sexta-feira, 21 de junho de 2019

OS ARTISTAS SÃO A ANTENA DA RAÇA. E O CHICO BUARQUE É O QUE, O RETROVISOR?

A frase célebre do Ezra Pound, de que os artistas são a antena da raça, não se aplica em todas as ocasiões ao Chico Buarque.

Ele tem uma sensibilidade artística muito aguçada, mas quando se trata de timing político, o Chico está mais para retrovisor da raça.

Em plena efervescência de 1968, enquanto Geraldo Vandré e Sérgio Ricardo faziam os militares espumarem de ódio com canções politicamente engajadas e os tropicalistas obtinham o mesmo efeito com sua contestação comportamental e moral, Chico lançava as xaroposas e intemporais Bom tempo (!!!), Januária, Carolina, Sabiá, etc.

Não acordou de sua letargia nem mesmo quando começou a ser elogiado pelos fardados, que o apontavam como bom exemplo, ao mesmo tempo em que vituperavam o mau comportamento dos músicos que preferiam enfocar problemas políticos e sociais.
Em 1968 havia bom tempo... quando não choviam porradas.
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Depois da promulgação do AI-5, contudo, os ares brasileiros começaram a ficar irrespiráveis para ele e o Chico, depois de apresentar-se na França, resolveu permanecer a salvo na Itália enquanto o pau cantava na patriamada

Só em 1970 ele lançaria uma contundente autocrítica da sua falta de combatividade no início da carreira e, especialmente, em 1968: a canção Agora falando sério (ouça-a na janelinha abaixo). A ficha demorou uns quatro anos para cair mas, a partir de então, ele assumiu papel marcante na resistência artística à ditadura.
"ele decidiu fazer do PT um partido de governo"
Agora, leio na Folha de S. Paulo que ele tem "muitas reservas ao PT", por causa de episódios de corrupção "como os dos governos precedentes".

Também critica o partido por haver renunciado a muitos de seus ideais. Motivo: 
"O Lula estava cansado de perder eleições, então ele decidiu fazer do PT um partido de governo. Por isso fez concessões, acordos com forças que o PT não teria aceitado em tempos normais. O PT deixou de ser um partido de esquerda para se tornar uma formação social-democrata".
agora ele percebeu isso?! Nem desconfiou em 2013, quando o PT se mantinha indiferente à barbarização dos manifestantes do Passe Livre pela repressão dos governadores reaças? E o que ele vai fazer para remediar o atraso, compor a Agora falando sério – 2?

5 comentários:

Unknown disse...

Não sou adepto do hay gobierno soy contra.
Mas se o artista fatura sendo contra ou favor conforme as conveniências aí é art gratias artista e ponto.
E ele soube usar a grana de maneira admirável. Admiro isso.
As vezes cantarolo Roda Viva que é a que me diz algo próximo aos eventos da minha quase sexagenária existência.
Posto que demonstra o quanto as vezes somos movidos como peças de uma engrenagem.
Cantarolo e escuto Coração Feliz na voz veludosa de Beth Carvalho, Luz do Vencedor (Alcione cantando), a Divina voz de Elizete Cardoso cantando Exaltação a Mangueira (mas Clementina de Jesus conseguiu chegar lá também) é de ficar extasiado.
Ave de prata na voz de Elba.
Nelson Gonçalves O Escravo e o Rei.
Bem examinado...
Quem foi mesmo este tal de Chico?
Que mensagem teve para mim???
Até Caetano disse algo que me serviu quando morreu minha filha: Oração ao Tempo.
Djavan pelo menos transformou a mesma perda em Flor de Liz.
Ah é Chico é bonitinho e "engajado".
Um querido.
Deus o abençoe e Deus lhe pague!!!

celsolungaretti disse...

A "Roda Viva" também me disse algo, houve momentos em que eu realmente me senti indo "contra a corrente/ até não poder resistir/ na volta do barco é que sente/ o quanto deixou de cumprir".

"Trocando em miúdos" era o álcool que eu derramava nas minhas feridas de amor para, com um tanto de masoquismo, fazê-las doerem ainda mais. "Eu bato o portão sem fazer alarde / Eu levo a carteira de identidade / Uma saideira, muita saudade / E a leve impressão de que já vou tarde"

E "O velho" tem tudo a ver com o que sinto nestes tempos de regressão à barbárie. "Me diga agora / O que é que eu digo ao povo / O que tem de novo / Pra contar / Nada, eu só vejo uma triste estrada / Pra nenhum lugar". Só que não exatamente na acepção da letra (o velho se dirigindo para a morte), mas sim na de que hoje a patriamada está sem rumo, indo para o quinto dos infernos.

De resto, o Chico tem muitas canções soltas que me agradaram, mesmo que com elas não me identificasse pessoalmente. E um disco perfeito, o "Construção", de 1971, com ótimas letras e os incríveis arranjos do Rogério Duprat tornando tudo trepidante, impactante, apesar da voz monótona do cantor.

Vandeco disse...

Vivi toda a época da ditadura e a "época do Chico Buarque" e em Juiz de Fora - MG. Curti muito as músicas do Chico Buarque, que tocavam além das nossas casas, nos bares, nas "boates" e até na zona Boêmia, tal e qual as músicas de Nelson Gonçalves. Pra mim, das músicas do Chico Buarque que entranhavam minhas veias como também as de Nelson Gonçalves, do Chico posso dizer que morreram com o tempo, diferentemente com as do Nelson Gonçalves. As dos Chico passaram no tempo, esqueci!

geraldo.rjr.blog disse...

Quanta bobagem. A verdade fica eternizada no tempo. Por isso, Chico Buarque sempre será conhecido e imortalizado pela sua obra. E você será esquecido.

celsolungaretti disse...

Ora, e quem disse que eu quero ser lembrado? Passei toda a minha vida adulta tentando libertar o povo do capitalismo e não consegui. Por que eu gostaria de que os pósteros se lembrassem disso?

Quanto às contradições do Chico Buarque, elas serão inevitavelmente lembradas, por tratar-se de um artista.

A fama o beneficiou em muitos aspectos, mas também o colocou na vitrine o tempo todo. E quem tem espírito crítico e não endeusa nem se deslumbra com meros seres humanos, iguais aos outros, só por terem algum talento diferenciado, sabe fazer a distinção entre a imagem que um artista projeta no pleno domínio de sua arte e o caráter que demonstra ter (ou não ter) em circunstâncias que escapam do seu total controle.

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