segunda-feira, 9 de março de 2020

O DÓLAR FURADO SINALIZA O COMEÇO DO FIM DO CAPITALISMO, DIZ DALTON ROSADO

"Não estou preocupado com a alta do dólar" (ministro Paulo Guedes)
O dólar se valoriza no Brasil e faz sucesso na periferia do capitalismo, tal qual fez o filme italiano O dólar furado, estrelado por Giuliano Gemma e que é muito lembrado também pela música principal, Si tu non fossi bella come sei, um dos maiores sucessos da carreira de Fred Bongusto. [Curiosamente, foi esta produção de 1965 que lançou a onda dos spaghetti westerns nas bandas de cá, enquanto na Europa eles emplacaram desde o filme inicial, Por um punhado de dólares, de 1964.]

Há somente uma justificativa para tal valorização: o fato de que, como moeda meramente fiduciária que é (sem lastro em qualquer mercadoria que lhe corresponda valor), mas admitida como moeda internacional desde o final da 2ª Guerra Mundial, ela representa o mais alto grau do fetichismo da mercadoria. 

Tal como um quadro de Van Gogh, que vale milhões de dólares não pelo seu valor intrínseco (gastos com tela, pintura, moldura, horas de trabalho, etc.), mas apenas pela lei da oferta e da procura que o valoriza em razão de sua excelência e raridade como obra de arte, o dólar estadunidense vale apenas porque o mundo inteiro o aceita como uma mercadoria especial que serve de referência para a aquisição de todas as demais mercadorias. 
Mais uma vez a vida imita a arte...

O dólar é moeda oficial falsa, como costumo afirmar. Explico.

Se um falsário emitir dólar impresso numa gráfica qualquer estará cometendo um crime, principalmente por prejudicar, caso entre em circulação, o valor da moeda oficial.

Entretanto, quando o FED (o Banco Central dos Estados Unidos) emite dólares ao seu bel prazer, sem que isso cause inflação interna em razão de eles serem aceitos mundialmente tal qual uma nota promissória emitida por um banco falido, mas tido como merecedor de credibilidade (como era o Lehman Brothers, lembram-se?). 

Tal promissória circula no mercado até que, um dia, chega a hora da verdade: a data do seu vencimento sem que seja resgatada.

A emissão pelos EUA de moeda falsa oficial, sem lastro, não é crime, mas um dia restará evidenciado que se trata de uma falcatrua em desfavor dos países mundo afora. Será a sua hora da verdade.

Nas últimas semanas, alguns bilionários investidores de Wall Street viram seu dinheiro bilionário virar fumaça com a desvalorização das suas ações negociadas em bolsa, numa demonstração cabal da abstração representada pelo valor que elas representavam.

Quando as reservas guardadas em dólar (nos colchões e cofres residenciais, nos depósitos bancários ou nos créditos em dólar dos títulos das dívidas públicas e privadas impagáveis) demonstrarem a inocuidade do valor que lhes são admitidos, o dólar virará fumaça.

Será o grande crash no mundo financeiro, a partir do qual a imposição da predominância da riqueza material sobre a riqueza abstrata produzirá novas relações sociais, norteadas por valores humanistas e não pelos critérios escravistas atuais.  
Guedes deverá viajar na mesmíssima maionese do Lula em 2008
Todos os que se debrucem mais detidamente sobre os números dos fundamentos da economia estadunidense verão que os resultados de superfície (alto nível de empregabilidade, crescimento linear do PIB, capacidade de investimento estatal em demandas sociais e infraestrutura da produção, etc.) são cosméticos. 

Motivo: assentam-se sobre premissas artificialmente mantidas e que mais cedo ou mais tarde evidenciar-se-ão como insustentáveis por falta de solidez de base, ou seja, de fundamentos sólidos que lhe assegurem consistência.

