terça-feira, 9 de abril de 2019

PRETENSOS REPRESENTANTES DE DEUS, DESPREZANDO A VERDADEIRA MENSAGEM DO EVANGELHO, SE UNIRAM COM O MAL.

Silas Malafaia, olvidando que o reino de Deus "não é deste mundo"
rui martins
A INFLUÊNCIA DE DEUS NA ELEIÇÃO DE BOLSONARO
Talvez se possa dizer ter sido Deus quem elegeu Jair Bolsonaro presidente. Usando-se o algoritmo para se poder entender a conjugação de uma coisa tão temporal, restrita e finita como uma eleição (mesmo sendo presidencial) com um personagem divino atemporal, universal e infinito, o resultado pode ser surpreendente.

Das complicadas equações envolvidas numa eleição, o mais importante é o resultado final e suas determinantes. Ora, sabemos ter sido da ordem de 10% a vitória de Bolsonaro sobre Fernando Haddad (*) e, como disse Jacques Wagner na época, Ciro Gomes poderia ter ganhado se fosse o candidato único da esquerda.

Talvez porque houvesse outro fator, até hoje pouco explorado pelos analistas, na vitória bolsonariana. O fator divino

Não que Deus tivesse descido dos céus para influir ou fraudar o resultado das eleições, mesmo porque até hoje, que eu saiba, ninguém provou sua existência. Mas foi o uso abusivo e despudorado da influência da segunda pessoa da Santíssima Trindade, quero dizer de Jesus Cristo, na campanha eleitoral. Principalmente pelos seguidores do Evangelho, pregado há 2 mil anos pelo filho de Deus. 
Petistas também já foram atrás do apoio evangélico

Refiro-me aos chamados evangélicos, praticantes de uma seita muito parecida com as denominações protestantes, porém delas se diferenciando por adotar uma bem livre interpretação das Sagradas Escrituras como é também conhecida a Bíblia. Seus pregadores também não têm a formação teológica dos pastores ou reverendos protestantes presbiterianos, metodistas ou batistas.

Inspiram-se diretamente do livro bíblico Atos dos Apóstolos, no qual se diz que o Espírito Santo desceu como línguas de fogo sobre os seguidores do Cristo crucificado, fazendo-os falar línguas estrangeiras (imagino o latim dos ocupantes romanos na Palestina). 

Embora no Brasil só se fale o português, é comum nos cultos os pastores também falarem idiomas estrangeiros ou estranhos e deixarem recados para os fiéis, mas em português, respondendo individualmente às expectativas de cada um nessas manifestações coletivas.

Originárias dos Estados Unidos, as seitas evangélicas obtiveram um grande sucesso na América Central e têm atualmente uma expressiva penetração no Brasil. Ao contrário dos movimentos sociais interessados em mobilizar o povo em busca de justiça social, os pastores evangélicos enfatizam o reino dos céus que, garantem, mas sem recibo, estar destinado aos crentes

Cansados da luta terrena da vida, sem grandes chances de ascensão social e um tanto ingênuos, os fiéis embarcam nessas promessas de uma vida melhor, mas só depois da morte.
Trabalho infantil no início da Revolução Industrial

Com isso, apagam o estopim da luta social. Para historiadores de formação metodista, a Inglaterra, onde começou a Revolução Industrial, não viveu algo parecido com a Revolução Francesa graças ao pregador John Wesley. 

A revolta que poderia brotar dos baixos salários e da miséria retratada pelo escritor Charles Dickens acabou sendo evitada, canalizada para uma prática conformista do cristianismo. 

O clima religioso entre os pobres na Inglaterra, já no século XIX, foi bem mostrado pela escritora George Eliot, precursora do feminismo inglês, no livro Silas Marner.

