sexta-feira, 22 de novembro de 2019

DIVAGAÇÕES SOBRE REINALDO AZEVEDO, LULA, LÊNIN E O "FORA BOLSONARO!"

É pitoresco o papel representado pelo Reinaldo Azevedo nos embates politico-ideológicos brasileiros.

Passou os três governos petistas mais um terço a combater encarniçadamente o PT e a esquerda, pouco se diferenciando do Diogo Mainardi e dos outros urubus da gaiola da veja. Cunhou o pejorativo petralha.

Fez campanha entusiástica pelo impeachment da Dilma, portando-se como o guru (que ele supunha ser) dos agrupamentos direitistas que promoviam aquelas manifestações dominicais por todo o país.

Objetivo atingido, percebeu que, à maneira do dr. Frankenstein, fabricara um monstro: a nova direita se desgarrou dos controles civilizados e passou a rezar pela cartilha tosca de Steven Bannon e pelo besteirol tosquíssimo do Olavo de Carvalho.
Olavistas apelaram até à homofobia contra RA

Em termos intelectuais, triturou o segundo charlatão numa polêmica, expondo-o como um mero picareta que abraçava a$ causa$ que servissem ao seu objetivo primordial de depenar otários. Mas, previsivelmente, os otários, começando pelos filhos do Bolsonaro, continuaram acreditando piamente no farsante. Quanta falta faz um mínimo de educação formal bem assimilada!

Só restou ao Azevedo recuar para a posição de defensor intransigente do estado de direita (ôps, quer dizer, de Direito...) e do respeito à Constituição, passando uma borracha sobre os excessos retóricos da fase anterior.

Paradoxalmente, durante o governo Temer encontramo-nos na mesma posição, combatendo o golpe articulado pela força-tarefa da Lava Jato com as Organizações Globo, tendo Joesley Batista como abre-alas e Rodrigo Janot como inconsequente inútil.

Ambos percebemos de imediato que a destruição do centro, naquele momento, favoreceria a extrema-direita, que vinha acumulando forças desde as manifestações pró-impeachment. 

Frustrada a primeira tentativa golpista (a segunda foi irrelevante, pois o momento propício já havia passado), naquele mesmo mês de agosto de 2017 as hordas ultradireitistas mostrariam suas garras na paralisação dos caminhoneiros. 

Incrivelmente, os populistas ditos de esquerda passariam mais de um ano ignorando tal perigo, a ponto de o Lula brincar de candidatura fantasma em 2018 ao invés de acionar o alerta vermelho contra a escalada de Bolsonaro! 
"trazer de volta a combatividade perdida"

De resto, o que cada um de nós pretendia/pretende, afinal?

O objetivo maior de Reinaldo Azevedo, depois que a Direita de Neandertal lhe desferiu um formidável chute no traseiro, vem sendo o de reerguer o centro, abreviando ou esvaziando a temporada do Circo do Bozo. Neste sentido, tem até feito denúncias baseadas no material fornecido pelo Intercept Brasil, uma parceria que antes de 2016 ninguém acreditaria ser possível.

Já para mim o imperativo é a reconstrução da esquerda, com a afirmação de uma nova geração de militantes que traga de volta a combatividade perdida e recoloque nosso trem nos trilhos.

A conciliação de classe se tornará cada vez mais inócua, contraproducente e perniciosa à medida que se aprofunde a crise estrutural do capitalismo, então temos de entronizar a organização dos explorados para travarem as lutas sociais como objetivo estratégico nº 1 e desencanar da obsessão eleitoreira por posições no Executivo e no Legislativo, pois o inimigo já mostrou que o poder econômico é quem realmente manda e virará a mesa como e quando bem entender (foi o que fez em 2016).

A perspectiva de uma tênue recuperação econômica em 2020, trombeteada pela charanga do mercador de ilusões Paulo Guedes, pouco alterará o quadro da penúria que nos fustiga ao longo da atual década. 
Guedes e a reversão das expectativas
Aliás, como a recessão foi maximizada pela política econômica totalmente anacrônica que Dilma adotou a partir de 2014, eu já previa que sua queda produziria um certo desafogo. Se não fossem as peraltices golpistas dos tenentes togados, isto teria ocorrido já no governo Temer.

Mas, claro, não passará de um pequeno alento para quem já estava nas últimas; nem de longe um milagre brasileiro em seus melhores dias (ou seja, antes da debacle de 1973).
                                         .
DE VOLTA A LÊNIN: O QUE FAZER?

"Siset, tu não vês a estaca/ a que nós estamos atados?/ Se não nos livrarmos
dela,/ não poderemos caminhar!/// (...) Se eu a puxar com força
aqui/ e tu a puxares com força aí,/ decerto tomba,
tomba, tomba/ e poderemos nos libertar"
.
De hoje (22) até domingo, o PT realiza um congresso nacional para discutir candidaturas municipais. Não consigo imaginar irrelevância maior nos dias atuais. O impeachment da Dilma, a prisão do Lula e a entrega do poder à extrema-direita nada lhe ensinaram. O apetite por boquinhas continua insaciável.

