GUARDE A TOCHA: QUEM TORCE POR JUSTIÇA NO CASO NEYMAR DEVERIA FICAR QUIETO
O final de semana foi marcado por uma discussão pública intensa sobre a acusação de estupro que veio à tona na última 6ª feira (31), contra Neymar. No sábado (1º), o jogador publicou um vídeo em seu Instagram expondo as conversas íntimas que teria mantido com a denunciante, via WhatsApp, antes e depois de encontrá-la num quarto de hotel em Paris.
Além da conversa, o vídeo — que foi excluído ontem por violar os termos e condições do Instagram — mostrava imagens da denunciante nua. O rosto dela foi preservado pela edição, mas o nome foi divulgado abertamente no programa Brasil Urgente, apresentado por José Luiz Datena (que, coincidência ou não, responde processo por assédio sexual). Ou seja: a vida da moça está sendo devassada pela opinião pública.
Você pode estar se perguntando se Neymar está acima da lei por não ter sido punido na divulgação de conteúdo sexual envolvendo a denunciante. Para a promotora de justiça Silvia Chakian, que coordena o Grupo Especial de Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher do Ministério Público do Estado de São Paulo, até essa conclusão pode ter desfechos variados quando a hipótese de estupro for comprovada ou refutada.
"É precipitado dizer que Neymar praticou o crime previsto no artigo 218-C do Código Penal ao divulgar as conversas de WhatsApp porque ele tem direito ao exercício da defesa dele, assim como ela — e essa troca de mensagens precisa ser analisada pela justiça. É impossível enquadrá-lo em algum crime enquanto as evidências ainda são objeto de investigação", explica.
Há quem diga que Neymar está sendo muito mais exposto do que a denunciante por ser uma figura pública e há quem lembre que a modelo exposta na internet não tem as mesmas oportunidades que Neymar de defender a própria honra após ter nudes vazados.
Sobre isso, Chakian também pondera: "Por um lado, Neymar está sofrendo uma acusação de crime hediondo, com muito estigma. Por outro, é inaceitável que uma mulher seja rotulada publicamente com base em seu comportamento sexual. Um crime gravíssimo foi noticiado e ele merece uma investigação exemplar, porque duas vidas e duas reputações estão em jogo", completa.
Durante nossa conversa, a promotora ressaltou que outras responsabilidades sobre a divulgação de imagem e identidade da vítima também estão sendo investigadas pelos órgãos competentes. O veredicto sobre o crime de estupro pode mudar a forma como a justiça vai encarar a iniciativa do jogador ao divulgar uma troca de mensagens desse tipo.
TÁ, MAS O QUE A GENTE TEM COM ISSO? — Tudo e nada. Ao mesmo tempo em que a repercussão do caso gera diálogos fundamentais para o avanço do debate sobre violência de gênero, é impossível negar que o tribunal da internet pesou na decisão do jogador quando ele optou por expor a intimidade da denunciante.
Além da própria reputação, é sabido que Neymar tem contratos publicitários milionários a perder caso seja condenado por alguma das acusações — e isso deixa o caso ainda mais tétrico para quem se irrita com o poder que o dinheiro tem de conduzir as pessoas a decisões equivocadas ou criminosas.
Expor a intimidade de alguém que te acusa de abuso sexual não é uma boa ideia em nenhum caso, mas principalmente quando se é inocente. Fica parecendo que não é. O gesto de Neymar ao publicar o vídeo foi revoltante mesmo, e é natural que as pessoas queiram respostas legais sobre isso.
Por outro lado, o debate leviano sobre casos sérios também foi o que nos fez testemunhar essa conduta lamentável do jogador. É difícil confiar na justiça brasileira e esse talvez seja um dos motivos pelos quais nos sentimos imbuídos da missão de fazê-la com nossos próprios teclados.
Esse raciocínio, aliás, é bem sintomático durante um governo que pretende legalizar armas para que o cidadão não precise de segurança pública para se sentir seguro.
Esse raciocínio, aliás, é bem sintomático durante um governo que pretende legalizar armas para que o cidadão não precise de segurança pública para se sentir seguro.
Quanto à culpa ou inocência de Neymar, tanto as pessoas que acreditam que o jogador cometeu um estupro quanto as que acham que ele foi vítima de uma acusação falsa estão, agora, no mesmo barco.
A quem acompanha o caso esperando por um desfecho justo, resta torcer para que a tal da investigação exemplar aconteça mesmo — e que novos debates públicos, mais lúcidos, possam se desenrolar nas redes. (por Luíza Sahd, jornalista, escritora e especialista em mídias digitais)
.
TOQUE DO EDITOR — Eu não queria deixar um assunto do momento ausente do blog, mas tive receio de que minha antipatia pelo personagem contaminasse o texto. Então, optei por garimpar algo muito raro nos artigos sobre o novo imbroglio do Neymar: uma análise equilibrada. E encontrei esta acima, perfeita, da Luíza Sahd.
