Atualmente as pessoas no Brasil estão perplexas. Há no semblante dos transeuntes e das pessoas que nos são próximas um quê de desespero e medo causado pela instabilidade relativa às dificuldades do provimento do sustento econômico pessoal e familiar, bem como pela incapacidade estatal de atendimento das demandas sociais básicas como saúde, educação e segurança pública.
Os empregados, na sua maioria com salários baixos, vivem o medo da demissão causada pela recessão que se abateu sobre o país em 2014 e da qual verdadeiramente não saímos até hoje, embora, por discutíveis critérios técnicos, esteja sendo considerada intermitente. Para os que sofrem seus efeitos ela não vem e vai, mas veio e permanece...
Como consequência:
— os desempregados vivem o desespero de sentirem-se aptos ao trabalho e sem perspectiva de proverem o próprio sustento porque não lhes são oportunizadas oportunidades de emprego;
— o funcionalismo público assiste atônito ao discurso da falência estatal que o considera um estorvo nacional;
— os idosos já aposentados e inválidos estão sob ameaça de corte das suas aposentadorias;
— os que pagam a previdência social e aspiram a uma aposentadoria confortável no momento no qual o envelhecimento requeira cuidados especiais e gastos com remédios, tomam conhecimento pela mídia de que seus direitos são tidos como causa da depressão econômica nacional e a renúncia a eles seria a varinha de condão capaz de nos livrar de todos os males;
— os empresários (principalmente os pequenos) angustiam-se com a possibilidade de falência.
Francamente, não dá para engolir essa pílula. Isso é o que o sistema tem para oferecer no seu ocaso (dis)funcional.
Num clima de salve-se quem puder e de medo:
— as pessoas são levadas a aceitarem o ruim como forma de evitar-se o péssimo;
— elas, ou se tornam passivas e impotentes, ou se tornam perigosamente agressivas, buscando soluções simplistas como a eleição de salvadores da pátria;
— parte delas, uma percentagem menor mas em constante crescimento, contribui para o aprofundamento do caos, derivando para a crueldade da barbárie desumana do crime organizado (já se tornou economicamente proibitiva a prisão de tantos criminosos fabricados pelo sistema, sejam os de colarinho branco ou os de colarinho sujo).
Diante da evidência da agressão ecológica terrestre, marítima e atmosférica, a lógica predatória do capital é tão impositiva que os donos do poder (as grandes empresas capitalistas) e seus serviçais (os políticos, que não podem ter vontade soberana já que são subjugados por uma ordem econômico-institucional ferreamente estabelecida) contrariam as afirmações científicas perceptíveis no dia-a-dia e visíveis no noticiário internacional, tornando-se negacionistas cínicos.
Entretanto, não se vê no debate político, na grande mídia de comunicação e nem mesmo nas redes sociais, qualquer alusão a alternativas de modo de produção e de organização, como se encararmos como única saída de nossas agruras atuais a retomada do crescimento econômico e a produção de mercadorias fosse algo tão imutável como a nossa necessidade de beber água.
Versos de "Pátria Armada", de Wilson Cardoso Moreira |
Por que não se critica o nosso modo de organização social englobando a produção de mercadorias (mediação social pelo dinheiro, expressão materializada da forma-valor) e as instituições dele derivadas e moldadas para a sua sustentação???
São dois os motivos principais, dentre outros contributivos mas menos expressivos para esse embotamento da razão social, quais sejam:
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1. a questão da consciência social – Temos um sistema educacional de base que perpetua conceitos ultrapassados, repetidos incessantemente pelos professores como um mantra religioso dogmático. Seus alunos, seja na vida pessoal ou na eventualidade de se tornarem um dia professores, repetirão como papagaios que o trabalho é fonte de dignidade humana.
Tal afirmação confunde a categoria trabalho (substância primária da produção de valor econômico e fonte de escravização indireta dos indivíduos socais transformados em cidadãos titulares de pretensos direitos e de reais obrigações) com a necessária e natural interação metabólica do ser humano com a natureza objetivando a obtenção do seu sustento.
Não se explica na escola que um quilo de feijão destinado a alimentar algumas pessoas durante um determinado período é algo natural; e que o mesmo quilo de feijão destinado ao mercado ganha dupla personalidade, transformando-se em mercadoria, com valor de uso (algo concreto), pois seu consumo satisfaz necessidades humanas; e valor de troca (algo abstrato).
O valor de troca transforma o trabalho igualmente numa mercadoria, promovendo o nefasto valor econômico, que beneficia uns em detrimento segregacionista da maioria –principalmente daquele trabalhador rural que o produziu. (por Dalton Rosado)
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