Os principais fundamentos que auguram um futuro sombrio para a economia estadunidense (a única que difere dos demais países mundo afora) são:
—  endividamento público e privado crescente, que excede o PIB;
  déficit fiscal continuado e crescente;
  balança comercial deficitária causada pelo maior volume de importação de mercadorias em relação às exportações, como consequência da migração da alta produção industrial para fora do país determinada pela guerra concorrencial de mercado (com a redução cada vez mais acentuada da remessa de lucros exigida pelos países onde tais indústrias estão sediada, ou por questões tributárias locais subsidiadas). O protecionismo comercial ora praticado daí decorre; e
  gastos militares cada vez maiores, por conta do patrulhamento ideológico-econômico que exerce perante a ordem política mundial. 

Entretanto, diante da depressão econômica mundial, os Estados Unidos se apresentam como uma ilha de prosperidade e exemplo a ser seguido.

Como as mercadorias mundialmente produzidas perdem valor, seja pela redução da capacidade de consumo mundial ou pela mecanização de sua produção, ocorre o fenômeno da retroalimentação da estagnação econômica.
O mundo vinha aceitando a emissão desembestada de dólares sem lastro: chega a hora da verdade!
A redução dos custos de produção industrial com a mecanização produz o desemprego estrutural. Não se compra porque se reduzem os salários e se desempregam trabalhadores numa proporção maior que a dos novos nichos de emprego que surgem (como a uberização); e não se produz mercadorias porque as ditas cujas não são vendidas. 

Para agravar a crise, eis que surge a queda do preço do barril de petróleo em razão dos desentendimentos na Organização dos Países Produtores de Petróleo, a qual, diante da queda do consumo e aumento da oferta mundial, resolveu oferecer o seu petróleo de boa qualidade a preço aproximadamente 20% menor, cerca de U$$ 35 o barril.

Como o petróleo é a rainha das commodities, a consequência dessa tomada de posição da Opep deverá causar uma queda ainda maior dos preços da ações nas bolsas mundiais, bem como uma redução no custo da produção de mercadorias.

Esta é uma guerra comercial que pode ser mais devastadora do que os estragos causados pelo covid-19 na já combalida economia mundial. 
Os donos do PIB já percebem a roubada em que embarcaram ...

No caso da Petrobrás e do Brasil, que têm alto custo de extração de petróleo do pre-sal, tal queda dos preços do barril de petróleo deverá ser funesta tanto para o desempenho geral da economia quanto para a arrecadação fiscal e orçamento público.

A produção de mercadorias não visa à satisfação das necessidades, mas apenas faz uso do lucro que elas proporcionam. Quando isso deixa de ser viabilizado economicamente, como agora ocorre, decai a produção e a massa global de valor produzido. Simples assim.

Este é o limite do ciclo da socialização pela forma-valor no momento da contradição máxima entre forma e conteúdo. 

Quando toda a produção e serviços necessitavam da força de trabalho humana (questão de forma), era factível a substituição da escravização direta (seres humanos como propriedade de outros) pela escravização indireta do trabalho abstrato produtor de valor (escravização pela extração de mais-valia, questão de conteúdo). Mas tudo mudou. 

Outrora a relação social sob a forma-valor passou a ser mais interessante do que a escravização direta para a acumulação da riqueza sob a forma abstrata que tudo compra, bem como mais palatável pela hipocrisia da visão civilizatória cristã. A nova forma, a riqueza abstrata, era muito mais fácil de ser administrada pelos senhores escravistas, detentores do capital.

Agora, entretanto, quando a força de trabalho humana se tornou dispensável em maior parte graças ao desenvolvimento tecnológico aplicado à produção de mercadorias, a produção de valor definha e, com isto, se desfaz todo o castelo de cartas construído a partir de um modo de relação social inumano e contraditório, cujo ciclo de vida sempre esteve previamente fadado ao seu final histórico.
...pois só o que receberão de Guedes são pastéis de vento.
Atualmente verificamos a valorização, no Brasil e noutras partes do mundo, de algo que não tem valor nenhum: o dólar dos Estados Unidos.

