quarta-feira, 15 de maio de 2019

TITANIC DE BOLSONARO ENCARA UM ICEBERG: A APURAÇÃO DAS MILÍCIAS!

O caso Marielle Franco é a ponta de um iceberg que ameaça cada vez mais o Titanic de Jair Bolsonaro. O presidente não exagerava quando falava em tsunami contra si no horizonte.

Segundo uma alta autoridade do Ministério Público Federal, com acesso parcial ao que está sendo apurado no inquérito que analisa os elos entre a família Bolsonaro e as milícias do Rio, o potencial destrutivo do que vem sendo analisado é enorme.

Isso foi dito por essa pessoa a um político em Brasília sem ligação nem com Bolsonaro, nem com a oposição. Ele se disse estarrecido pelas possibilidades que a investigação abre contra a imagem da família imperial, digo, da família presidencial brasileira.

Por que Marielle? Porque a investigação sobre as milícias surge e se sobrepõe à apuração sobre a morte da vereadora, fuzilada com seu motorista no ano passado.
"ligações com pessoas suspeitíssimas do submundo miliciano"

O esforço político-policial para melar o trabalho acabou levantando suspeitas federais, que ajudaram a driblar as barreiras locais e estabelecer pontos de ligação relativamente óbvios: é claro que o assassinato teve a ver com milícias.

Isso não quer dizer, como já inunda as redes sociais à esquerda, tão odiosas quanto as governistas, que os Bolsonaros tenham qualquer coisa a ver com a morte. 

Mas foi aberto um baú de sortilégios sobre as ligações do gabinete do então deputado estadual Flávio, hoje senador, com pessoas suspeitíssimas do submundo miliciano —e, aí sim, com ligação sendo apurada com o notório assassinato. Não fica muito pior que isso, em termos de imagem.

O argumento bolsonarista de complô enquanto o país se desvia de discussões econômicas não para em pé. É queixar-se da qualidade das músicas tocadas pelos violinistas do Titanic numa etapa avançada de naufrágio, até porque hoje o problema da alquebrada economia brasileira passa justamente pelo risco político estimulado pelo governo. 
"metades quebradas da placa pendem sobre o governo"

O papel de Sergio Moro, candidato a viúva Porcina [alusão à personagem da telenovela Roque Santeiro, de 1985, que se fazia passar por viúva de um santo e lucrava muito com a maracutaia, mas o dito cujo volta e a cidade fica sabendo que ele não estava morto, não era santo, nem marido da espertalhona] do Supremo, é central no desenrolar dos fatos.

É dele a chave do cofre dos segredos que a Polícia Federal vem acumulando e analisando desde que o Ministério da Segurança e a Procuradoria-Geral da República determinaram o pente-fino na confusão do inquérito de Marielle.

Como se vê, as metades quebradas daquela placa em homenagem à vereadora por um agora deputado bolsonarista do Rio seguirão, por um bom tempo, pendendo como lâminas de Dâmocles sobre o governo. (por Igor Gielow)
.
Toque do editor – Uma reflexão interessante que me ocorreu após ler o esclarecedor artigo do Gielow foi a de que o destino parece ter concedido a Sérgio Moro uma chance para fazer limonada com o limão do Bolsonaro.
"agora a perspectiva para Moro é a pior possível"

Sua trajetória vinha sendo estrategicamente perfeita (não é qualquer juiz de 1ª instância que consegue ir tão longe e subir tão depressa como ele!) até aceitar o convite para integrar o ministério de um governo cuja atuação ele (tanto quanto os militares) não poderia imaginar quão medíocre, patética e desastrosa viria a ser.

Então, com a insídia de Bolsonaro ao anunciar desde já que o indicará para o STF assim que vagar uma cadeira, a perspectiva para Moro é a pior possível: ficar 18 meses se desgastando como ministro de um governo  cuja impopularidade tender a crescer cada vez mais e se desmoralizando para agradar aos parlamentares dos quais dependerá a aceitação ou não da indicação presidencial.

Mas, e se ele passasse a agir como um verdadeiro ministro da Justiça, determinando a apuração rigorosa do rosário de delitos das quais Bolsonaro, filhos e ministros são suspeitos? É óbvio que sua exoneração seria só questão de tempo, mas, com isto, ele desvincularia sua imagem da do trem fantasma bolsonarista e poderia posar de novo como o justiceiro que afronta poderosos.
"depois do Bessias, não o podemos subestimar"

Seria trocar um posto que neste instante lhe está sendo altamente desvantajoso e uma perspectiva longínqua que poderá não vingar por uma volta com força total à condição de presidenciável com apreciáveis chances de vitória em 2022. 

Resta saber se tal ficha cairá para ele (não sou vaidoso a ponto de acreditar que o Moro tomará conhecimento destas mal traçadas linhas) e se ele seria capaz de fazer uma jogada tão arriscada, mesmo estando num mato sem cachorro. 

Mas, depois do episódio do Bessias, não o podemos subestimar... (por Celso Lungaretti)

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