sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

BRASIL RUMO AO CAOS. TEM SALVAÇÃO?

Nem senadores estão mais a salvo da baderna militar
A cassação dos mandatos do senador Flávio Bolsonaro e do deputado federal Eduardo Bolsonaro por quebra do decoro parlamentar está sendo exigida pelo jornalista Reinaldo Azevedo em sua coluna na Folha de S. Paulo desta 6ª feira, 21.

E não exagero ao dizer que se trata de uma exigência:
"Estas são tarefas inafastáveis dos srs. deputados e senadores, enquanto ainda podem andar com a coluna ereta...
...Os democratas têm de convocar a coragem contra os ladrões de institucionalidade, contra os milicianos que assombram a vida democrática, contra os pistoleiros que miram a sociedade de direitos.  
É preciso cassar Eduardo e Flávio porque, reitero, incorreram sim em quebra do decoro parlamentar, mas também para evidenciar que a democracia não aceitará que licenças civilizatórias de convertam em inimigas da civilização".  
Há duas hipóteses quanto ao porquê de RA estar fazendo tal exigência exatamente agora e não antes (motivos gritantes para a cassação desses dois não têm faltado, rara é a semana na qual não acrescentam mais algum à relação) ou depois:
Cassar o filho 01 e o 03 deteria a marcha para o caos...
— o ego descomunal de RA, que tanto fez para que Dilma Rousseff fosse impichada mas acabou ganhando e não levando (a nova direita que ele acreditava comandar optou por outro guru, preferindo ser zumbi do Olavo de Carvalho e não dele); 
—  ser um balão de ensaio de forças políticas dispostas a refrear os impulsos destrutivos e autodestrutivos de Jair Bolsonaro, que estão detonando a governança e semeando turbulências.

Se for mero vedetismo do RA, não tenho o que comentar.

Se algo assim estiver mesmo sendo cogitado por parlamentares (que só ousariam ir tão longe na hipótese de se saberem endossados por parcela significativa dos poderosos da economia e dos ministros do Supremo), aí vale a pena refletirmos um pouco.

São óbvios o descontrole e a vulnerabilidade de Jair Bolsonaro neste momento:
— conseguiu colocar três quartos dos governadores contra ele; 
— incomoda o grande empresariado ao torpedear ainda mais a credibilidade de Paulo Guedes (dando-lhe ultimato no sentido de que, por um passe de mágica, faça a economia decolar até julho);
— prejudica os negócios com decisões desatinadas e com a péssima imagem que, graças a ele, o Brasil adquiriu no exterior;
— está se tornando tão caricato aos olhos do povo que até inspira marchinhas escrachantes de carnaval, e por aí vai. 
...ou a gravidade do momento impõe a ida à raiz do problema?

Mas, se for para colocar-lhe uma focinheira, obrigando-o a governar segundo a liturgia do cargo e as práticas e valores civilizados, a cassação do filho 01 e do filho 03 seria um péssimo negócio. 

Não é mais criança para ser colocado de castigo, no canto, de costas para a classe. A chance seria enorme de, à humilhação pública, responder com o golpismo, passando a liderar franjas totalitárias no assalto ao poder.

Se o presidente devasta a nação e a conduz ao caos, quem tem de sair é o presidente. 

E, pelo andar da carruagem, não parece distante o dia em que isto acontecerá, tantas são as forças do espectro político, econômico e social que ele voltou contra si. No momento em que finalmente se unirem, o expelirão. É simples assim. (por Celso Lungaretti)

4 comentários:

Anônimo disse...

Boa tarde Celso, tudo bem com você?!
Tenho algumas perguntas:
De acordo com os posicionamentos atuais, daquele que até ontem era chamado de "rottweiler de direita" ( por muitos ditos engajadinhos ), você diria que o Reinaldo mostra um senso de responsabilidade crítica ( e autocrítica ), que se esperava em personalidades assumidamente de esquerda, e com a mesma visibilidade?
Te surpreende vê-lo assumindo um protagonismo de um oposicionista mais tradicional?
Mudando de tema, não me recordo se já sitei, mas vendo pela enésima vez o documentário Ninguém sabe o duro que dei ( sobre Wilson Simonal ), gostaria de sugerir uma crônica a respeito do mesmo, ao menos uma opinião sua sobre o fato.
Um abraço do Hebert, e bom fim de semana!

Anônimo disse...

Caro, CL

Convenhamos, os generais entreguista$ estão numa "zona de conforto" com o bozo servindo de pára-raios.

Como já constatamos, os milicos tomaram o poder sem colocar um tanque nas ruas. Implantaram a agenda neoliberal entreguista, e ainda querem aprofundá-la como no Chile de pinochet.

Nosso país está virando um misto de Chile com Colômbia, neoliberal e miliciano. Assim, estão expurgando a oposição, que sempre foi uma concessão da globo.

Com tudo isso, parece improvável defenestrarem o bozo e assumir o mourão.

celsolungaretti disse...

Hebert, o Reinaldo Azevedo fechou os olhos a muitas ilegalidades enquanto acreditava estar sendo o líder intelectual dos manifestantes contra a Dilma. Quando percebeu que o astrólogo é que seria o beneficiário, aí se tornou 100% legalista.

Neste momento, aquilo que convém aos seus objetivos pessoais é também o que convém ao povo brasileiro: brecar o Bozo e, se possível, afastá-lo. Mas, não se espante se adiante houver nova reviravolta e ele reassumir o papel de vilão.

Quanto ao Simonal, o fato é que ele mantinha relações suspeitas com investigadores do Dops. Aí, quando ele achou que tinha sido roubado por seu empresário, serviu-se desses amigos para darem uma prensa nele.

Eu sempre considerei que a satanização dele pode ter sido um grave equívoco. Talvez a base da tal amizade fosse apenas a de os ratos lhe fazerem favores (na linha de guardas-costas ou de leões de chácara) e serem chamados a desfrutar das macacas de auditório que se ofereciam ao Simonal.

E nunca vi prova nenhuma de que o plano dos artistas, de denunciarem a ditadura quando o FIC estivesse sendo transmitido ao vivo também para outros países, tenha sido delatado pelo Simonal. Foi só uma suposição, por causa da repercussão do caso do empresário torturado. A esquerda festiva achou que uma coisa se relacionava à outra. Pode ser que não.

Nunca concordei com esse ostracismo decidido e praticado sem que o Simonal tivesse chance nenhuma de apresentar a sua versão. Ninguém merece.

Mas, quem menos lutou era quem mais paranoias adquiriu e quem mais impiedosamente discriminava seres humanos. Eu achei todo o episódio profundamente lamentável.

celsolungaretti disse...

Anônimo das 15h32,

você está mecanicamente transpondo cenários dos anos 60 para os dias atuais. A guerra fria acabou, os altos comandantes militares brasileiros não são os mesmos que os colegas estadunidenses cooptaram durante a campanha da Força Expedicionária brasileira nem se mostram particularmente comprometidos com os planos malucos do Paulo Guedes.

Parece-me que eles estão mais empenhados em evitar que os extremismos toscos do Olavo de Carvalho e dos príncipes herdeiros coloque fogo no país.

Nossos inimigos comprovadamente funestos e irreconciliáveis são o Bozo e o Moro. Quanto aos generais, podem ser, podem não ser.

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