terça-feira, 2 de junho de 2020

LÁ VEM O BRASIL, DESCENDO A LADEIRA... (um artigo de Dalton Rosado) – final

(continuação deste post)
"fazer-nos retroceder ao absolutismo feudal"
De resto, vale lembrarmos também os fatores políticos que concorrem para piorar nossas perspectivas. Então, como desrespeito governamental causador do descrédito mundial, podemos citar a incrível tomada de posições contrárias ao que o senso comum internacional já classificou como princípios consolidados e imutáveis, tais como:
— o desrespeito aos direitos das comunidades indígenas; 
— o descompromisso com a preservação ecológica; 
— a falta de empenho no combate à corrupção com o dinheiro público; 
— a hostilização de instituições do Estado (poderes Legislativo e Judiciário) que deveriam estar mantendo convivência harmoniosa com o poder Executivo; 
— as violações da Constituição; 
— a não observância da impessoalidade dos atos administrativos e a condescendência com o nepotismo; 
— o descumprimento unilateral da norma de soberania respeitosa e bilateral entre países, sem preferências e submissões ideológicas prévias; 
— o desinteresse pelo combate ao racismo, à xenofobia e à misoginia, dentre outras franquias democráticas burguesas consagradas pelo senso de civilidade (hipocrisias à parte).

O governo do capitão Boçalnaro, o ignaro tem retrocedido no tempo com relação a tais conquistas das democracias burguesas consolidadas (muitas das quais nós questionamos, principalmente aquelas que se referem à estrutura institucional vertical e opressora do Estado e à mediação social segregacionista pelo capital).
JK construía o futuro, o Bozo sonha com o passado
A democracia burguesa é uma arapuca dominada pelo poder econômico que dá a personagens como o Boçalnaro a oportunidade de assumir o poder político, mas continua sendo menos ruim do que o absolutismo militar com que sonha esse paradoxal personagem enxotado da caserna quando ainda era tenente. 

Os atos de governo parecem querer fazer-nos retroceder ao absolutismo monárquico feudal, no qual o rei era a Constituição. Aliás, não é de se admirar que ele tenha dito ser a constituição, nem que entre os parlamentares investigados no processo das fake news esteja um legítimo representante da família Orleans e Bragança, descendente dos monarcas que governaram o Brasil. 

Mas devemos dizer, a bem da verdade, que o soberano D. Pedro II era bem mais liberal, democrata e humanista do que os militares que aqui implantaram a República, a cuja tradição o governo atual rende repetidas homenagens. Mas nem a monarquia, nem o militarismo resolveram a contento os problemas sociais na história mundial. 

Ademais, as mudanças frequentes e por vezes em curtíssimo prazo de ministros e ocupantes de cargos importantes na estrutura administrativa são tão rápidas como o eram as blitzkriegs alemãs da 2ª Guerra Mundial, fato que revela o desacerto das escolhas e de suas políticas administrativas. 

Tal conjunção de crise econômica e desmandos políticos produz o desastroso caldo de cultura que submete o Brasil de hoje a vexames internacionais e às agruras que torturam nosso povo. 
"doutores trocados por oficiais na pasta da Saúde"
4o Brasil como atual epicentro da crise sanitária e da devastação florestal – temos, atualmente, uma média de 1.000 mortes diárias causadas pela Covid-19. 

Com os Estados Unidos registrando cerca de 1.500 óbitos diários, apenas estes dois países respondem por 60% do morticínio planetário, segundo a Organização Mundial da Saúde. 

É que tanto o presidente Destrumpelhado como o Boçalnaro teimam em minimizar a capacidade infecciosa do coronavírus e sua letalidade (que varia entre 5% e 8%, dependendo da capacidade de atendimento médico eficiente, saturado ou inexistente de cada região).

O ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo comparou o isolamento social aos campos de concentração nazistas, um paralelo rechaçado com indignação por várias lideranças judaicas. Exagero tão descabido e equivocado apenas demonstra quão fora de sintonia são os seus conceitos.

Aliás, por que será que os sinistros gostam tanto de fazer alusões comparativas com o nazismo? Serão  atos falhos, reveladores das propensões ditatoriais que são obrigados a ocultar em público?

O governo Boçalnaro chegou ao cúmulo de afastar dois médicos que não aceitaram a implementação de bizarrices genocidas como drogas milagrosas e isolamento vertical. Não é de admirar-se que muitos doutores tenham sido substituídos por oficiais do Exército em pleno Ministério da Saúde (!).  Foi como entregar o volante do carro a um cego numa grande rodovia em horário de pico...   
Média de mil óbitos/dia e ele não dá a mínima!
Está devidamente comprovado que a cloroquina ou seu derivado hidroxicloroquina não apenas são ineficazes para o combate à Covid-19, como perigosos quando usados atabalhoadamente (seus efeitos colaterais podem causar a morte do paciente). 

Querer que um tal remédio sirva como profilaxia da doença é o mesmo que querer que um tiro de revolver atinja a lua (para usar em exemplo bélico, bem na linha das fantasias fálicas do Boçalnaro).

Querer que nossa economia, de há muito combalida, chegue a algo parecido com uma normalidade depois de duramente atingida pela pandemia, que já fez a recessão anterior evoluir para depressão, é tão absurdo como se pretender que o ministro Abraham Weintraub e suas idiossincrasias erradiquem o analfabetismo no Brasil.

Estamos despencando ladeira abaixo, mas como toda descida corresponde a uma posterior subida, ainda haveremos de vivenciar dias melhores... mas sob novos e corretos pressupostos! (por Dalton Rosado)

Um comentário:

Anônimo disse...

Tranquilo Dalton.

O momento é agora e a luta está sendo travada. E não está circunscrita apenas ao nosso maravilhoso e cronicamente inviável país.
Deblateram-se as massas nas ruas das cidades de todo o planeta caminhando a esmo, ao passo que ações de violência são cuidadosamente urdidas por alguns de maneira a incendiar ainda mais os participantes de passeatas.
De outra feita, já não se obedece ao confinamento e, como no carnaval, não se questiona o custo em vidas dessas aglomerações.
***
Talvez a primeira onda não foi o bastante, há de se querer uma segunda para chegar-se ao intento inicial. Destruir o local e impor-se de uma vez por todas o global.
***
Os impactos econômicos da 1ª onda foram minimizados pela altíssima liquidez que irrigou os mercados. Coisa de trilhões.
Aqui, segundo o BC, só para comprar tranches de dívida tem 600bi.
600 bilhões para segurar os passivos dos bancos que se alavancaram enormemente fornecendo crédito sem as devidas garantias.
Já pensou? O Brasil? Enfiar 600 bilhões para comprar papéis que são só isso, papéis.
Isso gerará uma concentração absurda de riqueza não só aqui mas em todo o mundo.
Aos pobres restará pagar os déficits gerados sob a rubrica C-19.
Ou seja, estamos no mato sem cachorro e anoitece.
***
Mas, para que escrevo a respeito disso?
Simples. Para lembrar que não há saída dentro da lógica do capital. E nenhuma ação dentro da sociedade capitalista a salvará da hecatombe final.
***
E relembrar que, fora dela, homens e mulheres tem conseguido abrir espaços onde essa lógica não é aplicada e mantê-los contra tudo e contra todos.
Os caras de Christiannia (Dinamarca) aprenderam muito e inspiraram mais outros ainda.
E continuarão a ser autossuficientes. (hoje em dia se diz "anti-frágeis").
A vida é tão bela.
Nunca entenderei porque o pessoal joga ela fora a troco de dinheiro.
***

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