terça-feira, 23 de julho de 2019

BOLSONARO, OU A INSUPERÁVEL MEDIOCRIDADE DO SER

O blogueiro errou. No último dia 25 de março divulguei um prognóstico que, como aqueles dos charlatães fazedores de horóscopos, era uma possibilidade plausível diante de como o quadro político brasileiro se apresentava naquele momento:
"...durante a campanha eleitoral, várias vezes escrevi que o predecessor de Bolsonaro havia sido o palhaço sinistro (assim Paulo Francis o qualificava) Jânio Quadros. Inepto para o exercício da presidência, ele se viu emparedado pelo Congresso e tentou aumentar seu poder com uma ridícula tentativa de autogolpe cujas consequências foram terríveis, pois colocou o país na direção de uma ditadura que duraria 21 anos.
Também previ que um eventual governo Bolsonaro, colocando no mesmo balaio (de gatos de beco) tendências políticas e econômicas tão díspares e personagens tão medíocres, não duraria sequer um ano. Pelo andar da carruagem, talvez não dure nem os seis meses do Jânio..."
Bem, ele durou os seis meses do Jânio e agora parece remota a hipótese de sua substituição até o último dia de 2019. 

Onde foi que eu errei? Apenas em superestimá-lo, ao supor que repetiria a trajetória do palhaço sinistro.

Jânio Quadros, apesar de utilizar performances histriônicas para garantir visibilidade permanente no noticiário, tinha lá suas convicções (autoritárias) e arriscou o mandato para tentar obter o poder necessário para colocá-las em prática. Perdeu.

Jair Bolsonaro é outro tipo de palhaço: o que atira uma torta na cara do guarda e depois foge em disparada para não levar uma surra.

Quis derrubar o prestígio de altos oficiais militares, na esperança de ter o apoio da caserna para suas maluquices ultradireitistas, e percebeu que, se insistisse, o derrubado seria ele. Teve até de colocar uma focinheira no Olavo de Carvalho.

Pensou que conseguiria domesticar o Congresso, mas o Rodrigo Maia fez sua barba, cabelo e bigode.
Acreditou que as ruas o ajudariam a empurrar sua pauta neofascista goela dos brasileiros adentro e recebeu um apoio chocho que não intimidou ninguém.

Então, caiu na real e já se mostra visivelmente conformado com passar os próximos três anos e meio fazendo macaquices e travando sua guerra cultural contra moinhos de vento secundários, enquanto do principal se incumbe o sistema, como sempre.

O que mais dele se poderia esperar, depois de haver passado três décadas expondo a insuperável mediocridade do seu ser em mandatos de vereador e deputado federal? O destino tirou Bolsonaro do baixo clero da Câmara, mas nada no mundo parece capaz de tirar o baixo clero da alma do Bolsonaro.

Eu viajei na maionese ao traçar paralelos entre quem era brilhante a seu modo e até 1961 vinha conquistando vitória após vitória e quem nunca passou de coadjuvante e está condenado a sê-lo até o fim dos seus dias, mesmo que envergando (e envergonhando) a faixa presidencial. Mea culpa. (Celso Lungaretti)

4 comentários:

Anônimo disse...

Caro, CL
Sinto muito em dizer isso, mas faz parte do novo modelo de mandatário a serviço do capital financeiro transnacional, seja com trump ou na Itália, Índia, Inglaterra e Brazil...

É o mandatário "clown", palhaço, com seus dizeres polêmicos para desviar o foco do essencial, a economia e o xadrez geopolítico internacional.

A revista the economist já afirmou que vivemos a era da economia da atenção. Isto é, com as redes sociais, as coisas só existem quando as atenções para elas convergem...

Dessa forma, enquanto um palhaço distrai as atenções com seus nonsenses, o capital financeiro transnacional aperta o garrote contra o povo e a soberania nacional.

Mas tudo isso com a participação da esquerda fofinha, cirandeira, que já garantiu um pedacinho do butim...

Anônimo disse...

Veja só o Projeto de Lei 2418/19, a pretexto de combater o "terrorismo" vão oficializar a espionagem nas redes sociais (vide NSA, Snowden). Vão bisbilhotar a vida de cada cidadão...

Regime ditatorial disfarçado, tá tudo dominado...estamos ferrados, companheiros.

Cadê a esquerda? Tá jogando o jogo do bandido...Todos com cabresto curto...

celsolungaretti disse...

A esquerda que havia, acabou.

A esquerda de que necessitamos, temos nós de a construir.

E, para quem conheceu a ditadura militar, isso que está aí não impressiona. Nem serve como desculpa para não estarmos fazendo o que deveríamos.

Temos de nos preocupar menos com o inimigo, que já perdeu o impeto e, se não começar depressa a reverter a tendência de piora da economia, vai perder o poder.

Temos de nos ocupar de oferecer uma saída do estado calamitoso a que sete meses de boçalidade truculenta reduziram o Brasil.

Pois há enorme chance de logo herdarmos o abacaxi que eles não estão conseguindo descascar.

Anônimo disse...

Acredite, "sete meses de boçalidade truculenta" é o espelho de nossa classe média.

É bom lembrar que a comida que chega à mesa do brasileiro é cultivada pela agricultura familiar.

Esse (des)governo é sustentado pelo agronegócio e pelo capital financeiro. Esses setores não são afetados se houver quebradeira nas indústrias (que já está ocorrendo), os patos amarelos da fiesp.

É claro que globo, estadão, fsp, veja etc. sempre almejaram uma "democracia sem povo" e apoiam esse (des)governo.

O que nos resta? Ocupar a av. paulista pela pauta identitária? Chamar as "lideranças" ciro e haddad (que vergonha !)? Ou esperar atingirmos 100 milhões abaixo da linha da pobreza ?

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