(continuação deste post)
São repulsivos os atentados que têm meros civis como alvos |
— o fundamentalismo religioso do Boko Haram (tradução: a educação ocidental é pecaminosa) da Jirah Islâmica (guerra santa muçulmana) e da Al Qaeda (apelo à base);
— o transbordamento das barragens de Mariana e Brumadinho;
— as mortes por desabamentos em áreas de moradias de risco;
— as dezenas de morticínios causados por franco-atiradores nos Estados Unidos;
— o morticínio congênere numa escola de Suzano, na grande São Paulo;
— os frequentes atentados terroristas na França, Alemanha, Inglaterra, Holanda, Espanha, Itália e outros países;
— o recente atentado congênere na Nova Zelândia, que causou a morte de 50 pessoas;
— a destruição das torres gêmeas do WTC em Nova York;
— as agressões e assassinatos dos supremacistas brancos da ku-klux-klan;
— o assassinato da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson;
— as declarações públicas de apoio à legalização de grupos paramilitares como as milícias do RJ;
— a retórica belicista e inconsequente (como a do Boçalnaro, o ignaro em 1999, quando lamentou que o regime militar não tivesse matado 30 mil opositores, incluindo o depois presidente FHC), que encontra guarida em muitas mentes sociais ingênuas;
Um governador de SP prometeu que, após despoluir o Tietê, nadaria em suas águas. Virou piada |
— a poluição da Baía de Guanabara, um dos mais belos cartões postais do mundo (quando visto de cima, porque de muito perto a realidade é repugnante);
— o ecocídio mundial;
— as mortes de migrantes ao tentarem chegar às ilhas de prosperidade capitalista (já em fase de decadência) ou mesmo quando já estão no interior destas, etc., etc., etc.
O ponto comum a todos esses episódios aparentemente desconexos é um nexo causal configurado no espetáculo abstrato, mas tornado real pela forma-mercadoria que tomou todos os poros das sociedades mundiais e, justamente por ter chegado ao seu limite interno absoluto de expansão, acentua a miséria social milenar e a idiossincrasia, provocando a inversão do que seja o melhor exemplo de sociabilidade e formatando criminosos que se consideram heróis midiáticos.
Causa mortis de todas as vítimas da Vale: a lógica do lucro! |
O que faz jovens socialmente desajustados se vestirem de combatentes militares heroicos é a necessidade de se mostrar como tal perante a sociedade na qual está inserido e da qual se considera injustamente excluído, como se deu na escola de Suzano, SP.
O que faz uma empresa como a Vale do Rio Poluído deixar de tomar as providências necessárias à segurança populacional e ecológica é a mesma lógica do lucro que promove a injustiça social segregacionista.
O que leva alguém a cometer suicídio detonando bombas atadas ao seu próprio corpo, pretensamente sob a alegação de que será premiado no céu com um harém de virgens à sua disposição, é a inconformidade com uma vida social insuportável imposta pelo fundamentalismo religioso.
O que polui rios e mares e provoca o aquecimento global (atestado pela maioria dos cientistas, mas negado por dirigentes políticos ancorados um nacionalismo capitalista anacrônico e perigosamente genocida), é a incapacidade sistêmica de convivência harmoniosa com a natureza, por parte de uma sociedade que age irracionalmente seja do ponto de vista institucional ou social.
"necessidade de autoafirmação numa sociedade excludente" |
— necessidade de autoafirmação numa sociedade excludente, com a utilização de mecanismos e atitudes pretensamente heroicas para concretizar-se aquilo que, no desvario mental dos seus agentes, é tido como ação redentora;
— a positivação dos valores ocidentais equivocados, nas quais preponderam a afirmação supremacista do elemento branco e masculino; e
— o fundamentalismo religioso, que entra em muitos casos como pano de fundo de outras idiossincrasias.
Podemos concluir, portanto, que o que está na base de comportamentos que representam revoltas insanas, injustificáveis,ou tragédias ecológicas, é explicável.
Em Brumadinho e Mariana as mortes e a poluição dos rios são lamentadas tanto quanto a redução de impostos e empregos causados pelo rompimento da barragem. É que a dependência de todos à lógica de reprodução do valor os torna escravos do mal em si.
Entes do sistema não podem contestar a lógica do próprio sistema |
Não é de estranhar-se, portanto, que haja pessoas sentindo-se impelidas a agir compulsiva e irracionalmente, de modo suicida, diante de quadro social tão dantesco.
No interior mais recôndito do pensamento sempre fica depositada a indagação sobre o porquê da dependência nociva das pessoas em geral a todo esse status quo negativo existente, sem que elas encontrem respostas plausíveis.
Estas não lhes são oferecidas pela mídia, nem pelo sistema educacional & academia, muito menos pelo segmento político, pois todos eles não contestam (nem podem contestar) a lógica que está subjacente aos conceitos por eles positivados e emitidos.
Estas não lhes são oferecidas pela mídia, nem pelo sistema educacional & academia, muito menos pelo segmento político, pois todos eles não contestam (nem podem contestar) a lógica que está subjacente aos conceitos por eles positivados e emitidos.
A constatação da irracionalidade da sociedade da mercadoria deve nos conduzir à sua contestação racional, teoricamente substantiva e humanamente solidária, como única forma de nos conduzir à superação dos nossos problemas sociais, e não à prática de atos de justicialismos baratos, rebeldias insanas e abjetas que não levam a nada.
A barbárie social, como efeito e não como causa, é ao mesmo tempo a resultante e o combustível do arbítrio, dos atos de terrorismos e das tragédias decorrentes. (por Dalton Rosado)
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