segunda-feira, 8 de junho de 2020

O BRASIL (E O MUNDO) SE LEVANTA

"Eu não posso respirar..."
(George Floyd, enquanto um policial
supremacista branco continuava
a assassiná-lo por asfixia)
Uma constatação é inevitável: a humanidade já não suporta conviver com a debacle capitalista em curso e com o autoritarismo da ordem social que a ele serve.

Personagens como Donald destrumpelhadoBoçalnaro, o ignaro e similares são os últimos suspiros de existência de um sistema moribundo (ou morimundo) em busca de um passado que não volta jamais. 

A deterioração da qualidade de vida da humanidade, motivo da sua indignação generalizada nos dias atuais, resulta de uma conjunção de fatores, tais quais: 
— a concentração da riqueza das mãos dos poucos vencedores de uma guerra concorrencial de mercado que aniquila os perdedores (somente restando para os empobrecidos os serviços de baixo valor econômico);
 o volume de informações (e, infelizmente, desinformações) que atinge até mesmo os menos escolarizados, não só unificando o sentimento de repulsa como embrutecendo o ser humano, à medida que obriga-o a tomar conhecimento do que de mais chocante ocorre no seu país e no mundo);
 o desemprego estrutural crescente;
 os danos ecológicos causados pelo aquecimento global e poluição de rios, mares e atmosfera;
 a falência do Estado, o qual perde assim a capacidade de prover minimamente as demandas sociais que justificam a sua existência (educação, saúde e segurança pública), impossibilitando-o de financiar até o que realmente interessa ao capital (elaboração de leis capitalistas pelo legislativo; exigência do seu cumprimento pelo judiciário; e administração da infraestrutura do funcionamento do capital); e
 a depressão econômica em curso, causada pela contradição dos próprios fundamentos capitalistas.
O mundo civilizado grita em uníssono: basta! Mas, as amarras sistêmicas, cujas rédeas estão são firmemente empunhadas pelos privilegiados, resiste às transformações sociais exigidas. 

Trata-se do confronto épico entre conceitos ultrapassados que insistem em manter-se vigentes e as dores do parto do novo que quer surgir do ventre social prenhe de um novo tipo de relação social, adequado às exigências do novo tempo.  

Formam-se esquadrões de um lado e de outro, mas a predominância de um pensar e agir coadunado com a necessidade de transformação e o incrível sentido de resistência e combate que trouxe os hominídeos até aqui, é o que deverá prevalecer.  

Já não são mais os partidos políticos com seus signos enquadrados e submissos à lógica do sistema, que impulsionam o debate dialético histórico, mas sim a turba que se veste de preto, como que a denunciar e promover o funeral dos velhos conceitos ultrapassados e insustentáveis. 

Já não será a força militar institucional suficientemente forte para manter os grilhões da opressão sistêmica, pois até mesmo os militares de baixa patente conhecem, desde as suas origens, a realidade sob a qual vivem os seus familiares e irmãos de infortúnio, bem como as injustiças que impregnam a ordem social estabelecida.
Há uma crise no topo que evidencia a falta de unidade do comando político. No caso brasileiro, nenhum astrólogo (muito menos algum picareta como Olavo de Carvalho) foi capaz de prever que, apenas um ano e meio depois de empossado o atual (des)governo, veríamos:
 Joice Hasselmann, campeã de acessos pela internet e líder da bancada governamental na Câmara Federal, denunciando os desmandos daquele em quem confiou cegamente;
 Gustavo Bebianno, antes presidente do PSL (que foi em 2018 o partido de aluguel do candidato free lancer que, mesmo com 30 anos de medíocres mandatos legislativos  nas costas, se fazia passar por outsider e por adversário da velha política), viesse a ser também triturado pela máquina de moer reputações do clã boçalnariano antes de morrer, talvez de desgosto;
 Sérgio Moro, que deixou a carreira de magistrado federal para embarcar na aventura boçalnariana (talvez por haver-se deslumbrado com a própria popularidade, talvez por ter ingenuamente acreditado que um sistema corrupto por natureza pudesse ser gerido de forma honesta e infensa às pressões econômicas, terminar melancolicamente como delator;
 João DóriaRonaldo Caiado e Wilson Witzel, governadores que se afinavam com as bandeiras conservadoras e delas se beneficiaram, sendo hostilizados e sabotados pelo também conservador Boçalnaroconstatando na prática quão destrambelhado é esse personagem que jamais brilhou pela defesa de teses socialmente contributivas quando vereador e deputado, só se destacando por amiúde proferir sandices chauvinistas e bravatas militares;
 Donald destrumpelhado virando as costas para o presidente brasileiro mais submisso aos interesses estadunidenses em todos os tempos, chegando a qualificar de "comprometedora" a sua atuação durante a pandemia e proibindo a entrada de brasileiros nos EUA (entre outras flagrantes descortesias, como o veto à entrada do nosso país na OCDE);
 Olavo de Carvalho, ideólogo da trupe de milicianos e fazedor de ministros, mandando Boçalnaro enfiar naquele lugar a condecoração que lhe outorgou.

Já, já, os parlamentares do centrão, sempre ansiosos por disporem dos bilhões do orçamento público para suas campanhas eleitorais (e não duvidamos de que alguns, mesmo já sendo ricos, pretendam enriquecer mais ainda de forma ilícita, apesar de arriscarem-se e passar férias na cadeia, como Paulinho sem Força, Roberto Jefferson e Valdemar da Costa Neto), deverão também abandonar o barco, tão logo percebam que a água do convés não pode ser drenada. 

Os ratos já estão se colocando a salvo, e até os grandes empresários da Fiesp mostram-se incomodados com o rápido derretimento do governo, além de considerarem prejudicial a seus interesses a atual condição do Brasil, isolado como pária de um mundo em franca decadência (afora a crise sanitária, a depressão econômica que já era dada como inevitável antes da pandemia, agravou-se de modo catastrófico após a eclosão desta. 

Outrossim, quando eles querem defenestrar alguém que já não serve aos interesses do capital, qualquer pedalada nos dados das mortes pela Covid-19 no Brasil já bastaria; que dirá um processo eleitoral viciado por fake news perante o TSE ou uma sentença do STF pelo crime cometido com a  interferência indevida na PF.  
Boçalnaro está por um fio e os militares não se envolverão numa aventura que possa levar o país a uma guerra civil.

Por sua vez, o mundo, tocado pela faísca da agressão assassina de um supremacista branco a um homem negro, vem dando demonstrações de quão potente pode ser a consciência popular de que não dá mais para aceitar passivamente a decomposição social de suas relações sociais e ecológicas.

Nos Estados Unidos são milhões, em centenas de cidades, que se mobilizam contra a injustiça social (e olhe que é o país rico do mundo!). Na Europa, Oceania, Africa e Ásia, bem como nos demais países do continente americano, ecoa o mesmo grito de basta!

O domingo, 7 de junho, ficará marcado no Brasil como o dia em que o povo retomou o comando das ruas e provou a força de sua capacidade de indignação e ação. 

Como o caminho da emancipação popular vai ser longo, ainda bem que já demos o primeiro passo! Os próximos serão mais fáceis... (por Dalton Rosado)

Nenhum comentário:

Related Posts with Thumbnails