segunda-feira, 10 de junho de 2019

COMO ÓLEO NA ÁGUA, AS IDÉIAS MARXISTAS CONTINUAM VINDO SEMPRE À TONA – 1

Afirmação de Marx em 1879, aos 61 anos
dalton rosado
AS TESES IRREFUTÁVEIS
DE KARL MARX
Nenhum pensador sobre economia é tão atual quanto Karl Marx. Suas principais teses sobre a dita cuja, todas críticas, ainda que duramente contestadas pelos defensores da sociedade do capital, permanecem válidas e sendo cada vez mais confirmadas pelo desenrolar dos acontecimentos. 

Considero que as teses políticas de Karl Marx não têm a mesma consistência das suas teses econômicas. Aliás, há contradições entre elas, o que não significa que devamos rejeitar a crítica da economia política marxiana em razão dos equívocos de proposições políticas pouco consistentes do marxismo tradicional (o qual não pode ser dissociado do leninismo, que adiante lhe daria forma detalhada). 

O marxismo-leninismo sempre foi bom em guerra de movimento (de conquista do poder), mas falho em guerra de posição (realização do sonho comunista), motivo pelo qual não sobreviveu à corrosão implacável da história.

Por seu turno, a crítica da economia política marxiana permanece cada vez mais confirmada por essa mesma história. Os críticos do marxismo se aferram ao marxismo tradicional na impossibilidade de refutarem consistentemente as teses marxianas da crítica da economia política.

Não é por menos que o capitão presidente Boçalnaro (e outros ignaros) tenta relacionar todos os movimentos de reconhecimento de direito da sociedade civil como o caminho da bolivarização venezuelana, por ele citada como mantra para qualquer situação.
"nenhum pensador sobre economia é tão atual quanto Marx"

O marxismo tradicional, mesmo quando bem intencionado, quedou perante as imposições fetichistas e ditatoriais da mediação social da forma-valor, na qual todas as relações de produção se dão a partir da produção da mercadoria (tudo nela é mercadoria, principalmente a força de trabalho do Estado dito proletário), bem como todas as nossas emoções, em maior ou menor grau, estão contaminadas por sua interveniência nefasta. 

A crítica da economia política é exatamente o contrário do marxismo-leninismo, já que nela a primeira tese levantada é a crítica da mercadoria, por vezes tida como incompreensível pelos próprios marxistas e tratada como devaneios filosóficos sem maior importância. 

Tal tese se encontra logo no primeiro capítulo d'O Capital, sua obra principal, derivada  dos Grundrisse (que, embora sejam rascunhos dos estudos sobre a crítica da economia política –portanto, um livre pensar de reflexões sem obrigação publicitária– são indispensáveis para o aprofundamento desta questão). 

A guinada do pensamento de Marx se deu quando começou a estudar a essência dos mecanismos sob os quais se funda o capitalismo, estudos esses que ele iniciou ainda jovem, com 26 anos, ao escrever os Manuscritos Econômico-Filosóficos em 1844.

Ali se encontram os primeiros esboços de Marx sobre o significado do salário e do trabalho alienado, do lucro do capital, da renda da terra, da propriedade privada, das relações comunistas, ainda sem a profundidade a que ele só chegaria anos mais tarde.  
A heroica Comuna de Paris: primeira tentativa da humanidade de livrar-se dos grilhões do escravismo
Na juventude, Marx se dividia entre o político revolucionário e o cientista capaz de perscrutar a essência das relações de produção capitalistas e sua negatividade.

A Europa vivia os tempestuosos momentos das transições monárquico-eclesiásticas feudais para o republicanismo iluminista burguês que parecia revolucionário (e o era em relação ao absolutismo feudal) ao mesmo tempo em que fervilhavam as ideias dos socialistas utópicos Pierre–Joseph Proudhon, Charles Fourrier, Saint-Simon, Robert Owen e outros, tendo a França como cenário icônico das transformações derivadas das marchas e contramarchas da revolução republicana francesa do final do século 18.

