sábado, 7 de setembro de 2019

GOVERNO OU MOSTRENGO IDEOLÓGICO? O PRESIDENTE TEM VIÉS DITATORIAL E O GURU ECONÔMICO É UM LIBERAL ANACRÔNICO – 10

continuação deste post)
Sobre as consequências sociais e institucionais da redução mundial da massa global de salário e mais-valia – Há uma relação econômica que grande parte dos empresários não entende e cuja resultante os economistas (os mais abalizados) não abordam, embora a conheçam.

Trata-se da consequência social-institucional da redução dos custos com capital variável, dos salários, decorrentes do uso da maquinaria, principalmente da racionalidade de procedimentos e robótica cibernéticas aplicadas, que promove o aumento ou permanência do lucro de cada empresário particular que a usa na produção de mercadorias, reduzindo a quantidade per capita da mercadoria força de trabalho para cada unidade de valor produzida, mas que, concomitantemente, reduz a massa global de valor e de extração de mais-valia.

Este é o nó górdio da crise irremediável das sociedades mercantis, cujas evoluções atingiram todos os quadrantes do mundo (não há nenhuma nação no planeta que não seja mediada pela forma-mercadoria), e que vivem os impasses próprios às contradições inconciliáveis entre a forma e o conteúdo.
Tornou-se possível um operário tecnológico, no comando de uma máquina computadorizada ou de grande porte (que elimina vários postos de trabalho abstrato), obter um ganho bem superior ao de um operário menos instruído, e isto pode causar a falsa impressão de que os salários estão subindo. Mas a soma da massa de salários estará decrescendo.

Gasta-se, neste caso, mais com um único trabalhador na produção de mercadorias, e menos com o que antes se gastava com vários trabalhadores, e isto ainda com o aumento da produtividade per capita

Vale, contudo, ressaltar que, mesmo no universo de tais trabalhadores profissionalmente mais instruídos, com o passar do tempo e com a concorrência pelo emprego permanece uma tendência de redução dos seus salários (o salário de um piloto de avião de carreira, é hoje menor do que o era há 50 anos).

Trata-se da constatação prática do vaticínio marxiano segundo o qual há uma tendência irremediável, irreversível e impositiva de redução salarial dos trabalhadores. Tese que se coaduna com outra de Marx relativa à tendência de redução da taxa de lucro do capital empresarial objetivando a manutenção do valor da massa de lucros. 

É a inevitável autofagia da concentração de capitais nas mãos dos vitoriosos da guerra da concorrência de mercado, que implica a crescente pauperização do proletariado, dificultando-lhe cada vez mais a obtenção do emprego que representa a sua ruína. 

Tal como um toxicômano busca no entorpecente o ilusório prazer que o escraviza, o trabalhador que foi levado ao desemprego (agora, principalmente por causa da obsolescência do trabalho abstrato, a qual vem crescendo incessantemente desde a expansão capitalista) disputa com seus companheiros de infortúnio a batalha para todos inglória pela sobrevivência familiar, na busca pelo emprego que o escraviza.   

Ora, se a massa global de valor é reduzida pela obsolescência do trabalho abstrato (causa do desemprego estrutural pela defasagem entre a dispensa de trabalhadores e surgimento de nosso nichos de trabalho, que representa o ápice do limite de expansão capitalista, momento único da história do capital), obviamente o Estado, cujos impostos incidem sobre essa mesma base cada vez mais acanhada, tende a se fragilizar economicamente. 

Surge dessas contradições inevitáveis a debilidade financeira do Estado, razão de ser de um dos conceitos básicos do liberalismo, que quer o Estado mínimo (por ele considerado indispensável para o capital) para cumprimento eficaz das funções de regulação e manutenção da ordem de exploração capitalista a rédeas soltas. 
As guerras constituem-se, pois, numa forma genocida de eliminação de vidas consideradas supérfluas para o funcionamento social capitalista, razão pela qual, após a depressão econômica mundial iniciada a partir da segunda revolução industrial da maquinaria aliada aos procedimentos de produção em série (taylorismo fordista) no início do século 20, resultaram em dois conflitos mundiais com extermínio em massa de seres humanos. 

Mas a persistência, e até crescimento, de um contingente expressivo da população faminto e sem meios de subsistência graças ao desemprego estrutural, é fator de ebulição social incontrolável, razão de ser dos descréditos cíclicos de quantos governos assumem o poder político (seja sob bandeiras social-democratas, liberais democratas ou de uma esquerda que se diz proletária mas prática o capitalismo de estado, chegando inclusive a manter seus governos pela força das armas).  

O governo do presidente Boçalnaro, o ignaro, no qual coexistem em caótica desarmonia liberalismo ortodoxo, ranços totalitários, fundamentalismo religioso, idiossincrasias astrológicas (cada vez mais ridicularizadas), visão ecológica predatória e declarações misóginas aberrantes, constitui-se na receita certa para o isolacionismo brasileiro no concerto das nações e o aprofundamento das nossas mazelas sociais. 
Considero, entretanto, que a solução dos problemas fundamentais do povo brasileiro não será dada pela mera substituição de um governo cujas anomalias ideológicas saltam aos olhos por um governo minimamente articulado e civilizado, mas também obediente às atuais regras do jogo da produção mercantil. No máximo, poderá amenizar tais problemas. 

A solução que está a impor-se é uma nova ordem de organização social de base e a adoção da produção tecnológica ecologicamente sustentável, racional, voltada para a satisfação das necessidades de consumo, com o abandono completo da forma-mercadoria. 

Tais proposições podem a muitos parecer utópicas e inexequíveis no curto prazo. Mas o que é a utopia, quando a realidade nos impõe uma aproximação com a racionalidade, obviedade e firmeza da teoria científica mais abalizada e coadunada com o sentimento humanista mais fraterno?! 

É hora de nos alçarmos, de náufragos da utopia, a sobreviventes lúcidos da derrocada capitalista, forjando a emancipação humana. 

Por Dalton Rosado
Vivemos a era da revolução emancipacionista, cujos conceitos, métodos e comportamentos individuais e coletivos devem ser depurados da imensa carga de preconceitos, mesquinharias e irracionalidades que nos foram impostas e aculturadas por séculos de escravismo.

Isso significa superarmo-nos a nós mesmos. 

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