sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

PORQUE NÃO DEVEMOS GOVERNAR, NEM ALMEJAR O PODER (1ª parte)

"O desenvolvimento das forças produtivas, suscitado pelo próprio capital em seu desenvolvimento histórico, alcançado certo ponto, suprime, em lugar
de pôr, a autovalorização do
capital" (Karl Marx)
Antes de analisar as razões pelas quais o capitalismo demonstra ter atingido aquilo que Karl Marx previu em seus estudos da crítica da economia política, qual fosse o limite de sua capacidade de expansão, prenunciando um colapso (em termos de tempo histórico), esclareço que parto de duas premissas:
— a negação do poder burguês decrépito, bem como de qualquer tipo de poder verticalizado, estruturado, estatal; e
— a inexistência de qualquer propósito de nele nos inserirmos como contrapoder, seja na qualidade de coadjuvante ou na de protagonista. 

O Estado e seu segmento político institucional mais não são do que serviçais do capital, a grande forma de relação social a ser superada. 

Muitos dos que criticam Marx sem conhecê-lo não sabem por que, depois de mais de um século e meio, os seus escritos se mantêm tão atuais. Esta singularidade merece ser aprofundada e compreendida (ainda que muitos prefiram ocultá-los como se fossem versículos satânicos).  

Mesmo boa parte dos que se dizem seus adeptos demonstra também desconhecê-lo, aplicando seus ensinamentos das formas mais equivocadas. Trata-se de uma deturpação nociva que devemos desaconselhar e combater, porque diminui a eficácia da teoria marxiana como agente de transformação da sociedade, além de a desacreditar perante as massas. 
"muitos aplicam seus ensinamentos das formas mais equivocadas"

Devemos afirmar incisivamente que participar da estrutura governamental do estado é contribuir para o adiamento da morte do capitalismo, seja pelos esforços administrativos no sentido de sua salvação (a sabotagem é ainda mais suicida) que tende a viciar, acomodar e corromper, seja pelo inevitável desgaste que isso proporciona.

Deixemos que os segmentos políticos, nos seus mais variados matizes ideológicos, administrem a falência daquilo que lhes pertence (o Estado burguês e sua política); e que sejam eles a arcarem, mesmo que no longo prazo, com o desgaste inevitável da insatisfação popular. 

A nós cabe a tarefa de denunciar os porquês da miséria social e o ecocídio resultante da debacle capitalista, antes que seja tarde. 

Mas, passemos à evidência de fatos atuais que estão contidos na crítica da economia política do Marx esotérico.
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AS EVIDÊNCIAS INEGÁVEIS DA SATURAÇÃO DO MODO DE RELAÇÃO SOCIAL CAPITALISTA – Há uma situação de insustentabilidade da lógica de produção do valor que está provocando alguns fenômenos claramente visíveis. São eles: 
a) o desemprego estrutural;
b) os endividamentos público (a falência do Estado) e privado insolvíveis; 
c) a concentração da riqueza;
d) a queda do PIB mundial e a redução da taxa e da massa global de valor; 
e) a criação permanente de bolhas financeiras (lembrar, p. ex., a crise da subprime, na década passada);
f) a hipossuficiência da política;
g) a crise ecológica com as suas duas dimensões;
h) o aumento da fome no mundo; e
i) o processo migratório mundial. 
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Cada um desses fenômenos político-econômico-sociais tem uma razão específica e uma conexão de base. Especifiquemos cada um deles.
a) o desemprego estrutural – a única forma de produção de valor (dinheiro e mercadorias) é a via do trabalho abstrato (trabalho vivo, força de trabalho) remunerado por valor e produtor de valor).

Entretanto, impulsionado pela necessidade da autovalorização permanente que lhe empresta credibilidade e vida, o capital precisa da circulação de mercadorias que se digladiam no mercado em busca da própria hegemonia. Tal busca de hegemonia se traduz na guerra concorrencial de mercado.
Por sua vez a hegemonia de cada mercadoria no mercado depende de dois fatores: valor reduzido (que implica preço reduzido, o qual é conceito diferente de valor, embora possa com ele coincidir) e qualidade. 

A redução do valor somente pode ser adquirida com o aumento da produtividade, que tem na necessidade permanente de investimento em capital fixo (equipamentos e instalações) a sua maior condicionante. 

Mas, cada vez que a introdução de uma nova máquina propicia o aumento da produtividade na produção da mercadoria, reduz-se a necessidade do emprego da trabalho abstrato e da massa de valor coagulado nessa mesma mercadoria.

Assim, cada vez que se aumenta a produtividade da produção de mercadorias é reduzida a massa global de valor e de extração de mais-valia, criando um impasse intransponível para a irrigação da economia por essa base acanhada (a redução da reprodução aumentada do valor, sem a qual toda a economia entra em colapso.)

Os economistas liberais e os leigos em economia admitem que sempre que se reduz um nicho de empregabilidade pelo uso das máquinas surgem alternativas capazes de promover o equilíbrio; ademais, ponderam que o barateamento das mercadorias pelo aumento da produtividade proporciona uma redução de custos, de valor e de preço, que as torna acessíveis às massas. 
A França novamente sacode a pasmaceira do status quo

Tal argumento somente é verdadeiro quando a expansão do mercado se dá numa proporção capaz de suprir o desemprego social setorizado (ainda assim, gerando desigualdades sociais abismais!). Ademais, esse suprimento relativo de empregos, que deixa um rastro de mortes e exclusão entre as massas sediadas nos países importadores de manufaturados, somente foi possível na fase de ascensão capitalista. 

Entretanto, chegamos num momento em que o alto nível de tecnologia aplicada à produção de mercadorias promoveu um desequilíbrio entre a supressão de empregos e a criação de novos postos de trabalho abstrato, fazendo voar pelos ares toda a lógica de relação social baseada na forma-valor (Marx).  

De resto, quem não ganha salário nenhum não pode suprir nenhuma necessidade de consumo de mercadorias e serviços, por mais baratos que sejam. Isto já foi provado estatisticamente, não comportando discussão sobre os seus números. Basta ver o nível de desemprego da culta União Europeia e seu alto nível de produtividade (a crise da cobrança de impostos e da previdência social na França dos coletes amarelos que o diga). 

Nos países periféricos como o Brasil, a questão de desemprego e subemprego é alarmante, constituindo-se numa fábrica de criminalidade que não se resolve com o armamento da população. Ao invés de se combaterem as causas primárias da criminalidade resolve-se vender armas à população, que serão usadas numa guerra civil contra o banditismo e numa guerra de extermínio de todos contra todos.
Aliás, com a aprovação da posse de armas por particulares em suas residências pelo governo, o lobby da indústria armamentista está eufórico. É incrível como fabricar remédios, que salvam, e armas, que matam, obedecem ao mesmo desiderato: o lucro em fim de feira. (por Dalton Rosado) 
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(continua neste post)

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