segunda-feira, 18 de novembro de 2019

ELES SÃO TODOS IGUAIS! (final)

(continuação deste post)
As taxas pífias de crescimento do nosso PIB fizeram Bolsonaro mudar de opinião sobre a China...
O candidato eleitoralmente oportunista, com seu sentimento nacionalista, ainda que se chocasse com o pensamento liberal do seu ministro da Economia, Paulo Guedes, cedeu lugar ao interesse vital de transformação das taxas pífias de crescimento do PIB brasileiro nestes dez meses de governo e de insucesso no combate ao trágico desemprego persistente, e abriu as portas para que o capital industrial chinês ameaçado pudesse encontrar uma sobrevida no Brasil. 

Um interesse capitalista bilateral que manda às favas qualquer orientação ideológica nacionalista na base do não interessa o que você pensa, mas me interessa o que você pode me comprar.   

A China com suas reservas cambiais de 1,7% da sua dívida pública e privada precisa urgentemente expandir suas relações comerciais ameaçadas pelos protecionismos que passaram a proteger um mundo em depressão econômica.

No caso de a China reduzir o crescimento do seu PIB a percentagens baixas, não será possível adimplir os seus compromissos de créditos bancários que alavancaram-lhe o vertiginoso crescimento industrial. A China não é apenas uma ameaça a si mesma, mas a todo o sistema de crédito mundial.
...que ele acusava de estar comprando o Brasil...
É dentro desse espectro de expectativas tenebrosas que a China vem comprando empresas brasileiras de energia, mineração e alimentos, que garantam não apenas os lucros das atividades empresariais desenvolvidas no Brasil (temos salários baixos, a exemplo dos chineses), como, principalmente, garantir que ela absorva aquilo que produz, ou seja, que obtenha lucros nas duas pontas das negociações.

Até aí tudo parece perfeito para ambos os lados. 

Mas o problema aparece quando se analisa esse quadro de modo macroeconômico e de valor agregado de mercadorias, pois essa expansão do capital sob o domínio chinês retira lucros do empresariado brasileiro no longo prazo, ao mesmo tempo em que reduz mundo afora a compra de mercadorias em outros países, provocando depressão nas regiões outrora inseridas no comércio com a China.

A grita geral contra acordos bilaterais de zona de livre comércio provoca retaliações e protecionismos por parte dos países excluídos do baile,  colocando na berlinda produtos brasileiros.

O Brasil exporta matérias-primas enquanto a China já é um grande exportador de manufaturas tecnológicas com alto valor agregado. Assim, a venda de minérios e alimentos como soja e frangos gera receitas inferiores às das mercadorias chinesas, as quais, embora baratas em face de outras manufaturas dos países tradicionalmente industrializados (vide o caso da tecnologia de comunicação do 5G, ora em guerra aberta) ainda excedem em muito o valor daquelas que aqui eles querem produzir. 
...mas isto foi antes de ele dar-se conta da situação real.

Tal processo de redução de custos em face dos salários baixos do Brasil e da China é a razão básica que tem provocado internacionalmente a redução da massa global de valor e ameaça a irrigação econômico-financeira sustentável, com evidentes dificuldades para os Estados e o sistema de crédito bancário que hoje se assenta na emissão de dinheiro sem lastro e na dívida pública. 

Ou seja, a máquina que reduz custos de produção com eliminação de empregos e promove maiores lucros localizados para o capitalista que investe em capital fixo, é a mesma máquina que produz mercadorias de baixo custo que provocam desemprego estrutural e redução da massa global de valor gerado na economia, e a consequente recessão econômica ampla.

Trata-se de um ganho localizado em detrimento de um ganho maior globalizado, e tal comportamento econômico industrial irreversível dentro da lógica de concorrência global de mercado, é o que está na base do prognóstico de estarmos marchando para uma brutal recessão econômica mundial.

Ao invés de focar nos mecanismos de acordos comerciais livres, bilaterais, liberais, celebrados a partir dos governantes políticos e suas elites empresariais, a maioria da população, como vítima dessa lógica perversa, genocida, excludente, segregaria (mas tida como saudável), deveria promover encontros em fóruns mundiais versando sobre os seguintes temas:
— como podemos viver sem governantes e seus Estados nacionais ou blocos de Estados?
— como podemos eliminar o desemprego estrutural a partir de novos modos de produção?
— como podemos promover a ajuda transnacional, na qual as carências de cada região possam ser supridas pelos excedentes de outras regiões?— como estabelecermos relações fraternas entre os seres humanos, nas quais cada indivíduo social seja apoio e artífice da solidariedade, e não um adversário do seu semelhante como competidor predatório da vida (postura à qual é impelido pela lógica de reprodução do capital)?
— como podemos produzir de modo ecologicamente sustentável e correto?
— como podemos criar uma ordem jurídica que indique verdadeiramente busca da realização do ideal de justiça?
.
Não é com encontros de algozes como ocorre com os Brics, OCDE, FMI, OEA, ONU, UE, G20, G7 e outros organismos internacionais criados pela lógica do capital que conseguiremos criar um modo superior de vida social. 

Eles, os governantes, são todos iguais, justamente porque o valor supõe substância comum a uma mesma razão matemática e, assim, todas as diferenças ideológicas, econômicas culturais são reduzidas simplesmente a um quantitativo de valor, e nunca ao qualitativo da vida.

Eles agem como zumbis teleguiados por uma força esquizofrênica que os impele a um mesmo raciocínio e comportamento fetichista, destrutivo e auto-destrutivo, que os encarcera numa jaula de ferro insensível. 

Somente com um pensar fora da imanência capitalista é que se pode superar as atuais idiossincrasias e o efeito liquidificador que une todos os políticos e governantes numa massa homogênea, desqualificada do ponto de vista humano.
(por Dalton Rosado)

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