segunda-feira, 18 de novembro de 2019

O BOZO TERÁ UM CIRCO PARA CHAMAR DE SEU. MAS HÁ UM PERIGO: A ALEGRIA DO PALHAÇO É VER O CIRCO PEGAR FOGO

david emanuel coelho
BOLSONARO MUDA DE PARTIDO
Ano passado, muitos meses antes das eleições, conversava com um colega da pós-graduação em filosofia da UFMG. Luckasiano igual a mim, alertava-me da chance de Bolsonaro vir a se tornar presidente do Brasil. 

À época, ainda considerava pouco provável sua vitória, ainda mais porque Lula estaria no páreo. Ressalto que isto aconteceu antes da condenação em segunda instância do ex-presidente e de sua subsequente prisão. 

No entanto, também via como pouco provável a vitória do atual presidente por este nunca ter sido um homem de partido. Em todos nos quais havia estado, fora sempre um ilustre joão-ninguém, parasitando no baixíssimo clero sem participar das decisões fundamentais das siglas que o hospedaram. 

Argumentava eu que Bolsonaro nunca daria certo em qualquer sigla grande, devido ao seu egocentrismo e à sua absoluta falta de tato político. Jamais aceitaria se submeter às decisões de caciques sendo ele presidente e não teria talento para construir sua própria base.  

O caminho mais fácil seria alugar um partido no qual todos aceitassem obedecer a ele, ou criar um partido próprio a partir do zero.

Minha hipótese acabou se mostrando correta. Nenhum partido grande, médio ou pequeno aceitou então levar Bolsonaro às urnas e o caminho foi achar um agrupamento de aluguel. 

Tendo falhado o Patriota, com os respectivos donos se recusando a entregarem as cuecas ao futuro presidente, o PSL aceitou de bom grado ajoelhar-se ao então deputado, com a promessa de ampliar a verba do fundo eleitoral e que Bivar – o dono – voltasse a ser o manda-chuva em 2019.

Este ano, porém, o egocentrismo e a inabilidade bolsonarista voltam a se manifestar. O presidente exige ter o controle total da sigla: não aceita ser tutelado e muito menos admite que outra pessoa controle a chave do bilionário cofre partidário. 

O resultado é do conhecimento de todos. O junta-junta chamado PSL implodiu e antigos amigos – que juravam amor eterno ao capitão – tornaram-se inimigos com mais ódio entre si do que as famílias mafiosas quando disputam território. 

A noite das facas longas, versão bolsonarista, foi um rotundo fracasso e restou ao ex-capitão sair da sigla. E aqui, minha segunda hipótese entrou em cena com acerto admirável para um mero doutorando em filosofia. 

Bolsonaro não quis mais saber de partidos de aluguel. Tendo novamente encontrado as portas fechadas nos partidos tradicionais – nem os mais modestos demostraram interesse nele – lançou-se na construção de um clube político a partir do zero. 

Sim, clube político é o nome mais apropriado a se dar a esse novo grupo a ser criado por Bolsonaro e seus filhos. Trata-se  praticamente de um fã clube dos amantes do Bolsonaro. Deveria ser chamado não de Aliança Pelo Brasil, mas de Aliança Pelos Bolsonaros, porque basicamente não passa disto. 

Não há ideologia ou representatividade – coisa de resto já escassa no sistema político deste país. Nem mesmo é um partido de aluguel, mas, tão somente, um clubinho dos admiradores da famiglia Bolsonaro. 

O dito manifesto do partido, recheado de baboseiras neofacistas, é apenas uma carta de princípios ao estilo do Cidadão Kane: algo escrito para vender uma imagem, não para ser seguido.

Na realidade, melhor que um manifesto, teria sido colocar a foto dos quatro Bolsonaros que vivem da política com vários coraçõezinhos e a legenda Eu amo Bolsonaro. As fãs de Boyband conseguem fazer melhor.  

Obviamente, amor é o que menos importa neste novo grupo, ao menos amor verdadeiro a Bolsonaro e sua trupe. 

Embora o presidente vá exigir devoção completa dos membros do futuro partido, o que os moverá de fato é a capacidade de Bolsonaro elegê-los e o acesso ao poder federal. 

Quando o naufrágio do ex-capitão se mostrar irreversível, o fã clube evaporará igual evapora o amor dos torcedores após uma longa série de derrotas do seu time. 

Mas, o surpreendente mesmo é a inovação bolsonarista para a história política brasileira. Pela primeira vez, teremos um partido cuja finalidade não será representar ou dar base de sustentação, mas pura e simplesmente ser um fã-clube de um homem cujo ego é, ao mesmo tempo, inflado e frágil. (por David Emanuel de Souza Coelho)

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