Como as mercadorias estão perdendo valor (sejam elas ações, objetos de vida perecível no curto prazo, ou de vida duradoura como bens imóveis), muitos dos detentores de capital têm buscado no dólar estadunidense, mais do que um porto pretensamente seguro, um ganho especulativo. 

Ora, a busca frenética de aquisição do dólar para entesouramento como forma de pretensa proteção de desvalorização das mercadorias em geral promove a subida de valor da moeda em relação às outras que circulam no mercado financeiro por conta da lei da oferta e da procura, daí resultando em lucro dos especuladores, que ganham dinheiro sem maior esforço (eles, sim, são os verdadeiros parasitas). Mas o final desse processo especulativo será desastroso para tais especuladores. 

Diferentemente do que avalia o nosso ministro da Economia Paulo Guedes, a subida vertiginosa do dólar estadunidense causa mais malefícios do que benefícios ao Brasil. 

Se nossas exportações de commodities são beneficiadas pela subida do dólar, pois isso representa maior volume de reais para uma mesma quantidade de mercadoria exportada, por outro lado todos os nossos produtos originários de outros países têm seus valores aumentados em reais. 

É o caso da pãozinho de trigo importado, comida básica de todo brasileiro, principalmente dos pobres. 
Conclusão óbvia: é hora de buscarmos novos caminhos.

Além disto, setores importantes da indústria brasileira paralisam suas atividades em razão de os componentes industriais importados em dólar tornarem inviáveis as produções cujos custos majorados não podem ser repassados aos consumidores daqui e de outros países. 

A nossa dívida externa pública e privada em dólar fica mais alta em reais e os juros idem, fato que representa um aumento substancial no nosso déficit público e queda dos ativos financeiros privados em reais. 

Além de afetar a produção, o dólar alto pressiona o aumento da inflação interna. 

É graças a isso que, contraditoriamente, enquanto Guedes afirma que o dólar alto é bom para o Brasil, a Banco Central torra parte das suas reservas em dólar para frear a alta do dito cujo. 

Quem está certo, o ministro da Economia ou o presidente do BC? Deste imbróglio só se pode tirar uma conclusão: esse governo está perdidinho da silva

Mas podemos tirar, também, uma conclusão mais abrangente e que representa o começo do fim capitalista: a moeda internacional, o dólar, está furado! (por Dalton Rosado)
Fenômeno: este filme ficou mais de 1 ano sendo exibido em Sampa 

3 comentários:

Anônimo disse...

***
Grande Dalton!

O que está acontecendo é o já predito G.E.E.L.E.: Global Economics Extinction Level Event que, alhures, já me referi aqui.

É engraçado como as pessoas se surpreendem quando digo que o dólar vai cair, não se sustenta e tal.
É um fetiche mesmo.

Por outro lado, pode ser que seja o fim de um modelo de exploração do homem pelo homem, mas o lobo não morreu.
Talvez um pouco mais de responsabilidade com a moeda e só.
Os caras vão continuar querendo tosquiar as ovelhinhas que, diga-se, adoram ser tosquiadas.

Já falei de criptomoedas. Elas serão a próxima fonte de sofrimento e miséria neste planeta dominado por espírito egoístas.

***

Valmir disse...

tava demorando a primeira frise final do capitalismo deste ano..ainda devem vir mais uma 4 ou 5 até o fim do ano.

celsolungaretti disse...

Caro Valmir,

que bom que você continue atento aos nossos escritos, pois assim você
tem podido ver a comprovação daquilo que vimos afirmando, ou seja, que
estamos vivendo a ciclo final do capitalismo com todas as agruras que isso
representa.

Infelizmente esse ciclo não é de um ano ou dois, mas talvez de
décadas ou mais, e isso deve ir além da nossa existência humana atual.

Agradeço pela leitura atenta. (Dalton Rosado)

Related Posts with Thumbnails