Os astros não o alertaram de que seu prestígio despencaria? |
josias de souza
GENERAIS QUERIAM UMA REFORMA MINISTERIAL
MAIS AMPLA
MAIS AMPLA
O núcleo fardado do Planalto sonhava com uma reforma ministerial mais ampla. Para os generais, Jair Bolsonaro acertou ao associar a dança de cadeiras à noção de eficiência administrativa. Mas errou ao renovar o prazo de validade da blindagem oferecida a ministros cujo desempenho é questionado.
Avalia-se que a lógica prevaleceu na Casa Civil, com a troca de Onyx Lorenzoni pelo general Walter Braga Netto. Foi observada também na substituição de Gustavo Canuto por Rogério Marinho na pasta do Desenvolvimento Regional. Ficou comprometida, no entanto, em pelo menos três ministérios.
Em privado, os generais com gabinete no Planalto lamentam que Bolsonaro tenha mantido nos cargos os ministros Ernesto Araújo (Itamaraty), Ricardo Salles (Meio Ambiente) e, sobretudo, Abraham Weintraub (Educação) —uma trinca que, em 2019, revelou-se parte do problema gerencial do governo.
Ainda falta muito para o desgoverno virar governo |
Disciplinados, os militares conformam-se com a constatação de que Araújo, Salles e Weintraub sobrevivem porque seguem orientações do chefe. E celebram a conquista de um par de atenuantes.
Na área internacional, Bolsonaro lipoaspirou as atribuições do assessor especial Filipe Martins, que ecoa no Planalto a verborragia ideológica do chanceler e do polemista Olavo de Carvalho. Acomodou-o abaixo do almirante Flávio Rocha, nomeado para a chefia da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência.
No setor ambiental, o vice-presidente Hamilton Mourão estabeleceu-se como um contraponto a Salles ao receber do presidente a atribuição de coordenar o recriado Conselho da Amazônia. Nele, têm assento, além de Salles, outros 13 ministros.
Bolsonaro celebra a militarização do Planalto como um avanço. O ânimo do presidente contrasta com um receio dos militares. Em conversa com dois parlamentares governistas, um dos auxiliares do presidente batizou o temor do grupo da farda de efeito Santos Cruz.
Referia-se ao general Carlos Alberto dos Santos Cruz, o ex-ministro palaciano que foi detonado após seis meses de governo em meio a fofocas e aleivosias espalhadas por Carlos Bolsonaro, o filho zero dois do presidente, e pelo seu guru Olavo de Carvalho.
Inimigo: o lavajatismo e seu expoente máximo |
A menção ao nome de Santos Cruz, que mantinha com Bolsonaro uma amizade de três décadas, indica que os generais continuarão dando expediente no Planalto com um olho na mesa de despachos e outro nos parafusos de suas poltronas. (por Josias de Souza)
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Toque do editor — No seu primeiro ano, os governos tentam obter a aprovação de medidas impopulares e arriscam-se a incidir em bizarrices, testando-as para ver se colam. O segundo, contudo, já é ano eleitoral e a fauna política começa a priorizar, acima de tudo, passar incólume pelo teste das urnas ou, melhor ainda, conquistar posições mais elevadas. Aí acaba a micareta.
Então, erram os companheiros da esquerda que veem o crescimento da influência da área militar no ministério do Bozo sob o prisma de teorias da conspiração. Os fardados de hoje, gatos escaldados, em sua expressiva maioria não sonham com um novo 1964, mas, apenas, com um governo que funcione. Representam o que há de pragmatismo e racionalidade nesse saco de gatos governamental.
Sua ascendência tende a evitar as aventuras disparatadas que Steve Bannon e Olavo de Carvalho pregam e também a, pelo menos, atenuar a submissão incondicional do Bozo aos interesses estadunidenses (mesmo quando conflitam com os nossos!).
Evidentemente, nossa postura enquanto esquerda deve ser a de manter distância de todas as correntes reunidas no desgoverno atual, mas é importante termos sempre clareza quanto a quais são os inimigos principais neste momento:
A oitava praga do Egito é pior do que qualquer parasita |
— o olavismo professado pelos príncipes herdeiros;
— o neoliberalismo do mercador de ilusões;
— o tenentismo togado que apóia Moro: e
— as ambições faraônicas dos mercadores do templo.
E termos total clareza quanto à missão que nos cabe: a de forjarmos uma nova esquerda, de baixo para cima, voltando a participar intensamente das lutas sociais em todo o território nacional, pois a que tínhamos ou sucumbiu às ilusões e tentações democratico-burguesas, ou se tornou pusilânime demais para batalhar pela reconquista dos espaços perdidos ao longo desta década maldita. (por Celso Lungaretti)
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