segunda-feira, 22 de julho de 2019

OS SÚDITOS DE HOJE NEM SEQUER SABEM QUE NÃO SABEM QUAL É A VERDADEIRA CAUSA DE SUAS ADVERSIDADES – 2

(continuação deste post)
Os súditos atuais, ou servos voluntários da lógica abstrata da forma-valor (dinheiro e mercadoria), não são oprimidos por ninguém em particular, mas por uma ordem jurídico-institucional que concede força de coerção manu militari à tirania absolutista do processo de auto-reprodução cumulativa e segregacionista da riqueza abstrata. 

Tal riqueza não admite justa distribuição social, precisamente porque isto representaria a morte de sua razão de ser; sua própria morte consciente, algo impossível de ser por ela admitido ou praticado.

Querer humanizar o dinheiro de modo a que ele seja partilhado equitativamente (como querem muitos marxistas exotéricos, ou como falaciosamente defendem os capitalistas, dois pólos que representam espécies de um mesmo gênero e se digladiam propondo formas político-administrativas diferenciadas, mas sob uma mesma base de lógica de produção social) é desejar a correta solução de uma equação que tem um enunciado incorreto; é como pretender-se que uma subtração matemática produza um resultado de adição. 

Assim, como os súditos nem sequer sabem que não sabem onde reside o problema (como bem disse Noam Chomsky), eles se submetem voluntariamente à tirania impessoal contida num modo de produção cujo anacronismo não é socialmente percebido, ainda que se sofram as suas consequências de modo cada vez mais evidente.  

A rebeldia dos súditos eleitores se circunscreve à rejeição periódica de políticos que se sucedem e se revezam no poder político como serviçais do poder econômico (muitos destes últimos se locupletando do dinheiro dos impostos que administram ou intermediam; envaidecendo-se da sala VIP nos aeroportos e dos espaços pomposos nas solenidades; e gozando das benesses do poder e dos convescotes nos quais são servidos acepipes e bebidas da mais alta qualidade, extraídos do sangue dos trabalhadores). 

Nunca é demais fazermos um tentativa de esclarecimento sobre um tema que é omitido o distorcido nas escolas e academias, propositadamente, como forma de afirmação de um modo de produção social que precisa ser urgentemente superado.

Evidentemente, tal superação não há de vir com os primarismos de governantes que não conseguem enxergar (nem querem enxergar) um palmo adiante do seu nariz em termos de mecânica da vida social, e que, mesmo assim, conseguem ser eleitos por eleitores que ouviram o galo cantar mas não sabem onde. 

Vamos, enfim, à análise dessa questão complexa que é a inconsciência social, esforçando-nos para explicitá-la da melhor forma possível.  
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BREVE ESTUDO SOBRE O IMPASSE DA VALORIZAÇÃO DO VALOR O processo de transformação do dinheiro em mercadorias que, produzidas e comercializadas no mercado, representam uma soma maior de dinheiro, foi traduzido por Marx na fórmula D=M=D’, correspondente à reprodução contínua e cumulativa de dinheiro e mercadorias, representações da forma-valor, que tende ao infinito. 

O que os economistas clássicos não entenderam, não quiseram entender (por interesses sistêmicos ou por obediência ao que se transformou na ciência social econômica, ainda que cientificamente contraditória) ou não admitem (no que são corroborados pelos economistas atuais, por idênticos interesses, e que assim reincidem no mesmo erro) é que o processo de valorização do valor acima demonstrado esbarra em limites lógicos existenciais.

Para que o valor representado pelo dinheiro investido na produção de mercadoria que se transforma em mais dinheiro seja cumulativo, faz-se necessário que a mercadoria produzida obtenha no mercado um valor (e preço, que tem conceito diferente, embora expresse valor) acima daquele que corresponde ao seu custo de produção. 
Tal ocorre porque se o valor da mercadoria fosse igual ao valor investido, obviamente, não haveria a acumulação do capital, que é o objetivo teleológico de toda essa operação mercantil. Então, todo esse processo deixaria de existir, gerando uma outra forma de produção social que pode ser negativa ou positiva, da seguinte maneira:
— negativa, tal como no passado mais recente, que foi escravista direto (ou seja, o homem produzia para o seu senhor, que se apropriava do que era produzido, tendo o trabalhador direito apenas a uma ração insuficiente e uma habitação precária; 
— ou emancipacionista, sendo a mediação social feita por produção e distribuição equitativa, com organização social horizontalizada e distribuída por setores de atividades em colaboração social contributiva.  

Mas essa mercadoria, mensurada por um valor majorado no mercado, precisa que haja compradores detentores de valor-dinheiro, o que não ocorre de modo cômodo ou socialmente possível, uma vez que o custo de produção representado pela força de trabalho, outra mercadoria de menor valor (o salário de quem produziu a mercadoria objeto consumível) tende a ser menor do que a mercadoria a ser vendida no mercado. (por Dalton Rosado)
(continua neste post)

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