Lula fez toda sua carreira sindical e política negociando com o outro lado, de forma a obter pequenas vantagens para os explorados sem confrontar os exploradores nem tentar dar um fim à exploração do homem pelo homem.
Sua sucessão de derrotas na presente década foi sintomática: o cenário histórico no qual ele se projetou foi sumindo, sumindo, sumiu.
O capitalismo, após escapar por pouco da eclosão da pior de suas depressões em 2008, nunca se recuperou totalmente. Já não é capaz de assegurar abastança para um número significativo de países, a não ser provocando a penúria numa quantidade muito maior de nações.
Adia o Juízo Final multiplicando rigores, imprimindo dinheiro sem lastro, elasticizando cada vez mais os critérios para a concessão de empréstimos (impagáveis!), empurrando com a barriga, enfim. Já não tem soluções a oferecer, só paliativos.
E, no salve-se quem puder dos estertores do capitalismo, quem se salva pertence ao bloco dos privilegiados de sempre (mas nem todos dentre eles escapam) e quem despenca são os sofredores de sempre (quase todos).
Em suma, como nada indica que a adoção extemporânea do receituário neoliberal (se as reformas do Guedes houvessem sido feitas na mesma época que as chilenas, poderiam ter gerado os mesmos resultados, deslumbrantes nas frias estatísticas mas tão detestados pelo povo que hoje as ruas de lá ardem em chamas) tire a economia brasileira do sufoco, Lula não poderá mais permanecer em cima do muro, acendendo uma vela ao povo explorado e outra aos insaciáveis exploradores.
E é só como intermediário entre os dois universos que ele sabe atuar. Trata-se de um negociador, não de um comandante das batalhas da luta de classes que agora voltarão ao primeiro plano. Seu tempo passou, e não por força da idade, mas porque a realidade que convinha ao seu tipo de atuação deixou de existir.
Seria bom se lhe caísse a ficha e o Lula decidisse apenas transmitir suas experiências às novas gerações, ajudando a prepará-las para tocarem adiante as lutas dos explorados. Mas, todas as vezes em que ele teve oportunidade de passar o bastão, pelo contrário fincou os dedos nele com toda a força que tinha. O Ciro Gomes que o diga.
E é só como intermediário entre os dois universos que ele sabe atuar. Trata-se de um negociador, não de um comandante das batalhas da luta de classes que agora voltarão ao primeiro plano. Seu tempo passou, e não por força da idade, mas porque a realidade que convinha ao seu tipo de atuação deixou de existir.
Seria bom se lhe caísse a ficha e o Lula decidisse apenas transmitir suas experiências às novas gerações, ajudando a prepará-las para tocarem adiante as lutas dos explorados. Mas, todas as vezes em que ele teve oportunidade de passar o bastão, pelo contrário fincou os dedos nele com toda a força que tinha. O Ciro Gomes que o diga.
Poderia também, como uma última missão nos moldes antigos, livrar-nos do Bolsonaro, já que seus erros crassos tiveram importância capital para a entrega do poder aos neofascistas. Está, portanto, em dívida com todos que amargamos estes dez meses terríveis (e isto por enquanto, sabe-se lá quanto ainda durará o pesadelo...).
Quiçá encurtasse a nossa agonia caso se dispusesse a formar uma frente com todas as forças políticas dispostas a reconstruir civilizadamente este país, antes que a barbárie nos trague a todos.
Mas, terá tal desprendimento? Ou continuará priorizando objetivos petistas em detrimento do restante da esquerda, do centro, dos moderados, de todos que ainda não embarcaram no trem fantasma do bolsonarismo?
Ele já foi colocado diante desta alternativa na campanha eleitoral de 2018 e reagiu da pior maneira possível, pois suas decisões desastrosas, obedecidas cegamente pelos dirigentes (?) petistas em liberdade, inviabilizaram a união das forças do nosso campo contra a ameaça neofascista e não ofereceram aos moderados de centro e direita um horizonte para somarem forças com a esquerda para evitar a invasão bárbara.
Ele já foi colocado diante desta alternativa na campanha eleitoral de 2018 e reagiu da pior maneira possível, pois suas decisões desastrosas, obedecidas cegamente pelos dirigentes (?) petistas em liberdade, inviabilizaram a união das forças do nosso campo contra a ameaça neofascista e não ofereceram aos moderados de centro e direita um horizonte para somarem forças com a esquerda para evitar a invasão bárbara.
Enfim, parafraseando o Chico Buarque, foi bonita a festa da libertação e eu fiquei contente em ver desabar o castelo de ilegalidades contra ele cometidas. Depois das revelações do Intercept Brasil, se não o soltassem, seria melhor devolver o país para os portugueses. Passaríamos menos vergonha.
Mas, vou ter pesadelos todas as noites enquanto continuar existindo a possibilidade de que o populismo de esquerda venha a alimentar o populismo de direita, fornecendo-lhe uma razão para existir (e vice-versa).