Quanto a Lula, a única fala aproveitável desde sua libertação foi esta:
"Eu estou vendo os ataques aos LGBTs, aos negros, aos índios. Eu estou vendo o crescimento da violência bárbara contra as mulheres brasileiras. Estou vendo os salários desaparecendo, a aposentadoria ficar cada vez mais distante do trabalhador. E estou vendo que nós estamos com dificuldade de reagir. Vou dedicar cada minuto da vida para libertar o país dessa quadrilha de milicianos que tomou conta do poder". 
Lula: nem autocrítica do PT, nem impeachment do Bozo.
Mas quando ele, que de Júpiter já tem a barba e a soberba, desfere um raio para fulminar a autocrítica que o PT está devendo desde 2016 e manda seus submissos devotos respeitarem o mandato do Bolsonaro, a impressão que dá é de a retórica exaltada estar servindo apenas de cortina de fumaça. 

Afinal, é um segredo de polichinelo que, no cronograma de Lula, o momento de nos libertamos da quadrilha de milicianos jamais será outro que não a eleição presidencial de 2022, na qual ele espera conquistar seu 3º mandato (este, sim, o objetivo ao qual dedica cada minuto de sua vida, e isto há muito tempo...). Everybody knows, como diria o grande Leonard Cohen.

Da minha parte, continuarei enfatizando que o semi-parlamentarismo atual, com a pauta de reformas exigidas pelo grande capital sendo tocada a seis mãos por Guedes,  Maia e Alcolumbre, torna o Bolsonaro não só descartável para o sistema, como um estorvo para os negócios. Conforme Lluís Llach ensinou, puxando um pouco aqui, outro tanto ali, decerto tombará, de tão apodrecido que já está. 

Mais do que nunca, é hora de a esquerda seguir o exemplo da juventude que foi às ruas clamar pela civilização e rechaçar a barbárie, cerrando fileiras em torno da bandeira do impeachment do presidente miliciano, a partir de algum das dezenas de motivos legais que ele tem fornecido neste sentido (vários deles bem mais graves do que as pedaladas fiscais da Dilma!). 
Esperar até 2022? A explosão social viria antes!

É bem capaz de cair para os donos do PIB a ficha de que se tratará, provavelmente, da última oportunidade de evitarem, pela via institucional, a explosão social que se avoluma no nosso continente. 

E, afinal, o que eles perderiam? Com Mourão ou Maia, conservariam tudo que realmente lhes interessa, só descartando aquilo que torna atualmente o Brasil um pária entre as nações civilizadas.

2022 está longe demais. A hora é agora! 
(por Celso Lungaretti)

"Todo mundo sabe que a guerra acabou,/ todo mundo sabe, os bons perderam./
Todo mundo sabe que a luta foi armada:/ os pobres continuam pobres e 
os ricos ficam ricos./// Todo mundo sabe que o barco está furado./ 
todo mundo sabe que o capitão mentiu..."

4 comentários:

Anônimo disse...

Caro, CL

Já que você inseriu fortuitamente a canção do L. Cohen, "everybody knows", aproveito o ensejo para lembrar a todos do campo progressista ao que deveriam estar sempre atentos : que o império coopta muitos de nossas fileiras há muito tempo.

"Me parece oportuno,en este sentido, traer a colación una carta que Richard Lansing, Secretario de Estado de los Estados Unidos, le dirigió en 1924 al empresario de prensa
J.C. Hearst, en respuesta a una campaña de la cadena Hearst que abogaba por
instalar a un estadounidense en la presidencia de México y poner fin así a los
desafíos de la revolución mexicana.

Decía Lansing en su misiva:

México es un país extraordinariamente fácil de dominar porque basta con controlar un hombre: el presidente. Tenemos que abandonar la idea de poner en la presidencia mexicana a un ciudadano americano ya que eso llevaría otra vez a la guerra. La solución necesita de más tiempo: debemos abrirles a los jóvenes mexicanos ambiciosos las puertas de nuestras universidades y hacer el esfuerzo de educarlos en el modo de vida americano, en nuestros valores y respeto al liderazgo de Estados Unidos. México necesita de administradores
competentes.
"Entre tecnócratas globalizados y políticos clientelistas" de Mabel Thwaites-Rey y Andrea
López.
Resenha de Carlos M. Vilas, Revista Argentina de Sociologia, vol. 3, nº 5, pp. 294-302.

celsolungaretti disse...

Fez-me lembrar que a participação da Força Expedicionária Brasileira na 2ª Guerra Mundial colocou nossos oficiais superiores em contato direto com os estadunidenses, que tiveram a oportunidade de fazer a cabeça de vários deles, inclusive o Castello Branco.

Foi aí o nascedouro do golpe de 1964, articulado exatamente por tais oficiais, contando com os préstimos de seus velhos amigos da campanha na Itália.

Anônimo disse...

Exatamente, CL.

Você lembrou dos oficiais da FEB. O exemplo, agora, é um "déjà vu" dos oficiais em missão no Haiti.

A começar pelo general Augusto Heleno, chefe do GSI...

Só os tolos pensam ser coincidência.

celsolungaretti disse...

Quando estive preso em quartéis do Exército, em 1970 e 1971, conheci alguns desses oficiais veteranos e fiz-lhes perguntas sobre a FEB. Juntando com relatos que eu li depois, deu para ter uma boa visão de conjunto da coisa.

Pude também perceber o quanto eles se deslumbraram com a expertise, a tecnologia e os valores dos seus congêneres estadunidenses. Então, quando voltaram para cá, continuaram em contato com os milicões de lá.

Mas, enquanto o Kennedy era presidente, eles não conseguiam manipulá-lo facilmente. Foi um dos motivos de a primeira tentativa de golpe, em 1961, ter fracassado.

Com o assassinato do Kennedy e a posse do Lyndon Johnson, um caipirão texano que comia na mão da CIA, em apenas quatro meses o golpe já se tornou realidade.

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