terça-feira, 2 de junho de 2020

O TREM DA HISTÓRIA JÁ PARTIU DA ESTAÇÃO E ESTÁ GANHANDO VELOCIDADE

UNIDADE JÁ
Começa a desfazer-se a letargia da sociedade civil no isolamento imposto pela epidemia de coronavírus. A democratas cumpre erguerem-se para arrostar as repetidas agressões do presidente Jair Bolsonaro à ordem constitucional.

Multiplicam-se os manifestos em favor da democracia. Adversários eleitorais e antípodas ideológicos põem divergências e ressentimentos à parte para defender a liberdade de expressão e outros direitos fundamentais contra os quais ladra uma minoria de fanáticos a levantar bandeiras extremistas.

Iniciativas como Estamos Juntos, Basta! e Somos 70 por cento ganham adesões rapidamente. Centenas de integrantes do Ministério Público Federal se insurgem contra a prostração do procurador-geral, Augusto Aras, perante os mármores do Planalto.

Pesquisas de opinião registram elevação contínua da reprovação ao presidente, com 43% dos entrevistados a avaliar seu governo como ruim ou péssimo. Rejeitam a ideia de armar seguidores nada menos que 72% dos ouvidos; 52% repudiam o aparelhamento dos órgãos de governo por militares.
Em que pesem obstáculos para mobilizar a maioria não ensandecida do país, em meio à sabotagem dos esforços para conter a mortandade da Covid-19, a opinião pública se desanuvia com a lembrança do vendaval Diretas Já, lufada que varreu a ditadura militar.

Urge, p. ex., desmontar a interpretação liberticida de que o artigo 142 da Constituição daria autorização para as Forças Armadas investirem contra o Judiciário ou o Legislativo, a mando do Executivo. Estultices do gênero merecem enérgica resposta da sociedade.

O presidente e sua família cevada no baixo clero parlamentar se encontram enrascados em múltiplas frentes policiais e judiciárias, a demandar esclarecimentos.

Das rachadinhas à promiscuidade miliciana e do aparelhamento da Polícia Federal ao desmonte da capacidade de reação diante da epidemia e da devastação ambiental, proliferam as condutas suspeitas ou escandalosas sobre as quais um gabinete de ódio busca erguer cortinas de fumaça tóxica.

Se faltam votos para deslanchar uma investigação de crime de responsabilidade, essa é tão somente a situação do momento. Os manifestos são demonstração de que existem setores vigilantes.

Restam ainda os flancos abertos no Supremo Tribunal Federal e no Tribunal Superior Eleitoral —este com a revelação de malfeitos do exército de robôs informáticos mantidos por uma camarilha de empresários aliados.

Bolsonaro está cercado, mas o bastião da Presidência é forte. Há um caminho duro pela frente para quem se reúne em torno da Carta. (editorial de 02/06/2020 da Folha de S. Paulo)
"Siset, tu não vês a estaca/ a que estamos atados?/ Se não nos livrarmos dela,/
não poderemos caminhar!/// Se a puxarmos, ela cairá/ e não muito 
mais durará,/ decerto tomba, tomba, tomba,/ bem podre ela
já está./// Se eu a puxar com força aqui/ e tu a 
puxares com força aí,/ decerto tomba,
tomba, tomba/ e poderemos
nos libertar"

2 comentários:

Anônimo disse...

Caro Celso
Não é 'a estaca a que estamos atados', é o mourão

celsolungaretti disse...

Bem pensado: era uma estaca na Espanha do Franco, aqui talvez seja um mourão.

Embora eu tenha sempre a impressão de que o Mourão dá certas declarações sabendo que o Bozo cairá de qualquer jeito e procurando afastar suspeitas de que mexia os pauzinhos para sua queda, como o Michel Temer fez com a Dilma.

Como a lealdade é um valor caro aos militares, pode muito bem ser só um teatrinho preventivo dele.

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