Pois, se o pior destino para o povo brasileiro seria a concretização dos planos golpistas dos olavos e respectivos papalvos (Bolsonaros inclusos), o segundo pior é que não haja virada de mesa mas os dois populismos continuem monopolizando as opções políticas, o que manteria o país indefinidamente patinando sem sair do lugar.
Temos de destravar o futuro enquanto ainda há um futuro para salvarmos. (por Celso Lungaretti)
5 comentários:
Olá Celso boa noite,
aqui é o Hebert, tudo bem?!
Esperando com certa ansiedade por esta crônica sua ( junto a outra, sobre o lamentável episódio lá no covil Pan ), eu tenho uma dúvida:
Lendo uma crônica sua certa vez, sobre o surgimento de uma nova face da esquerda,
O que pensa você, sobre as novas bases progressistas ( ou mesmo as atuais ),
sobre a soltura e discurso após a soltura?
Qual será o seu posicionamento, seguirão com o lulismo, ou sente que há sinais
de descolamento?!
Um abraço, e bom final de semana.
Concordo com os primeiros parágrafos. Mas jogar tudo nas costas do Lula é exagero.
O melhor presidente que tivemos foi Getúlio Vargas. Depois dele, foi só arremedo.
Tudo que FHC e, agora, o Bozo, fez e está a fazer é simplesmente destruir o legado do velho GV: lutar pela soberania e a autossuficiência econômica.
Infelizmente, nossa história recente nos deu partidos do campo progressista sem a devida coragem e sagacidade para enfrentar a direita escravocrata.
Ou, por acaso, alguém enxerga algum espírito indômito em nosso campo progressista : psol, pcdo b, psb, pt, pdt, rede, causa operária? É tudo a mesma $opa, irmão.
Sabemos, caro CL, que você é remanescente da luta armada, não acumulou riqueza material e faz um trabalho de divulgação da revolução.
Entretanto, você é rara exceção no brasil atual. Infelizmente...
Hebert,
o Augusto Nunes era o presidente do centro acadêmico da ECA/USP em 1973, quando iniciei meu curso de Jornalismo. DE ESQUERDA, mas havia quem dissesse que sua convicção real era de que isso lhe dava mais prestígio para traçar as menininhas.
Achei patética sua visível decadência física, que parece refletir bem a decadência moral. Desde que se tornou um profissional bem pago da grande imprensa, foi mudando cada vez mais, sempre para pior.
Lembro-me dele quando todo poderoso e odiado diretor do Estadão. Entrava no elevador, me via de relance mas fingia que não vira, só para não me cumprimentar.
E eu sempre desprezei sujeitos que se atracam com desafetos quando há um montão de pessoas ao lado que necessariamente apartarão a briga. Ele disse que reagiu como homem. Homem trava suas brigas onde ninguém vai interromper e ele corre o risco de sair machucado.
Quanto à alusão aos filhos do Greenwald, foi uma baixeza repulsiva. Quis, evidentemente, açular algum juiz de menores fascista contra ele. Como alguém pode descer tanto?!
De resto, não pise no meu calo. O que eu mais sonhei foi com uma nova esquerda se projetando no vácuo deste ano. Agora, há grande chance de o PT continuar sendo a força majoritária da esquerda, anestesiando a luta de classes por mais anos e anos. Espero viver o suficiente para ver uma esquerda de verdade assumir a dianteira.
E, havendo chance de isto acontecer, decerto o PT fará o possível para evitar, como fez em 2013.
Um abração e ótimo domingo!
Anônimo das 22h13,
não seria fácil de nenhum jeito evitarmos a vitória do Bozo no ano passado, mas as chances que havia, o Lula acabou com elas. A lengalenga da candidatura fantasma (que não passou de uma tentativa, inoportuna e antecipadamente fadada ao fracasso, de obter um desagravo) atrasou uma eternidade a mobilização do PT para a eleição.
O passa-moleque aplicado no Ciro Gomes detonou qualquer possibilidade de as forças de esquerda se unirem.
A insistência num candidato das próprias fileiras permitiu aos fascistas se beneficiarem da acentuada rejeição ao petismo, o que não ocorreria se o PT apoiasse a Marina, o Ciro ou o Boulos.
Essa mentalidade personalista torna o Lula muito nefasto para nosso campo. Um revolucionário colocaria como objetivo primordial evitarmos a chegada da extrema-direita ao poder. Ele só se preocupou em martelar na cabeça do povo que era inocente da corrupção e em garantir a presidência para si mesmo e ninguém mais. Fracassou nos dois objetivos e nós estamos tendo de aguentar o Bozo.
Abs.
Tranquilize-se Celso.
Se for bom de cama basta umas gotas de extrato de Valeriana para dormir igual um anjo.
Se não, rivotril 2mg.
É bom preservar o sono, pois parece que os caras querem mesmo é o populismo alternado entre esquerda e direita.
E não vale a pena deixar de dormir por isso.
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