quarta-feira, 24 de julho de 2019

VEJA "AGUIRRE" E CONSTATE: PERSONAGENS DESVAIRADOS E AUTODESTRUTIVOS SEMPRE NOS FAZEM LEMBRAR CERTO MITO MICADO

Aguirre, a cólera dos deuses (1972) —disponibilizado, completo e legendado, na janelinha abaixo— é a obra máxima do diretor alemão Werner Herzog, que começou no dito cinema de arte e marcou forte presença nas décadas de 1970 e 1980. 

Desde então, contudo, sua carreira decaiu miseravelmente, com exceção do genial No coração da montanha (1991), no qual contrasta a integridade e a comunhão com a natureza de um alpinista veterano com a avidez de um novato talentoso pelo sucesso  e seus frutos.  

Mas, Herzog não deve ser julgado por equívocos como a refilmagem piorada de Vício frenético (levou uma goleada do original de Abel Ferrara!) e O sobrevivente. Ele chegou a ser muito grande. Deveria ter encerrado a carreira quando não lhe ofereciam mais projetos com os quais tivesse afinidade ou que estivessem à altura do seu talento.

Aguirre continua sendo, até hoje, um dos filmes que melhor flagram a apatia e passividade com que o povo alemão se submete a líderes autoritários imbuídos de ambições desmedidas e destrutivas, acompanhando-os até o mais amargo fim. O paralelo com Hitler e seu Reich de mil anos é mais do que evidente.
Destaque também para a inesquecível atuação do carismático Klaus Kinski, que parece ter nascido para representar o papel de D. Lope de Aguirre —o aventureiro que, quando o fracasso de uma expedição em busca de Eldorado se evidencia, não se conforma com a decisão de D. Pedro de Urzúa (nosso velho conhecido Ruy Guerra), o qual, sensatamente, ordena o retorno. 

Aguirre assume então o comando pela força e arrasta a todos para o âmago da selva amazônica, que os tragará.

Os  cenários naturais são majestosos, a ganância ensandecida de Aguirre impacta fortemente os espectadores e o filme é lembrado também pela convivência difícil entre Kinski e Herzog, que o diretor depois esmiuçaria no documentário Meu melhor inimigo (1999). 

Qualquer semelhança com o pior equívoco do eleitorado brasileiro em todos os tempos —um indivíduo tão truculento, alucinado e autodestrutivo quanto Aguirre— já não pode ser vista como mera coincidência, mas sim como premonitória...

2 comentários:

Anônimo disse...

***
Só poderei assistir ao filme a semana que vem.
Quanto ao governo (fosse qual fosse) não teria muito o que fazer. Então é muito circo o pouco pão. O perigo é que estão procurando um bode expiatório.
O capitão tentou os nordestinos... ele está em busca da vítima sacrificial para aplacar a ira do destino soturno que aguarda aos cada vez mais desempregados e subempregados que, se não estão na indigência, tiveram sua renda reduzida.
Sem grana, ninguém compra.
Com a tecnologia se produz cada vez mais.
Certa vez li que toda crise do capital é uma crise de superprodução.
A capacidade ociosa está cada vez maior e o pato amarelo está cada vez mais desbotado e incompetente para enfrentar a concorrência internacional.
A liberação do FGTS cada vez mais se mostra uma piada de péssimo gosto, além do que fez a maré baixar e mostrou quem estava nadando nu.
Os agroloucos entraram em delírio psicótico induzido pelos tóxicos pesados que usam.
Abelhas e outros polinizadores morrem. O mamão já não tem sementes viáveis e a bananeira será extinta.
A vida periclita.
Se existe uma coisa inútil é a inteligência de que é dotado o ser humano.
Não usa!

Ricardo Pires disse...

Transito pela periferia da Grande São Paulo. Embora o povo sofra com a crise medonha que vivemos, não vi ainda pessoas pulando catracas de ônibus. E observem que uma passagem é quase o mesmo preço de uma dúzia de ovos de tamanho médio. Uma família pobre, com quatro pessoas, gasta mais com condução do que com alimento.

Como o agravamento da crise logo o povo começará a reagir desordenadamente. Primeiro pulando catracas, depois saqueando pequenos supermercados da periferia. Isso já aconteceu no passado.
É o que espera este governo para amedrontar, reunir aqueles que o elegeram e que vão se dispersando, se desiludindo com seu governo.

A esquerda organizará o povo para resistir à repressão violenta [que virá certamente]?

Fará como fez nas manifestações de junho de 2013 contra o aumento das passagens deixando passar até uma lei repressora justamente devido o povo nas ruas?

É isso que está posto daqui para a frente.

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