBT:
"Eu acho que, no Brasil, você não pode falar em mais ricos, está todo mundo sufocado. A carga tributária é enorme. Quase tudo é progressivo no Brasil".
...que não sobrevive à vontade férrea dos Putins e das Merkels. |
Tendo visto que sua sobrevivência política e eleitoral depende disso, Jair não só mudou de opinião sobre o Bolsa Família (hoje com 14,2 milhões de famílias), como quer algo maior (de 20 a 30 milhões de famílias), passando de uma média de R$ 190 para algo em torno de R$ 300, na forma do Renda Brasil, a fim de herdar parte da base lulista.
Se ele "mudou de opinião" sobre o Bolsa Família, não por uma questão ideológica, mas pragmática, talvez não seja impossível mudar também sobre a taxação de super-ricos.
Para tanto, teria de fazer um cálculo:
— ou beneficia dezenas de milhões de brasileiros e pavimenta sua reeleição;
— ou mantém boa relação com mercado e mantém acesa a chama do bolsonarismo-raiz (que acha que taxar bilionário é pecado e Bolsa Família é voto de cabresto).
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TOQUE DO EDITOR — Nunca deixo de trazer para o blog estas soluções racionais e exequíveis para amenizarmos o infortúnio dos pobres e dos paupérrimos do Brasil, pois cumprem um papel educativo, qual seja o de provarem de maneira cabal que haveria, sim, como socorrer os coitadezas sob o capitalismo... caso a insensibilidade social não fosse intrínseca à exploração do homem pelo homem.
Governo do PT tirou a escada e Suplicy ficou pendurado na brocha |
Essas propostas vêm, vão e nada acontece, tanto que a Renda Básica da Cidadania, sonho de uma noite de verão do nosso bom Suplicy, foi aprovada em pleno governo petista, que, contudo, não moveu uma palha para transformá-la em realidade.
Na prática a teoria é outra, dizia o Joelmir Beting. Nunca devemos esquecer que o objetivo do capitalismo é L-U-C-R-O, como martelava o economista liberal Eugenio Gudin. (por Celso Lungaretti)
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Observação — o título do post faz referência ao herói mítico inglês do século 12 e ao personagem de Charles Dickens em sua conhecidíssima História de Natal, um empedernido agiota que inspiraria o Walt Disney na criação do Tio Patinhas.
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