(continuação deste post)
— aqueles que obtêm recursos advindos do processo mercantil da forma-valor (os grandes administradores do capital);
— alguns pequenos empresários; e
— os serviçais privilegiados (a nomenclatura política, a chamada aristocracia operária – chefetes e gerentes –, ou profissionais liberais qualificados).
A maior parte dos trabalhadores que produzem o valor das mercadorias mais custosas (uma moradia, p. ex.) não pode ter acesso às suas aquisições, tendo de se contentar precariamente com a aquisição das mercadorias de baixo valor e preço. Isto gera um impasse intransponível no que se refere a um equilíbrio linear da socialização pela forma-valor.
Conclusão: a relação social sob a forma valor em seu estágio desenvolvido, o capitalismo, é excludente, segregacionista e somente sobrevive graças à exploração de grandes contingentes humanos, circunstância social inversamente proporcional à parte da população que dele se beneficia (acima citada).
É graças a isso que as cidades são cindidas em bairros onde os de melhor poder aquisitivo moram, circundados pelos cinturões de pobreza onde moram os trabalhadores que somente podem adquirir as mercadorias e serviços (que são também mercadorias intangíveis) de menor custo de produção.
O interior dos países obedece ao mesmo plano de sociabilidade; e o mundo segue igual comportamento, com variações, dependendo de serem países que produzem e exportam mercadorias sofisticadas de alto valor, preço e valor agregado, ou de serem detentores de grandes reservas de commodities valorizadas (como alguns emirados árabes com reservas petrolíferas).
Na esteira dessa acirrada disputa ocorre a necessidade de investimentos cada vez maiores em capital fixo (equipamentos, instalações, pesquisas tecnológicas de alto custo de materiais, etc.), que não gera valor, e cada vez menos em capital variável (salários, a única parcela da produção de mercadorias que produz valor novo), o que contribui substancialmente para a redução da taxa de lucro como forma de ser sofrivelmente mantida a massa de lucro.
Tal guerra de mercado, que obriga os produtores ao uso tecnológico da produção de mercadorias que reduz custos exatamente no componente salários, resulta numa queda global da extração de mais-valia (ponto fulcral de toda a lógica do sistema capitalista), provocando uma redução ainda maior do poder de compra geral de mercadorias.
É uma competição fratricida, com os próprios capitalistas se digladiando num processo autofágico concorrencial em que uns engolem os outros, numa acumulação de capitais nocivas ao equilíbrio social.
Esta é a razão mundial da recessão econômica e do desemprego estrutural; da falência anunciada do sistema de crédito mundial; e da falência e endividamento do erário público em todos os níveis e lugares.
Todos os conceitos e conclusões aqui levantados de modo sucinto, e que vêm sendo confirmados pelo empirismo da vida social mundial, estão embasados da crítica da economia política formulada por Karl Marx, que apresentam sérias divergências teóricas com relação ao próprio Marx politicista, exotérico, tão incensado pelo pensamento leninista, e que deu no que deu.
O resumo dessa ópera bufa capitalista é que a mediação social pela forma-valor (dinheiro e mercadorias), defendida pelos economistas como algo sustentável e perene, corresponde a uma tese social anti-científica, como denunciou Karl Marx há cerca de 160 anos.
A forma-valor se constitui como uma relação social abstrata, meramente numérica, que se apropria do concreto (os objetos e serviços transformados em mercadorias) para dele fazer uso existencial objetivando a consecução do seu vazio fim em si mesmo: a auto-reprodução ad infinitum, que submete todos à sua ilogia social fetichista (mas somente até o momento de sua saturação, que agora ocorre), e é insensível às necessidades humanas da qual apenas faz uso.
Essa forma-mercadoria tem um caráter onívoro que atrai, contamina e submete aos seus ditames fetichistas tudo o que socialmente existe, governando até mesmo os governantes. Estes, quando têm mentalidade fascistizante, exacerbam seus atos totalitários, os quais se coadunam com a lógica a que servem de bom grado.
Por outro lado, submetidos aos mesmos ditames tirânicos da forma-mercadoria, os governantes com sentimentos socializantes obedecem, ainda que constrangidos, às suas ordens contábeis mesquinhas, impelidos que são a aceitarem como obedientes cordeiros a lógica cartesiana da qual são dependentes, tanto do ponto de vista econômico como institucional.
O risco que se corre (além das agruras que nos são impostas pelo meio do caminho) é o de que, na sua autofagia destrutiva e autodestrutiva, a forma-valor leve consigo toda a existência animal e vegetal do planeta, sob a forma de desastres ecológicos ou nucleares.
O tirano da atualidade é, pois, uma forma abstrata, ainda que sustentada por pessoas físicas terrivelmente submissas ao evangelho dos ditames fetichistas do Deus-valor, e muito mais difícil de ser identificada pelos servos voluntários (que são voluntários justamente por desconhecê-la na sua essência destrutiva e autodestrutiva) ou involuntários, coagidos por uma ordem econômico-político-institucional opressora.
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