Isto posto, considero-me liberado para dar meus pitacos de velho jornalista sobre o caso:
1. Neymar nada mais é do que um menino mimado de 27 anos, que desperdiça seu talento futebolístico por não ter cabeça para aproveitá-lo nem adulto que lhe imponha limites (faz-me lembrar muito o Michael Jackson, exceto nas preferências sexuais, claro!);
2. foi vítima de uma óbvia arapuca, mas é culpado de agressão e de crime virtual;
3. dá para imaginarmos que frustrar-lhe as expectativas, atentando contra seu narcisismo encruado e exacerbado, fizesse parte do script, pois era óbvio que a reação decorrente não poderia ser outra (o paralelo, aqui, é com outra cilada, aquela na qual caiu o pugilista Mick Tyson);
4. é revelador que a primeira intenção fosse a de arrancar-lhe grana num processo civil e a denúncia criminal só tenha sido decidida depois que o Neymar pai se recusou a abrir a carteira, asnaticamente (o montante do prejuízo que o filho sofrerá é infinitamente superior ao que despenderia no acordo);
5. ninguém é inocente nessa história. (por Celso Lungaretti)
A quem acompanha o caso esperando por um desfecho justo, resta torcer para que a tal da investigação exemplar aconteça mesmo — e que novos debates públicos, mais lúcidos, possam se desenrolar nas redes. (por Luíza Sahd, jornalista, escritora e especialista em mídias digitais)
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TOQUE DO EDITOR — Eu não queria deixar um assunto do momento ausente do blog, mas tive receio de que minha antipatia pelo personagem contaminasse o texto. Então, optei por garimpar algo muito raro nos artigos sobre o novo imbroglio do Neymar: uma análise equilibrada. E encontrei esta acima, perfeita, da Luíza Sahd.
Isto posto, considero-me liberado para dar meus pitacos de velho jornalista sobre o caso:
1. Neymar nada mais é do que um menino mimado de 27 anos, que desperdiça seu talento futebolístico por não ter cabeça para aproveitá-lo nem adulto que lhe imponha limites (faz-me lembrar muito o Michael Jackson, exceto nas preferências sexuais, claro!);
2. foi vítima de uma óbvia arapuca, mas é culpado de agressão e de crime virtual;
3. dá para imaginarmos que frustrar-lhe as expectativas, atentando contra seu narcisismo encruado e exacerbado, fizesse parte do script, pois era óbvio que a reação decorrente não poderia ser outra (o paralelo, aqui, é com outra cilada, aquela na qual caiu o pugilista Mick Tyson);
4. é revelador que a primeira intenção fosse a de arrancar-lhe grana num processo civil e a denúncia criminal só tenha sido decidida depois que o Neymar pai se recusou a abrir a carteira, asnaticamente (o montante do prejuízo que o filho sofrerá é infinitamente superior ao que despenderia no acordo);
5. ninguém é inocente nessa história. (por Celso Lungaretti)
3 comentários:
O prejuízo em futuro breve é evidente. No facebook já tem postagem perguntando qual mulher agora irá comprar tênis da Nike, uma das maiores patrocinadoras do jogador.
Seguir a sabedoria dos antigos filósofos gregos de "que a vida deve ser pautada não pelo prazer, mas pela ausência da dor"?
Deve ser muito difícil para ele. É jovem, muito assediado pelas oportunistas. Tem muito dinheiro. Cometerá muitos erros e cairá ainda em muitas armadilhas.
Bom dia Celso, tudo bem?!
Aqui, é o Hebert.
Dadas as devidas proporções ( é claro ),
dois casos no esporte são esclarecedores,
no que diz respeito ao tratamento
dispensado a algumas personalidades,
por comunicadores, formadores
de opinião.
No caso do péssimo trabalho, time sem padrão de jogo,
irregular, lista de escalação indefinida,
tendo que igualar placares e viradas, devido aos vários gols sofridos
( sem contar as péssimas declarações pós jogo ),
Abel Braga foi protegido com ressalvas sobre sua simpatia,
honradez e devoção familiar.
Um "ingênuo", vítima da sacanagem da diretoria,
a mesma com quem o "injustiçado" negociava, quando Dorival Junior
ainda era treinador do Flamengo.
Já no caso do nosso "pequeno príncipe",
nesta altura, não sei ao certo se formadores de opinião fazem o imaginário popular,
ou se apenas seguem o padrão do(a) de nível mediano, seguindo máximas como:
"- Ih, os pobres jogadores de futebol ( assim como pagodeiros ),
são alvos fáceis destas interesseiras." Ou coisas do tipo.
Um abraço.
Hebert,
pelo visto você é Flamengo até morrer, então sabe mais das coisas do rubronegro do que eu.
Quanto ao Neymar, está travado até hoje no narcisismo infantil e é um tremendo mau caráter (lembra de quando uma pirraça dele levou à demissão do mesmo Dorival Jr., o técnico que o projetara no Santos?), mas a fulana leva mesmo todo jeitão de ser golpista.
Bobos como ele e o Mick Tyson podem ser facilmente levados a explosões de nervo que fornecem marcas visíveis de agressões. E há quem ache que valha a pena tomar algumas porradas em troca de alguns milhões.
As agressões devem ser punidas e a exposição de fotos e diálogos íntimos também. Mas, "estupro" seria demasiado quando há gritantes indícios de arapuca sexual & extorsão.
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