terça-feira, 5 de maio de 2020

NEM PARA GOLPISTA O BOLSONARO SERVE: ELE É INCOMPETENTE, HISTORICAMENTE SUPERADO E DE UM PRIMARISMO ATROZ – 1

dalton rosado
O CAPITALISMO É ECONOMICAMENTE AUTORITÁRIO; O FASCISMO É O CAPITALISMO MILITARMENTE AUTORITÁRIO
A revolução republicana burguesa do final do século 18 na França, baseada nos princípios iluministas do poder político tripartite, foi saudada por todos como um clarão de luz (daí o seu nome filosófico) sobre as trevas do absolutismo feudal. 

Realmente, a diluição do poder político com a instituição de pesos e contrapesos entre as três instâncias que funcionariam independente e harmoniosamente a serviço dos interesses mercantis (executivo, legislativo e judiciário), regidos por uma carta constitucional legiferada dentro desses novos princípios, colocou o exercício do poder com os freios necessários à manutenção da impessoalidade da ordem burguesa mercantil que clamava por se libertar das amarras absolutistas feudais. 

Tal revolução, que se alastrou pela Europa (não sem antes sofrer forte oposição e perseguição dos governos monárquicos feudais e eclesiásticos) contou com a adesão das muitas correntes do pensamento, entre elas muitos dos socialistas utópicos e também comunistas como Karl Marx e Friedrich Engels. 

Naquele momento, metade do século 19, quando se configurava a primeira revolução industrial na Inglaterra, a questão maior era a consolidação da república, ainda que os comunistas alertassem que seu apoio era estratégico, pois já conheciam a miséria causada aos proletários pelo autoritarismo capitalista (obrigando estes últimos a venderem a preços vis a única mercadoria de que dispunham, a força de trabalho).
Marcha sobre Roma (1922): Mussolini rumo ao poder.

Aos poucos foram sendo abandonadas na Europa as relações feudais e pre-capitalistas, consolidando-se então as relações mercantis de produção de mercadorias que implicavam (como ocorre com todas as mudanças do modo social de produção) uma ordem legal e institucional consentânea com os interesses mercantis emergentes. 

Mas a miséria social reinante e até aprofundadas pela transição entre esses dois modelos de relações sociais, bem como por suas contradições intrínsecas, sempre ensejou, entre políticos capitalistas sequiosos da manipulação dessa insatisfação, o interesse de que se fizesse a junção do autoritarismo econômico capitalista com uma forma política absolutista e tutelada por um poder militar. 

São exemplos marcantes disto o fascismo italiano e seu similar alemão, o nazismo, cujo ocaso se deu há apenas 75 anos. Mas as lutas sociais contra o absolutismo pós-monárquico já vêm sendo travadas desde a primeira metade do século retrasado e, infelizmente, ainda nos vemos às voltas com seus frutos tardios. 

Em 1923 houve um incidente político militar em Munique, envolvendo os nazistas, cujo partido ainda estava em formação. Os nazis promoveram um putsch (ato de terror como demonstração de força, tal qual agredir fotógrafos e jornalistas) numa cervejaria, visando intimidar os opositores ao projeto de poder político absolutista naquela região, pretendido pelo próprio governador de então. 
Putsch da cervejaria (1923): Hitler rumo à prisão.
Tratou-se de um atentado militar apoiado clandestinamente pelo governante constitucional Gustav von Kahr, que almejava o poder absolutista, insatisfeito em governar com os contrapesos da democracia burguesa. Para tanto se conluiou com um jovem líder nazista ascendente: Adolf Hitler.

Hitler queria imitar a vitoriosa marcha sobre Roma dos fascistas italianos guiados por Benito Mussolini. A empreitada fracassou e dessa ação belicosa resultou a morte de uns 16 nazistas e a prisão de Hitler.

Ele aproveitou o fracasso e as mortes dos seus liderados para se fazer de vítima e se autoproclamar como herói nacional (semelhanças com facadas ou facadas à parte...).  

Ali estava sendo chocado, como experiência, o ovo da serpente que viria a eclodir em 1933 e que seria a gênese de tantos outros episódios de agressões violentas contra pacatos cidadãos que aconteceriam até o governa nazista levar os germânicos a uma guerra insana e cruel na qual morreram cerca de 7,3 milhões de pessoas entre militares e civis alemães. 

Posteriormente, já na prisão, Hitler declarou que “a democracia tem de ser derrotada por suas próprias forças”, passando então a trilhar o caminho do populismo eleitoral para, por dentro, chegar ao poder e concretizar seus sangrentos projetos totalitários. 

A crise capitalista dos anos 30 do século passado foi ingrediente propulsor da aceitação popular das absurdas teses e práticas nazistas de ascensão ao poder. Qualquer semelhança com o que ocorre no Brasil não é mera coincidência, mas repetição histórica, face ao desespero da população com a crise capitalista e com a inépcia de suas instituições. 
Patetada de Brasília (2020): Bolsonaro rumo ao Pinel. 

Mas, não devemos esquecer que o verdadeiro poder no capitalismo é o econômico: qualquer tentativa de sobrepor-se o poder político ao econômico é rechaçada pelos instrumentos institucionais capitalistas consolidados (força militar aí incluída).

A simbiose de poder político militar absolutista com práticas capitalistas de mediação social não combina com a ordem republicana capitalista, de vez que o capital não aceita nenhum senhor que queira dividir poder com ele mesmo. neste post

Assim, os aprendizes de caudilho que ficam irritadiços com os contrapesos republicanos de poder, simplesmente estão quebrando lanças contra moinhos de vento na ilusão de que sejam dragões. Não entendem que tanto o capital como a força militar que serve à ordem do modo de produção de mercadorias, não passam de aperfeiçoamentos institucionais visando dar um ar de civilidade a uma relação social escravista. (por Dalton Rosado)
(continua neste post)

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