sexta-feira, 18 de outubro de 2019

O PARTIDO QUE VIROU SUCO (de laranja!)

david emanuel de souza coelho
A NOITE DAS FACAS LONGAS
 (versão bozismo)
A burguesia está atônita. Nos jornalões, os escribas não escondem a perplexidade diante da auto implosão de Bolsonaro. “Bolsonaro tornou-se craque em criar crises contra si mesmo”, escreve o fiel Josias de Freitas. Na Globonews, a estupefação é flagrante, apesar de todos os salamaleques fleumáticos. 

E não foi por falta de ajuda. A imprensa burguesa quase caía de joelhos, implorando que Bolsonaro se contivesse para não atrapalhar o genial Paulo Guedes em sua cruzada contra a classe trabalhadora. Chegavam a inventar racionalidade onde ela inexistia e consenso onde só havia loucura. 

Chegaram mesmo a transformar o junta-junta chamado PSL em partido político e a aventar sua futura conversão em maior partido do Brasil. 

Doces ambições. 

Em janeiro, neste artigo, eu já alertava que havia uma bomba programada para explodir: 
"Tudo isto, no entanto, é apenas a superfície da crise. O fundamental está na inorganicidade do novo governo e em sua incompetência política.
Brigas públicas no interior do PSL mostram a completa falta de unidade política entre os grupos oportunistas que se atrelaram ao bonde Bolsonaro.  
O fato de o PSL ser um partido de aluguel dificulta a disciplina interna, pois não há quadros com raízes ou autoridade. À exceção do dono, o partido é formado por pessoas cujo único compromisso é consigo mesmas.  
(...) A crise envolvendo Flávio Bolsonaro pode prejudicar ainda mais a unidade do partido, visto ser o filho do presidente a principal liderança política do junta-junta bolsonarista.  
A tendência, avento, é o PSL perder deputados para outras siglas, dentro do autorizado pela legislação, o que enfraqueceria ainda mais o partido do presidente".
O acerto de meu prognóstico já veio na saída do principal e – incrivelmente – mais lúcido nome do partido, o ex ator pornô Alexandre Frota, o qual foi um dos primeiros a bater asas para o PSDB. 

Depois dele, o leite azedou por completou até chegar ao bang bang com metralhadoras, como metaforizou Bibo Nunes, exótico ainda apoiador do presidente. 

Conforme já expus noutros artigos, Bolsonaro é o resultado de um movimento de resposta popular à deterioração do sistema político brasileiro, deterioração largamente causada pela falência da aposta cidadã da esquerda pós-ditadura e da desintegração do neoliberalismo mundial. 

Bolsonaro farejou bem o momento social e político do país e investiu no figurino de outsider e transformador. 

Favoreceu-o o fato de ter passado quase três décadas literalmente dormindo no congresso nacional, não tendo destaque algum, seja positivo, seja negativo. Descolado dos caciques decadentes e ileso aos escândalos. pôde surgir ao olhar do povo como sendo uma figura renovadora.

No entanto, sua força era também sua fraqueza. A nulidade política que o transformava em salvador, também o transformava em um saco vazio. E já dizia o ditado: saco vazio não fica em pé

Levando-o ao governo não estava um movimento sólido, com uma rígida disciplina militar, partidária ou política, mas um ajuntamento caótico de figuras de baixíssimo nível. Uma verdadeira confederação de cretinos, unidos unicamente pela popularidade do líder e o desejo de poder. 

No período pré-eleitoral, Bolsonaro promoveu verdadeiro leilão de sua candidatura, negociando com diversos partidos o seu destino. Já apalavrado com o Patriota, traiu em última hora este partido e se bandeou para o PSL, cujo dono, Luciano Bivar, raposa velha da politiqueira nordestina, viu no então pré-candidato a oportunidade certeira para abocanhar dinheiro público. 

O PSL bolsonarista, portanto, formou-se como uma agremiação de representantes de si mesmos, cada um pensando no seu ganho privado.
Uma vez no poder, contudo, a história mudou. Já tinham chegado lá e agora todo o problema estava em quem, afinal, iria controlar o bilionário cofre do partido. E este bilhão do fundo partidário é o desencadeador da guerra vista nos últimos dias. 

Bolsonaro já deve ter percebido que, com o fim da tramitação da reforma da Previdência, seu futuro começa a ficar em aberto. Para a burguesia, o cosplay de Hitler já cumpriu plenamente seu papel e não há mais nada no seu repertório do interesse dela. Guedes ainda ensaia continuar sua fúria reformista, mas não lhe resta bala nenhuma na agulha. 

Afinal, já é consenso que a principal reforma ainda por se fazer, a tributária, não ganhou ainda unanimidade entre o baronato tupiniquim, pois toca em saber de quanto cada um vai abrir mão em nome da sustentabilidade do regime. 

Por sua vez, a reforma administrativa possui interesse próximo de zero para a burguesia, pouco importando, para seu lucro, se funcionários públicos ganham 100 mil ou 5 mil ao mês. 

Quanto às privatizações, o que ainda é lucrativo – Correios, Eletrobrás e o resto da Petrobrás – já está em passos avançados para ser doado ao setor privado. O resto é carne de terceira, sem valor algum. 

Por isso, Bolsonaro já pensa em como continuará sustentando-se na cadeira. E é aí que entra o bilionário fundo partidário do PSL. Este fundo será uma importante chave para consolidar uma estrutura partidária de verdade já a partir das eleições municipais e fazer frente política às possíveis tentativas de tirá-lo do poder.

Neste quadro, a PF e sua investigação dos laranjas veio bem a calhar, com o ministro doberman Sérgio Moro a mexer convenientemente os pauzinhos contra Bivar. A paulada final veio na frustrada tentativa de transformar o filho 03 em novo líder da bancada. 

As ações, no entanto, deram errado, com Bivar se mantendo firme no posto de dono do PSL e o alucinado delegado Waldir continuando com o apoio da maioria da bancada no congresso. 

Não tendo uma SS, Bolsonaro acabou vencido pela SA, fracassando, portanto, sua versão de baixo orçamento da noite das facas longas

Resta ao mandatário tentar tirar o máximo possível de sanguessugas do PSL e se apropriar de outro partido. Qual é a pergunta mais complexa, pois, diante do cenário, é pouco provável que algum marajá partidário aceite abrir suas portas ao presidente desagregador e à sua turma decrepita. 

Restará, então, esperar no bunker palaciano até chegar a hora do piparote institucional que o enviará à nulidade da qual saiu ou acelerar a queda com um tresloucado movimento golpista, o qual deverá ser acompanhado apenas por seus filhos e sua esposa. Qual hipótese vingará? 

Só o tempo dirá. O certo é que as cabeças da plutocracia já estão fervilhando em Brasília e na avenida Paulista, em busca de uma saída conservadora para a confusão na qual elas se enfiaram. (por David Emanuel de Souza Coelho) 

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