quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

A VERDADEIRA ESQUERDA É ANTÍPODA TANTO DAS GRANDES EMPREITEIRAS QUANTO DA CASTA CORPORATIVA

Entre as maiores aberrações dos governos petistas está a desenvoltura com que pactuaram com a escória de um dos mais repulsivos segmentos do capitalismo (o das grandes empreiteiras, às quais devemos um sem-número de obras tão faraônicas quanto inúteis ou equivocadas, e que invariavelmente ultrapassaram muitíssimo o orçamento inicial) e com os sanguessugas enquistados na administração pública.

A Delfim Netto, o ex-ministro da ditadura militar que foi signatário do AI-5 e nunca se arrependeu de ter ajudado a abrir as portas do inferno, não se pode negar, pelo menos, a expertise na própria praia. Sua política econômica era odiosa ("é preciso esperar o bolo crescer para depois dividir"), mas barata tonta ele jamais foi, ao contrário dos juvenis Joaquim Levy e Paulo Guedes. 

Sabia para onde queria ir e como chegar lá, o que o diferencia dos acima citados, serviçais do capital como ele, mas tão incompetentes que o primeiro deu colaboração inestimável para a derrubada de sua presidente e o segundo está engendrando uma explosão social que, mais dia, menos dia, coroará seus desatinados esforços.

Mas, onde entra o Delfim Netto nesta história? É que na sua coluna desta 4ª feira, 11, ele bate pesado em quem merece mesmo apanhar: a casta corporativa que, favorecida pela Constituição de 1988, passou a contar com eficientes gazuas para arrombar os cofres do Executivo na União, estados e municípios.

Vale citar as considerações, uma vez na vida corretas, do nonagenário reaça:
"Ela subtrai recursos dos investimentos públicos, o que empobrece o país, aumenta a desigualdade de renda e reduz a igualdade de oportunidades, causas importantes do malaise que ataca a sociedade brasileira".
E eis que, constatando que suas reformas previdenciária e trabalhista nem de longe farão a economia brasileira decolar em futuro próximo, o ministro tchutchuca resolveu tentar conter essa hemorragia com uma reforma administrativa. 

Ora, como revolucionários, sabemos que o buraco é mais embaixo e que tal tentativa terá o mesmo efeito homeopático das outras duas. Não podemos, contudo, aliar-nos à casta corporativa, porque é basicamente uma sórdida caudatária da corrupção capitalista.  Entre o mercador de ilusões e os parasitas dos palácios do governo, nosso lado é... longe de ambos!

Nada temos em comum com essa outra ralé, assim como o PT nada tinha em comum com os Marcelo Odebrecht da vida e, por ter ido chafurdar no mesmo chiqueiro, acabou reduzido à insignificância atual.

Mas, parece que o PT escolheu de novo o lado errado, e não hoje, mas quatro anos atrás. Diz Delfim:
"O que é de espantar é que a resposta a tais propostas [as da reforma administrativa] no Congresso foi a sua rápida movimentação para aprovar uma PEC de 2015, de autoria da senadora Gleisi (o grifo é meu) que permitirá a deputados e senadores negociarem livremente com governadores e prefeitos suas emendas parlamentares (agora obrigatórias) sem nenhuma coordenação com os programas federais. 
É a volta da escola risonha e franca! Trata-se de um intolerável desperdício de recursos, do qual se retira o controle do TCU, da PF, do MPF, da CGU contra os pareceres técnicos da própria casa.
...Podemos conviver e corrigir eventuais abusos de poder dos órgãos controladores, mas não podemos, sem consequências dramáticas, desativá-los e entregar aos órgãos de controle dos estados e municípios o uso dos recursos federais, porque sabemos o que eles são..."
Ou seja, temos de ficar atentos para que a esquerda brasileira não venha, mais uma vez, dar ao homem comum motivos para acreditar que ela seja uma aliada da nefasta e nefanda casta corporativa, pois isto daria a nossos inimigos outro formidável trunfo para nos desqualificarem.

Temo que mais esta advertência passe batida, como tantas outras que fiz o foram, com resultados desastrosos. Mas, sendo quem sou, não poderia deixar de tentar.  

Se não começarmos a atuar como uma esquerda de verdade, nosso futuro será nenhum. 

Idem se continuarmos omissos face às imoralidades que o PT comete e acabam respingando em nós também, porque até hoje não tivemos a coragem política de romper com essa esquerda que deixou de ser revolucionária há décadas e hoje não passa de força auxiliar do capitalismo, servindo apenas para a manter as ilusões de que a democracia burguesa seja pra valer. (por Celso Lungaretti)

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