O sentimento revolucionário de então envolveu Marx e Engels de tal forma que a ação política requeria ações imediatas num quadro de capitalismo ascendente, e que, diante das agruras relativas a esse momento de transição, terminou por desembocar na Comuna de Paris em 1871, como primeira tentativa da humanidade de livrar-se dos grilhões do escravismo. 
As condições conjunturais demonstraram cedo a força das correntes conservadoras do poder; a inconsistência dos rumos a serem tomados diante da dubiedade de proposições revolucionárias desembocou numa tomada de poder abrupta; e o movimento revolucionário comunista foi logo sufocado.
Por Dalton Rosado
Mas, a obra de Marx não foi escrita para um espaço de tempo imediatista, razão pela qual ele afirmou nos Grundrisse que, quando a tecnologia aplicada à produção mercantil atingisse um estágio de desenvolvimento que prescindisse em maior parte do trabalho assalariado, isto faria voar pelos ares de toda a lógica capitalista fundada nessa base reduzida. 
(continua neste post)

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi Dalton.
Você está devendo a análise do crescimento da China e da Alemanha pós segunda guerra. E agora também tem que explicar o desenvolvimento capitalista do Vietnan...
Como disse o L F Veríssimo: o Brasil deveria começar pela última fase do socialismo que é quando se admite que ele não funciona. (algo assim)
Forte abraço nobre teórico.

celsolungaretti disse...

Caro leitor anônimo,

em vários artigos já me referi ao crescimento econômico da China fundado em salários escravos; aceitação de indústrias estrangeiras de alta tecnologia; endividamento preocupante (até o FMI já se referiu a esse risco, posi a China tem dívida pública e privada de cerca de 250% do PIB); e prática de comércio internacional que inclui todo tipo de manipulação, que vai desde o não pagamento de patentes, royalties, controle do câmbio, impostos e outras medidas próprias a uma guerra mercadológica que não vai terminar bem.

Tudo na China corresponde a medidas que visam salvar da fome parte da sua população de 1,4 bilhões de habitantes obrigadas a viver sob um regime político fechado e de capitalismo aberto forçado pela necessidade, vez que não aderiu a relações de produção fora da lógica do valor ainda sob Mao Tse-Tung.

Entretanto, agora já se começam a sentir os efeitos do limite de crescimento econômico diante do limite do consumo mundial e da retaliação econômica de outros países. A redução do crescimento da China deverá provocar a maior crise do sistema financeiro e monetário mundial a história.

Quanto à Alemanha, podemos afirmar que se trata de um país predominante na Europa que soube aproveitar a briga da guerra fria entre União Soviética e Estados Unidos para juntar os cacos e desenvolver o seu alto saber tecnológico na produção de mercadorias especiais, de alto valor agregado, e se tornar a ilha de prosperidade numa Europa que a cada dia se mostra mais inadaptada à realidade da concorrência de mercado mundial. Excluindo-se a Alemanha, o culto povo Europeu agora enfrenta altos níveis de desemprego e dívida pública, e muitos dos seus países sofrem com a desigualdade dos níveis de produção sob uma moeda comum (o euro da União Europeia).

O Vietnã demonstra apenas que há sempre alguns tigres asiáticos que se dão bem em suas práticas capitalistas mesmo em meio à miséria do grande e populoso continente asiático que abriga realidades geopolíticas bem diferenciadas. Não se pode avaliar o todo pelo particular.

O socialismo, tido como a antítese do capitalismo, nada mais é do que uma variante política capitalista com forte intervenção estatal, ou seja, é espécie de um mesmo gênero.Nos países ditos socialistas estão presentes todas as categorias capitalistas, e é por isso que não funciona, porque querem que o pé de laranja produza manga. A China compreendeu as regras do jogo desde Deng Xiaoping, a aderiu de vez ao capitalismo e está sob o risco de uma hecatombe que abalará o mundo,

A antítese do capitalismo não é o socialismo político com regras de produção mercantis, mas a abolição de todas as categorias capitalistas, a começar pelo trabalhador assalariado, passando pelo trabalho abstrato produtor de mercadorias e da própria mercadoria (expressões materializadas da forma valor, ou seja, do capital).

Todo o resto vem por consequência. Socialismo é sinônimo de uma forma de capitalismo, e somente uma sociedade emancipada, com relações de produção comunistas é que nos tirará do atoleiro em que nos encontramos mundialmente (todas as sociedades mundiais são capitalistas, inclusive Cuba e Coreia do Norte, por praticarem relações mercantis de produção social).

Um abraço e obrigado pela solicitação de comentário, Dalton Rosado.

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