Na tarde desta 4ª feira (15), estarei no vão do Masp apoiando a greve nacional dos professores contra a reforma da Previdência.
Porque será um marco do redespertar da sociedade civil, após quatro meses e meio de hibernação enquanto uma horda de toscos ignaros esforçava-se por produzir um dos piores retrocessos civilizatórios jamais vistos neste país.
Porque os estudantes finalmente estarão voltando às ruas em vários estados para defender o direito de adquirirem conhecimentos e desenvolverem sua capacidade crítica, sob ataque de fanáticos retrógrados, obcecados em anular o iluminismo e tudo que veio depois (ademais, tão ignorantes que não seriam sequer capazes de enunciar com tal clareza seus verdadeiros propósitos, comprovando pessoalmente a falta que uma educação de verdade faz aos seres humanos... e mesmo aos desumanos!).
E porque já passou da hora de começarmos a mostrar à nossa sociedade que a reforma da Previdência, tal como foi arquitetada pelos poderosos e está sendo trombeteada de forma massacrante pela indústria cultural, é não só extremamente injusta para com os brasileiros que nem após uma vida de trabalho terão direito a um mínimo de tranquilidade e bem-estar na velhice, como repousa sobre uma vil falácia: com ou sem ela, o crescimento do nosso PIB continuará sendo incipiente e insatisfatório, nesta fase de esgotamento do modelo econômico aqui adotado!
Eu era um jovem de 17 anos quando, na primeira semana de abril de 1968, o movimento estudantil voltou às ruas em todo o Brasil, protestando contra o assassinato do secundarista Edson Luís de Lima Souto por policiais militares do Rio de Janeiro, em meio a um prosaico protesto contra o aumento do preço das refeições num restaurante para estudantes de baixa renda.
Desde o golpe de 1964, a manifestação mais ousada dos estudantes havia sido a chamada setembrada de 1966, fortemente reprimida. Então, foi com muita cautela que os manifestantes nos espalhamos por vários locais do centro bancário da capital paulista, fazendo hora discretamente ou nem tanto, até que uma linha de frente pôs-se em movimento, gritando várias vezes a palavra de ordem O povo na passeata!.
E nem sei durante quanto tempo –uma hora? creio que não mais do que isto, embora nos parecesse uma eternidade– percorremos aquelas ruas dedicadas principalmente às operações financeiras, sob uma chuva de papel picado que despencava dos prédios de escritórios. A simpatia dos funcionários nós conquistáramos!
Finalmente, lá fomos nós para a USP discutir se havíamos acertado ao moderar nossos slogans (Mataram um estudante! Podia ser seu filho!) ou deveríamos ter sido mais incisivos (p. ex., O povo, na luta, derruba a ditadura!, que daquela vez foi vetada, mas em muitas outras ocasiões ecoaria nas ruas).
Não poderíamos imaginar que havíamos ajudado no parto do ano mais libertário da história recente brasileira.
Estarei me deixando levar pela nostalgia, ao acalentar a esperança de que a manifestação de amanhã venha a ser também um divisor de águas entre a prostração com uma grande derrota e um revigorado ânimo para darmos a volta por cima, pondo fim a este halloween extemporâneo e reinscrevendo o Brasil no concerto das nações civilizadas?
Talvez. Mas, de que valerá meu resto de vida se não acreditar que sim, que amanhã vai ser outro dia, que a História não tem fim nem acaba tão mal?
Talvez. Mas, de que valerá meu resto de vida se não acreditar que sim, que amanhã vai ser outro dia, que a História não tem fim nem acaba tão mal?
Por isso estarei lá. E conclamo os melhores seres humanos –lúcidos, dignos, compassivos e corajosos– a participarem do ato da avenida Paulista e das manifestações congêneres que terão lugar em várias cidades brasileiras. (por Celso Lungaretti)
Nenhum comentário:
Postar um comentário