No Brasil, o surto do evangelismo se manifestou ainda na década de 1950, com pregadores da chamada cura divina, missionários estadunidenses cujas pregações eram feitas com intérpretes. Em cerca de dez anos, formaram-se os pregadores brasileiros, substituindo os precursores. Ainda no fim dos anos 50, surgiram os programas de rádio e televisão de pregação e doutrinamento, cujo sucesso levou à compra de emissoras de rádio e TV, que passaram a transmitir programação evangélica.

O dinamismo dos evangélicos com suas pregações e propostas minimalistas surpreendeu o clero católico conservador. Encontrou um terreno fértil e começou a se alastrar nas camadas populares, com maior aceitação que as mensagens sociais e políticas das lideranças jovens católicas da Ação Popular
Hoje com 78 anos, o pai do ex-ministro Padilha foi vítima da perseguição da ditadura militar a religiosos
O Golpe de 64 extirpou das igrejas católicas o espírito renovador iniciado pelo Papa João XXIII e criou o clima para a propagação das mensagens conformistas de um outro Evangelho, o da humildade e da sujeição ao poder político.

Paralelamente, nas igrejas protestantes tradicionais, presbiterianas, metodistas, batistas, a repressão teve o apoio de suas lideranças pra afastar dos púlpitos qualquer mensagem de Evangelho social. A mais marcante intervenção ocorreu na Igreja Presbiteriana, dirigida pelo reverendo Boanerges Ribeiro, ligado aos fundamentalistas estadunidenses. Seminários foram fechados, seminaristas expulsos, nos chamados Inquéritos Policiais Militares instalados nas igrejas.

O conhecido pastor James Stuart Wright foi também vítima de tal depuração e precisou ir trabalhar no secretariado do cardeal-arcebispo de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns. Esta extraordinária aproximação ecumênica permitiu a elaboração do importante documento contra a repressão e tortura Brasil Nunca Mais.
"Foi um milagre: evangélicos negros não souberam do racismo do seu candidato"
Na contracorrente do Evangelho social, já com pastores nacionais no lugar dos estadunidenses, os evangélicos se tornaram uma força religiosa, logo depois transformada em força política, conservadora e reacionária. 

Identificando em algumas das declarações do deputado Jair Bolsonaro os temas de suas próprias pregações, mais o fato de ser casado com uma de suas fiéis, as lideranças evangélicas viram nele a oportunidade de levarem suas igrejas e mensagens ao poder. Seria uma espécie de governo teocrático não declarado.

Assim, muito antes das eleições, o rebanho evangélico começou a ser preparado para cumprir o desejo de Deus de levar Bolsonaro à direção do país. A doutrinação foi bem sucedida, o rebanho garantiu a diferença sobre Fernando Haddad. 

Foi um verdadeiro milagre, pois os evangélicos negros não souberam do racismo do seu candidato e nem as mulheres tomaram conhecimento de sua misoginia. Assim como todos ignoraram suas declarações pelo uso da violência, em oposição aos ensinamentos dos Evangelhos.
por Rui Martins

Hoje as lideranças evangélicas parecem decepcionadas, pois não chegaram ao poder como esperavam. Seria um castigo de Deus às suas ambições? Ou por também justificarem os crimes, torturas e perseguições dos anos da ditadura? 

Uma coisa é certa, se Deus existe, nada tem a ver com seus pretensos representantes que, ignorando a verdadeira mensagem do Evangelho, se uniram com o Mal. 

* Observação do editorno 2º turno da eleição presidencial de 2018, Jair Bolsonaro obteve 57.797.847 votos, contra os 47.040.906 de Haddad, num universo de 147.305.155 eleitoresEste blog entende que a vitória de Bolsonaro se deu por 39,2% x 31,9% dos votos possíveis.

À medida que Bolsonaro se comporta, no governo, como se tivesse recebido um aval das urnas para passar por cima da Constituição, das leis e dos demais Poderes da República, é importante lembrarmos que, verdadeiramente, 60,8% dos brasileiros não o escolheram. 
                                                                   (por Celso Lungaretti)

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